Recentemente, tenho lido e ouvido bastante a seguinte questão: “não sou programador, mas tenho uma ideia. Como tirá-la do papel?” Hoje, vou contar a minha história (resumida).

Voltemos ao início de 2012. Em uma conversa com o meu irmão, surgiu uma pergunta: “O que está acontecendo, nesse exato momento, em Nova Iorque? Ou no Rio de Janeiro? Ou em Tóquio?”. A resposta foi curta e objetiva: “agora, agora? Não sei”. Nasceu, então, a ideia do Pictastik, um app de compartilhamento de fotos geolocalizadas e em tempo real que te permite estar em qualquer lugar do mundo, instantaneamente  —  não sendo possível, por exemplo, compartilhar fotos antigas, ou seja, do “rolo de câmera” do iPhone.

Em busca de validação, abordei algumas pessoas, conhecidas ou não, e o resultado foi promissor. Apesar da inevitável e bem-vinda comparação com o Instagram, o conceito tinha apelo: “legal! Vou poder ver o mundo pelos olhos de outras pessoas! Quando lança?”. Essa pergunta, no entanto, era um problema.

Não sou programador. Sou graduado em Relações Internacionais, com pós graduação em Gestão de Negócios e MBA em Marketing. O mais próximo de um código que já cheguei foi quando tinha 10 ou 11 anos e jogava Diablo no meu Pentium 100. Mas, espera aí, qual a conexão entre jogar Diablo e mexer em código? Na época, criamos um “clã” e precisávamos de um site. Como a molecada só sabia jogar, mais precisamente atirar fireball uns nos outros, alguém tinha que aprender a “fazer site”. Sobrou para mim. No fim das contas, o site saiu, via HTML no GeoCities, mas dessa época me lembro apenas de < html >< title ><b>Bem-vindos!</b></title></html>

Bacana. Tenho uma ideia, conversei com pessoas que deram ótimos feedbacks sobre o conceito, mas não sei programar. Now what? Não conhecia nenhum programador (não que soubesse, à época) e nunca tinha participado de um evento de empreendedorismo aqui em Brasília. Cheguei a conversar com algumas pessoas, mas a verdade é que metade de nada, nada é. A saída, pensava eu? Freelancer.com, que descobri por intermédio de um amigo que já tinha usado o serviço.
Imaginei o produto e escrevi um projeto no Word, detalhando todas as telas  —  desenhadas em Paintbrush (!)  —  e funcionalidades. Em outras palavras: defini o escopo. No Freelancer, criei o projeto, coloquei uma breve descrição do que seria o job e esperei por candidatos interessados em tirar o meu sonho do papel. Houve vários, desde pessoas físicas a empresas constituídas. E, sim, de várias partes do mundo. Como eu tinha muita pressa (tenha pressa, mas não tanta!), elaborei uma lista com três potenciais empresas em um ou dois dias: duas indianas, uma americana. Pesquisei um pouco mais e descobri que a americana não era tão confiável como aparentava ser (pesquise mais, sempre). Sobraram, nesse contexto, as indianas. A escolha dentre as duas foi quase que aleatória (não faça isso, por sinal).

Contratei uma empresa indiana para tornar realidade o meu sonho. Deu certo? Não. Me arrependo? Também não. Sem essa experiência, dificilmente teria os sócios que tenho hoje (detalhes mais abaixo). Porém, se tem algo que aprendi com essa experiência de terceirização é que quando o sonho é seu, o cuidado (zelo) de outrem nunca será igual ao seu. Enquanto me preocupava com os detalhes (cores, pixels, organização e proporção) ainda que as telas tenham sido feitas em Paintbrush (!) e eu tivesse pouco conhecimento de User Experience (UX), eles se preocupavam em entregar  —  qualquer que fosse a qualidade. Um dos primeiros mockups que enviei à empresa contratada foi esse (Paintbrush, friso!):

E eles entregaram isso:

Como não poderia deixar de ser, fiquei extremamente desapontado. Não que a versão que enviei estivesse mil maravilhas, mas a que eles enviaram era bem ruim. Cuidado e atenção zero. Se antes era difícil dormir, depois disso piorou. Foram inúmeras noites mal dormidas, Skype chat de madrugada ou de manhã cedinho (o fuso horário não ajudava) e muita, muita dor de cabeça. Houve dias (vários) que pensei em desistir, mas prometi a mim mesmo que iria até o fim, independente de resultado.

O ponto positivo da adversidade é que ela te faz ir além; te faz sair da zona do conforto e a querer sempre mais. Nesse sentido, as dores de cabeça  —  que antes me torturavam  —  me motivaram a estudar e aprender sobre User Experience (UX) e User Interface (UI). O que eu queria, no fundo, era conseguir criar o produto que havia imaginado quando tudo isso começou. Aos poucos, aprendi a entender o que se passa na cabeça do usuário (continuo aprendendo) e fui, literalmente, mexendo em todas as funções do Photoshop. Passei a acompanhar (e a me apaixonar), também, por tendências de design.
Apesar disso, ainda havia o problema “técnico”. Depois de longos cinco ou seis meses e R$ 10 mil gastos, resolvi dar um basta à situação. Procurei o Alex Medeiros, amigo de tempos de Maristinha, para apresentar o projeto (havia descoberto que ele era programador). Conversamos brevemente via Facebook Messenger e marcamos um almoço. Apresentei o conceito e algumas telas (funcionando mal e porcamente, mas funcionando) e ele se interessou em conhecer os detalhes. Passamos a conversar mais frequentemente até que o próprio Alex me disse que conhecia um ótimo desenvolvedor iOS, Paulo Venturi, que poderia ter interesse em compor a equipe. Resultado? Marcamos outro almoço. Apresentei, novamente, o conceito e o produto que, a essa altura, dava crash a cada dois toques na tela, mas que funcionava minimamente. Estávamos em outubro de 2012 e ambos, Alex e Paulo, decidiram apostar no Pictastik, entrando no projeto como meus co-fundadores. O sonho de um virou o sonho de três.

Continuamos “utilizando os serviços” da empresa contratada até o dia 31 de dezembro de 2012 (já que estava pago), com coordenação direta, em termos técnicos, do Paulo e do Alex. As dores de cabeça continuaram, mas a vontade de fazer acontecer era maior.

Não importa o que fizéssemos, a entrega por parte da empresa contratada, seja em termos de design, seja em código, era sempre sofrível. Com efeito, encerramos o contrato de forma antecipada. No dia 1º de janeiro recebemos o “produto final”, aproximadamente 8 meses após o início do trabalho, que estava previsto para ser entregue em 3 meses.

Como eu já vinha estudando questões relacionadas a design e agora tinha o Paulo e o Alex como sócios, decidimos, praticamente, refazer todo o projeto from scratch. Alguns meses se passaram e, mesmo trabalhando part-time (ou seja, mais noites sem dormir), conseguimos ter a versão 1.0 do aplicativo pronta e disponível na App Store no final de abril (e que perdura até hoje):

No lançamento, conseguimos chamar atenção da mídia nacional. Fomos destaque no G1 (Tecnologia & Games e Techtudo), Terra, INFO, Baixaqui, Macmagazine, Startupi, Mobile Time, Jornal Metro, Correio Braziliense, dentre outros.

Findada a ansiedade e a expectativa do launch day, os números não eram péssimos, mas também não eram meteóricos. Desde o início, sempre tentamos analisar e acompanhar o padrão de comportamento das pessoas que usavam o app, ignorando aquilo que se costuma definir como vanity metrics. Conversamos com alguns usuários  —  e deveríamos ter conversado mais (get out of the building!)  —  para entender as dificuldades, aquilo que funcionava e aquilo que não funcionava. Com base nesses levantamentos e em insights da própria equipe, decidimos, em julho, redesenhar o app por completo, com o objetivo de deixar a experiência mais fluida e moderna. Ademais, a ideia era adicionar uma ou outra nova funcionalidade, visando aumentar o engajamento dentro do app.

Ainda em julho, já com versão 2.0 em desenvolvimento, recebemos a notícia de que tínhamos sido aceitos no Lisbon Challenge, um programa de aceleração português, em Lisboa, com duração de três meses. Dentre mais de 500 start-ups no mundo inteiro, estávamos entre as 75 selecionadas. O LC, na realidade, foi inspirado no MassChallenge de Boston e tinha mais cunho de competição do que de aceleração em si. Apesar dos pesares (e aqui é papo para outro artigo), o programa foi interessante. No fim, não ficamos entre as Top 10, mas entre as 25 finalistas, o que é motivo de orgulho e prova de reconhecimento do nosso trabalho. Voltamos ao Brasil no dia 10 de novembro, e, no dia 14, o Pictastik apareceu entre os 40 selecionados, dentre 1367, pelo SEED – Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development, um programa de aceleração, criado pelo Governo de Minas Gerais, com o objetivo de transformar o estado no maior polo de empreendedorismo tecnológico da América Latina.

Nas últimas semanas, decidimos mudar o nome “Pictastik” para “Spot”. O motivo? As pessoas tem dificuldade em falar “Pictastik” (a maioria fala Picstátic). Consequentemente, a viralização se torna muito mais complexa do que já é, uma vez que as pessoas não conseguem “passar o app para frente”. Em relação a nome, portanto, uma dica rápida: quanto menor e mais fácil de falar, melhor.

Finalmente, estamos muito próximos de liberar a versão 2.0 do Pictastik (Spot) e gostaria de compartilhar um preview do que está por vir nos próximos dias. Hoje, mais do que nunca, acreditamos no poder da geolocalização e no impacto que ela pode ter na vida das pessoas. Se você ainda não é usuário, não tem hora melhor para ser!

Mais detalhes da nova versão podem ser encontrados aqui: www.angel.co/pictastik

Nesse um ano e meio de “jornada empreendedora”, fiz muitos amigos, participei de eventos e quebrei muito a cabeça (e tomei na cabeça, claro), mas a sensação é de que hoje sou um melhor profissional  —  e pessoa  —  do que era ontem. Tenho plena consciência de que errei muito, mas sei que aprendi (muito) com esses mesmos erros. Daqui para frente, mais erros virão e, com eles, mais aprendizado. E não se engane: errar faz parte do caminho.

Vale ressaltar que a equipe, na minha humilde opinião, é 90% do produto final. Cerque-se dos melhores, mais comprometidos e, principalmente, daqueles que compartilhem dos mesmos sonhos e visões.

Não sei o que será daqui para frente, mas uma das coisas mais importantes que aprendi é que os seus atos do presente reverberam, inevitavelmente, na qualidade do seu futuro. Afinal, você é o senhor do seu próprio destino. Faça acontecer.