É cada vez mais comum técnicos de concessionárias públicas, como operadoras de telefonia e distribuidoras de energia, carregarem consigo smartphones com apps nos quais acompanham seu roteiro de ordens de serviços e com os quais se comunicam com seus supervisores. O que até poucos anos atrás parecia futurístico daqui a pouco vai se tornar coisa do passado. A próxima tendência em automação de equipes de campo é a utilização de wearable devices, como óculos e relógios conectados, no lugar dos smartphones. O objetivo é simples: deixar as mãos livres para fazer o serviço, além de aproveitar possibilidades relacionadas a reconhecimento de imagem e realidade aumentada, no caso dos óculos. A ClickSoftware, empresa especializada na oferta de soluções de automação de equipes de campo, está se preparando para essa nova fase da indústria e já tem apps para wearable devices. MOBILE TIME conversou por telefone sobre o tema com o vice-presidente de marketing de produtos da companhia, Mike Karlskind.

MOBILE TIME – Que serviços de campo serão mais beneficiados com a adoção de wearable devices?

Mike Karlskind – Em 20 anos que trabalho nesse ramo, a reclamação que mais escuto dos técnicos de campo é ter que atender seu gerente quando está com mãos ocupadas consertando alguma máquina. Antigamente era com o pager, agora é com o smartphone. Os wearables, sejam os óculos ou os relógios, deixam as mãos livres e aceleram o trabalho. Trata-se de uma questão de conveniência e de conformidade. O principal é não usar as mãos. No lugar delas, o técnico usa os olhos, a cabeça, a voz, enquanto as mãos ficam liberadas para o serviço.

A ClickSoftware tem um aplicativo para o Google Glass que inclui realidade aumentada. Como funciona?

Sim. A ideia é conseguir ver informações em um diagnóstico visual. É como o raio-x do Super-homem. Basta olhar um equipamento para receber informações sobre ele, sem mesmo ter que abri-lo. A partir do que se vê talvez se consiga entender qual é o problema, o que torna possível enviar um técnico que sequer seja treinado para aquele equipamento específico.

Esse aplicativo para o Google Glass já foi lançado comercialmente?

Será lançado no terceiro trimestre de 2015. Teremos testes no primeiro semestre do ano que vem.

Quem são os potenciais clientes de uma solução de automação de equipes de campo com Google Glass?

Acredito que seriam empresas que lidam com equipamentos muito caros e que requeiram muito conhecimento, como bens de capital, equipamentos hospitalares etc.

E quanto aos relógios conectados?

Lançamos há três meses um app com a Salesforce.com chamado ShiftExpert, que funciona nos relógios Gear, da Samsung. Trata-se de uma solução de controle e gestão de turnos de trabalho. O gerente da empresa cria a escala de trabalho dos funcionários e pode dispará-la na forma de notificação para os relógios dos técnicos. Estes informam pelo relógio quando começam e quando acabam de trabalhar. E acompanham quaisquer outras notificações pelo relógio. Há algumas respostas simples pré-configuradas no aparelho para que o técnico possa responder rapidamente. Por enquanto está disponível apenas para o Gear Watch, mas em 2015 chegará ao Apple Watch. E depois vamos trabalhar com os demais relógios. O problema é ter que desenvolver para cada um separadamente, embora não seja difícil, pois as funcionalidades são simples.

Alguma empresa já está usando o ShiftExpert?

Já fizemos duas vendas, uma na Europa e outra na Nova Zelândia. Um dos clientes é um serviço de atendimento a vítimas de crimes. Temos por enquanto algumas centenas de usuários.

Que outros wearable devices podem servir para técnicos de campo?

Acho que braceletes e até uniformes. Estamos analisando tudo. Mas inicialmente o principal será o relógio conectado, que ganhará cada vez mais apps. Estamos preparando a adaptação de outros aplicativos nossos para smartwatches.

Prevê uma adoção em larga escala?

A adoção não será rápida rápida. Conversando com nossos clientes, sei que uns dez deles, de grande porte, pretendem comprar wearable devices e adotá-los em larga escala nos próximos dois anos. Eles representarão menos de 5% da nossa base, que hoje é composta por 700 mil usuários distribuídos por cerca de 300 grandes companhias e 13 mil pequenas e médias, ao redor do mundo. Mas depois disso o uso de wearable devices deve crescer a uma taxa anual de 10% a 15%, porque, uma vez adotado, os concorrentes dos nossos clientes vão querer ter também.

Quem são os potenciais interessados em apps nos relógios?

No caso do ShiftExpert, especificamente, ele pode ser atraente para várias verticais e para empresas de quaisquer portes, pois o preço do equipamento é relativamente baixo. Talvez varejistas que queiram que seus vendedores pareçam modernos para os consumidores.

Espera que utilities adotem esses relógios?

O problema é que os modelos existentes atualmente são muito estilosos, porém frágeis. Para concessionárias de serviços públicos seria preciso um modelo mais robusto.

A utilização dos wearable devices vai demandar treinamento por parte dos técnicos. Acha que isso pode retardar a adoção?

Não. Acredito que vai demandar menos treinamento do que as soluções anteriores. Esses aparelhos estão surgindo primeiro no mercado consumidor e só depois indo para o corporativo. Além disso, os técnicos de campo são pessoas cada vez mais jovens. Outra vantagem é que esses aparelhos serão ativados por voz, o que os torna mais fáceis de serem usados. Só será necessário ensinar as palavras-chave. Por fim, boa parte do treinamento poderá ser feito remotamente, através do próprio aparelho.