O Google mudou nesta quarta-feira, 23, uma política que é criticada há muito tempo por desenvolvedores de apps e reguladores. A empresa decidiu permitir a oferta de novas opções de pagamento que não utilizem seu sistema de billing em sua loja de aplicativos, a Play Store. É o chamado ‘choice billing”, no original em inglês. Com a mudança, os desenvolvedores poderão oferecer mais de um método de pagamento aos usuários da loja.

Em publicação no blog para desenvolvedores Android, Sameer Samat, vice-presidente de gerenciamento de produto no Google, afirmou que este é um “programa piloto” que será feito com um pequeno número de desenvolvedores em países selecionados, de maneira similar à legislação da Coreia do Sul que foi aprovada em agosto do ano passado.

“Este piloto permitirá que um pequeno número de desenvolvedores possa oferecer uma opção de pagamento adicional ao lado do sistema de compras do Google Play; este será criado para explorar novas maneiras de dar mais escolhas aos usuários”, escreveu Samat.

O primeiro parceiro do novo regime de pagamento é o Spotify (Android, iOS). Embora o Google afirme que é um projeto piloto, a companhia de streaming confirmou que o acordo de choice billing é plurianual e que a companhia trabalhará junto ao Google para lançar a solução globalmente nos próximos meses.

“O Spotify está há anos nesta jornada para garantir que os desenvolvedores tenham a liberdade para inovar e competir em pé de igualdade. Estamos felizes com esta parceria com o Google para explorar essa vertente de opção de pagamento que traz oportunidades para desenvolvedores, usuários e todo o ecossistema da Internet”, disse Alex Norström, chefe da divisão de negócios freemium do Spotify.

“Este é um passo importante e o primeiro feito por qualquer loja de apps – seja em mobile, desktop ou consoles de games”, completou o executivo do Google, ao dar uma pequena cutucada em rivais como Apple, Amazon, Microsoft e Sony.

Entenda

A reclamação dos desenvolvedores sobre a falta de opções de pagamento é antiga. Esse movimento ganhou mais força nos últimos anos com posicionamentos de Microsoft, Meta e Spotify com reclamações públicas e pedidos de investigações junto aos reguladores para entender o duopólio de Google e Apple nesse sistema de pagamento.

Mas o tema ganhou magnitude a partir da disputa entre Epic Games e Apple. A criadora do game Fortnite escancarou o problema ao criar comunicação sobre choice billing e tentando driblar o sistema de pagamento da Apple. Em contrapartida, a Apple acusou a Epic Games de quebra de contrato e tirou o jogo da App Store.

A disputa entre Epic Games e Apple teve um primeiro veredicto favorável à loja de aplicativos do iOS na Justiça dos Estados Unidos por quebra de contrato, mas a Apple teria que colocar Fortnite de volta ao marketplace com alternativas de pagamentos, o que não foi feito. Importante lembrar, essa disputa também ocorre no Reino Unido, União Europeia, Austrália e contra o Google nos EUA.

Em 2021, a Coreia do Sul adotou uma nova legislação que obriga as lojas de apps a adotarem o choice billing, mas a Apple se negou a seguir a lei.

Em outro campo, o CMA, órgão regulador de concorrência e mercado do Reino Unido, divulgou um relatório prévio sobre duopólio de Apple e Google no mercado mobile com a defesa das duas empresas e críticas duras de Microsoft, Match Group, The Guardian e Epic Games, em especial sobre a falta de escolha de opções de pagamentos.