No Brasil, o segundo trimestre de 2019 registrou alta de 6,2% nas vendas de smartphones, com um volume de 12,1 milhões de unidades enviadas ao varejo, superando a previsão de queda de 6%. Os feature phones também registraram alta, de acordo com pesquisa realizada pela IDC Brasil. Nos meses de abril, maio e junho foram vendidas 852 mil unidades desses celulares mais simples, crescimento de 34% se comparado com o mesmo período do ano passado. Tal movimento foi visto há três anos, em 2016, de acordo com o estudo IDC Brazil Mobile Phone Tracker Q2/2019, quando foi registrado aumento de 48% nas vendas.

“Nosso forecast não bateu com a sinalização do mercado. No final de 2018, a previsão para os dois primeiros trimestres de 2019 era de queda. Tivemos algumas movimentações que não estavam no nosso radar”, disse Renato Meirelles, analista de mobile phones & devices da IDC Brasil.

Renato Meirelles, analista de mobile phones e devices na IDC

A primeira movimentação foi a renovação forte nos portfólios das fabricantes. A Samsung, por exemplo, que detém 50% do mercado, retirou modelos e introduziu novos. “Foi uma mudança agressiva e puxou a entrada de novos aparelhos de outras empresas”, explicou Meirelles.

O segundo fator que aconteceu foi o otimismo exagerado das fabricantes com relação à melhora da economia e do consumo. “Houve um superabastecimento dos canais”, explicou o analista da IDC. “Só que o consumo não reagiu como o esperado por eles.”

De acordo com Meireles, a entrada de novas marcas, como as chinesas Xiaomi e Huawei, também fizeram o mercado se mexer.

Para completar, o preço médio dos smartphones aumentou, e está em torno de R$ 1,252 mil, resultando em um faturamento de R$ 15,1 bilhão, 15,6% a mais do que no segundo trimestre de 2018. “Vemos uma mudança no comportamento do consumidor. Ele não quer mais um smartphone de R$ 600 ou R$ 700. Ele quer algo mais sofisticado”.

Feature Phones gourmetizados

Com relação ao resultado positivo das vendas dos feature phones,  Meirelles atribuiu à entrada do KaiOS, sistema operacional desenvolvido por uma startup de Hong Kong que recebeu no ano passado aporte de US$ 22 milhões do Google. O sistema operacional é leve, porém capaz de suportar versões de aplicativos encontrados no OS Android, como Google Mapas, YouTube e WhatsApp, além de ser capaz de ter funcionalidades como GPS, NFC, e as redes 3G e 4G (apesar de poucos, ainda). No Brasil, o KaiOS está embarcado em feature phones de marcas como Multilaser, Positivo Technologia e SEMP TCL.

Com a novidade no mercado, o preço do celular aumentou 4% e passou a custar, em média, R$ 132. A receita também cresceu e, no segundo trimestre de 2019, foi de R$ 112,7 milhões, 39,3% maior que no mesmo período do ano passado.

“O KaiOS é voltado para quem não é tão tecnológico, mas precisa do básico que a tecnologia proporciona, como aplicativos de mensageria. Em regiões como o norte e o nordeste, os feature phones são importantes, ainda. Ele também é voltado para um público que não se envolve com tecnologia, como as pessoas mais velhas. Outro ponto importante é que algumas fabricantes estavam sufocadas no mercado de smartphones e viram nos feature phones uma alternativa, apesar de esse mercado ser de apenas 5% no Brasil”, analisou Meirelles.

Próximo trimestre

As previsões da IDC Brasil para os meses de julho, agosto e setembro para os dois mercados – smartphone e feature phone – são bem distintas. Enquanto os smartphones sofrerão queda nas vendas de 1% – devido ao alto estoque no varejo –, os celulares mais simples terão crescimento de 31,4%. Segundo Meireles, as fabricantes deverão ofertar smartphones com preços mais baixos – no segundo trimestre o preço médio subiu 8,9% – e o varejo deve fazer promoções para estimular o consumo e reduzir os estoques.

Reavaliação para 2019 no País

Com os resultados bem diferentes dos esperados, a IDC Brasil reviu suas expectativas para o ano de 2019. A previsão para o mercado de smartphones deve fechar o ano com vendas de 45 milhões de aparelhos no País, queda de 1,3%, pouco melhor do que o saldo negativo de 2,4% inicialmente projetado. Já o setor de feature phones passou de um crescimento modesto de 0,4% para 26,1%, com 3,2 milhões de celulares vendidos no ano.

No mundo

Enquanto no Brasil o segundo trimestre foi surpreendente, gerando resultados positivos, os números globais seguiram a tendência de queda. De acordo com o estudo da IDC, as vendas ao varejo tiveram redução de 2,3% ano a ano no segundo trimestre de 2019. E, apesar do declínio, este é o melhor desempenho trimestral desde o 2T18, de acordo com dados do estudo. Os fornecedores de smartphones enviaram um total de 333,2 milhões de unidades no 2T19, aumento de 6,5% em relação ao trimestre anterior.

Entre as fabricantes, Samsung continua liderando o ranking de vendas, com 75 milhões de smartphones enviados ao mercado, voltando à previsão de crescimento anual de 5,5%. A Huawei conseguiu se manter na segunda posição, apesar de ver os envios de smartphones caírem 0,6% em comparação com o 1T19. O volume de remessa para a China representou 62% do total da fabricante no 2T19, com 36,4 milhões de unidades enviadas.

A Apple, terceira colocada, embarcou 33,8 milhões de novos iPhones durante o 2T19, uma queda significativa em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, quando enviou ao mercado 41,3 milhões.

A Xiaomi experimentou um pequeno declínio ano a ano durante o trimestre, com um total de 32,3 milhões de smartphones enviados. A chinesa ainda enfrenta desafios ao retornar ao crescimento positivo ano a ano na China, em parte devido ao aumento da concorrência da Huawei.