Depois de ter dedicado dois anos a um projeto de app de fotografia chamado Pictastik que acabou não dando certo, uma dupla de jovens empreendedores de Brasília, formada por Pedro Henrique Marques e Paulo Venturi, decidiu mudar radicalmente a sua estratégia: agora querem lançar um novo app móvel a cada um ou dois meses. A proposta é transformar em realidade rapidamente todas as ideias que a dupla tem, sem perder tempo. A inspiração vem do empreendedor holandês Pieter Levels, que se propôs a criar 12 start-ups em 12 meses (lançou oito até o momento). No  caso da dupla brasiliense, a primeira ideia já está no ar: é o Flesy (iOS), app para organização de listas de compras desenvolvido e lançado em apenas um mês e meio. A próxima a sair do papel será o Pinpush (iOS), app para enviar notificações automáticas para amigos com o objetivo de avisar quando se está chegando a um local pré-combinado.

"Por enquanto, trabalhamos part-time nos nossos projetos e não conseguimos, nesse momento, nos dedicar por meses a um projeto mais complexo. Do jeito que as coisas estão hoje (hipercompetição global), ficar meses desenvolvendo um produto significa lançá-lo morto. É importante validar hipóteses, testar conceitos. Por isso, essa estratégica faz sentido para a gente. Sabemos que é uma grande quebra de paradigma e algumas pessoas não concordam", explica Marques, em entrevista por email.

Todos os projetos são simples e não demandam gastos significativos de manutenção ou evolução. Ao mesmo tempo, todos terão alguma forma de monetização, seja publicidade, vendas in-app de funcionalidades premium ou assinatura. O objetivo é que ao fim de um ano os aplicativos criados gerem uma receita suficiente para que os dois empreendedores possam dedicar mais tempo para os projetos que tiverem feito maior sucesso. Vale destacar que são todos apps que resolvem problemas globais, não apenas locais. "Está na hora de o Brasil começar a ser referência (em apps móveis). Começar pequeno não quer dizer que não pensemos grande. E a história das start-ups israelenses mostra que é possível", comenta Marques.

A dupla não adota uma metodologia fixa ou um passo a passo comum para todos os projetos, mas divide bem as tarefas. Marques cuida do marketing, do design e dos negócios, enquanto Venturi é o responsável pelo desenvolvimento em iOS e o back-end. Para se organizarem e trabalharem remotamente, utilizam ferramentas como Trello, Invision, Dropbox e Slack. "Partimos de uma premissa ou problema base e evoluímos a proposta de acordo. Depois disso, claro, vem a fase de conceituação e UI/UX. Tendo isso validado, avançamos para o desenvolvimento em si", relata.

Agora, estão à procura de um terceiro sócio que agregue o desenvolvimento em Android para os seus projetos.

Experiência

Marques não tem vergonha de falar sobre o fracasso do Pictastik, pelo contrário: entende que serviu de aprendizado como empreendedor. "Quando se trata de start-ups, "falhar" é normal. Na verdade, para mim, só não falha quem não tenta. Toda e qualquer tentativa de produzir algo, de criar algo, te traz coisas positivas. Se o seu projeto, por algum motivo, não funcionou (ausência de tração/mercado saturado/modelo de negócios ruim etc), não significa que você não aprendeu coisas. O problema é "falhar" sem ter entendido o porquê", analisa.  Ele publicou em 2013 um artigo em MOBILE TIME relatando seus erros e acertos nesse processo.

E conclui: "O brasileiro médio morre de medo de "falhar" e, principalmente, de ser julgado por isso. Não é segredo que no mercado norte-americano, por exemplo, "falhar" (e continuar empreendendo) é sinônimo de maturidade, perseverança, aprendizado. E você costuma ser bem visto por isso. No momento que entendermos que falhar é normal (e isso é pura estatística; a maioria das start-ups dá errado, aqui ou em qualquer outro país), teremos mais cases de sucesso. Muitas pessoas desistem depois de uma experiência negativa. A gente, não."