A percepção dos usuários com o serviço móvel pessoal, pelo menos em questão de uso de dados, é sempre cética. Mesmo com a maioria da base no País (62,65%) ainda presa ao 2G, é visível que há saturação na rede 3G, o que acaba gerando críticas e muita desconfiança também na hora de migrar para os novos serviços 4G. Até mesmo em São Paulo, maior cidade do País e, teoricamente, com mais disponibilidade e demanda de infraestrutura, a ideia geral é que ter um celular conectado à rede de quarta geração seria sinônimo de frustração. A realidade, entretanto, parece bem diferente.

Com aproximadamente um mês de uso em um iPhone 5S na operadora Vivo, minha experiência de usar o LTE na capital paulista é mais do que adequada. Considerando que é improvável ter cobertura em ambientes fechados, até pela imaturidade da infraestrutura de rede, é surpreendente que o sinal se mostre presente, mesmo que quase nunca com todas as “barrinhas” que indicam a força do sinal no aparelho. Circulando pela cidade nas zonas Sul, Oeste e Norte, a cobertura 4G da operadora funcionou pelo menos 90% do tempo em locais abertos.

Importante lembrar que a frequência do serviço no Brasil, pelo menos até agora, é apenas na faixa de 2,5 GHz. Como se trata de um espectro alto, é necessário ter mais antenas para espalhar o sinal de celular – quanto mais alta a faixa, menor a área de cobertura.

Como o LTE é uma rede de dados (o tráfego de voz continua sendo feito pelo 3G, ao menos no estágio atual da tecnologia no País), fiz diversos testes de velocidade utilizando o aplicativo comum e gratuito do Speedtest.net. Os resultados foram inconstantes, o que é natural por se tratar de uma rede móvel. O ping (tempo de resposta de transmissão de ida e vinda de pacote do terminal até o servidor, em milissegundos) variou de 28 ms a 56 ms. A velocidade de download oscilou fortemente de 11,37 Mbps a 76,61 Mbps, enquanto a taxa de upload foi de 0,37 Mbps a 19,42 Mbps. Na prática, espera-se por uma taxa média de 30 Mbps de download e 5 Mbps de upload, o que é acima da média até se comparado com conexões fixas.

Densidade

Há problemas ainda, naturalmente. Dentro de metrô ou em alguns shoppings, é difícil ter algum sinal de 4G. Os resultados mais baixos nos testes foram conseguidos em lugares de alta concentração de pessoas, como a corrida de Fórmula 1 em Interlagos e na Av. Paulista durante um final de semana de dezembro. Claro que a tendência é que o escoamento de tráfego seja mais complicado com a maior demanda, e isso diz muito sobre o próprio desempenho da rede. Da mesma forma como no início da implantação do 3G em São Paulo, o alto desempenho do LTE em alguns momentos é explicável pelo simples fato de haver pouca gente usando.

A diferença é que, desta vez, mesmo quando a rede tem velocidades baixas, ainda é melhor do que um serviço HSPA+, pelo menos com a Vivo. Uma vez que as operadoras solucionem as áreas de sombra do 4G com alternativas como small cells ou mesmo o offload via Wi-Fi de maneira transparente, a tendência é de que haja uma normalização do serviço. E se contar que o tráfego ainda vai se dissolver entre o EDGE, o HSPA e o LTE, há uma luz no fim do túnel para esperar que seja uma rede mais estável.

Mas uma coisa que as teles precisarão resolver é a forma como vão monetizar os dados. As oportunidades crescem, pois o 4G possibilita o uso e de mais serviços. Só que ter um aparelho LTE para ver páginas estáticas é puro desperdício. Com o limite de dados mensais baixo – no caso da Vivo, o plano mais acessível disponibiliza apenas 2 GB –, não se torna convidativo utilizar serviços over-the-top (OTT) multimídia pesados como YouTube ou Netflix. 

A impressão que fica é que o 4G, ao menos nessa fase inicial, funciona bem, mas com ressalvas de cobertura. E as operadoras precisam entender que não se trata apenas de dar mais velocidade, mas também oportunidade de consumo de conteúdo diferenciado. Afinal, as telas dos smartphones não estão crescendo apenas para permitir a leitura de sites em HTML.