Roberto Carvalho, diretor-presidente para a América do Sul da Dynatrace (acima); Murilo Massari, diretor comercial da Netshoes; Diego Barreto, CFO e vice-presidente de estratégia do iFood; Ricardo Leite, country manager da BlaBlaCar; Rodrigo Gouveia, CEO do Inter marketplace, do Banco Inter, e Fernando Paiva, editor do Mobile Time

Durante a pandemia do novo coronavírus o Volume Bruto de Mercadoria (ou GMV, na sigla para Gross Merchandise Volume, em inglês) do marketplace do Banco Inter (Android, iOS), cresceu dez vezes, saindo de R$ 38 milhões antes da crise para R$ 376 milhões em seis meses. Para Rodrigo Gouveia, CEO do Inter marketplace, os motivos para os bons resultados em meio à crise é o fato de a instituição estar preparada quando encontrou a oportunidade. “Não é sorte como pensamos porque deu certo, mas é a sorte quando a preparação encontra a oportunidade. Estávamos preparados porque somos uma plataforma, um app que provê adaptação para o cliente. A pandemia foi um aprendizado, mas positivo”, disse Gouveia durante o primeiro dia do Mobishop, evento virtual que começou nesta quinta-feira, 22, e segue até sexta.

Atualmente, são 20 mil contas abertas por dia útil no banco digital e o executivo atribui o bom número ao marketplace. “Ele existe há um ano apenas, mas as pessoas já entram (no banco) sabendo das oportunidades de compra com os principais varejistas do mercado. Temos de recargas de celular a indústrias. (Essa variedade) foi positiva, contou.

BlaBlaCar

A BlaBlaCar (Android, iOS) não teve a mesma sorte. Os setores nos quais atua, de transporte, turismo e mobilidade, caíram drasticamente. Segundo Ricardo Leite, country manager no Brasil da empresa francesa, a queda foi algo em torno de 90% a 95%. Até fevereiro, o crescimento do app era de 100% em relação ao mesmo mês do ano anterior e, de um dia para o outro, metade das caronas sumiram. “Mas, por sorte, estamos bem capitalizados e a gente continua a todo o vapor, inclusive com o lançamento do marketplace de passagens de ônibus, no qual temos mais de 40 aviações parceiras“, explicou. Mas, de todo modo, para enfrentar a crise, a empresa congelou contratações e cancelou gastos com publicidade.

Em meio à pandemia, a BlaBlaCar acabou lançando um outro app, o BlaBlaHelp, desenvolvido na matriz. Seu propósito é encontrar pessoas que possam fazer compras para aqueles que estejam em grupos de risco, com a vantagem dos usuários já terem as avaliações (estrelinhas) que possuem no BlaBlaCar. “Foi um produto que nasceu da crise, mas que estamos estudando um modelo de negócios para ele”, disse o head.

No momento, a empresa está em aceleração e deve chegar ao mesmo patamar de caronas de fevereiro até o final do ano. Atualmente estão em 1,5 milhão de viagens e a expectativa é chegar a 2 milhões em dezembro. Segundo o executivo da BlaBlaCar, entram 50 mil novos usuários por semana no app e houve um aumento significativo no feriado de 7 de setembro e não houve redução depois. “E no fim de semana seguinte o número não caiu, mesmo não sendo feriado”, relatou Leite.

Netshoes

A Netshoes (Android, iOS) também sentiu um forte impacto em suas operações no início da pandemia. Mas, para evitar um mal maior, a empresa fez uma parceria com o Magazine Luiza (que comprou a Netshoes no ano passado) para vender itens essenciais, que não fazem parte do seu nicho, como fraldas, sabão em pó, além de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como máscaras e face shield.

“As pessoas não podiam mais correr, que é o esporte mais praticado pelo brasileiro. Então, subimos uma categoria de itens de mercado para vender produtos do dia a dia”, explicou Murilo Massari, diretor comercial da Netshoes. O e-commerce também lançou categorias como Games – onde são encontrados consoles de vídeo game, computadores e games – além de itens de vestuário mais confortáveis. “Ganhamos muitos consumidores na pandemia, em especial aqueles que não estavam acostumados com a compra online e tiveram que ter essa experiência. Tivemos aumento nas vendas de itens que a gente não estava acostumado a vender”, disse o executivo sem entrar em detalhes.

Agora, com uma volta às atividades e com a volta dos campeonatos de futebol, houve um aumento nas vendas de camisetas de times de clube, por exemplo. “Em outubro os clubes lançaram a campanha do outubro rosa e as vendas cresceram 75% em relação ao mês passado e 120% em relação ao mesmo período do ano passado. E vendemos muito para mulheres”, relatou Massari.

iFood

No caso do iFood (Android, iOS), a pandemia não afetou negativamente a empresa de delivery. Muito pelo contrário. Segundo Diego Barreto, CFO e vice-presidente de estratégia da empresa, o serviço de alimentação é um bem necessário e que foi muito usado na crise porque muitas pessoas não tinham mais tempo para administrar trabalho, família, casa e a comida do dia a dia.

“O grande desafio foi compreender novas demandas e ajustar o produto e as jornadas. E é natural. Não conjugávamos o almoço em dia de semana porque nossos usuários saíam para comer”. Atualmente o app combina a manhã com o café da manhã, por exemplo”, explicou Barreto.

O crescimento de 46% no volume de pedidos mensais na empresa em seis meses, fez com que o iFood não tenha notado muitas diferenças no atual momento em que a população volta ao trabalho e às atividades do dia a dia. “Estamos diferentes de seis meses atrás, mas estamos em crescimento. Estamos presentes em 50 cidades fazendo grosseries (compras de mercado) e passamos para mais de 400”, disse o executivo. Junto com o crescimento, o iFood passou a aceitar vale refeição em seu app – uma opção que há tempos gostariam de ter, mas as empresas dos benefícios eram relutantes – e estão fazendo vendas off-line, na boca do caixa dos restaurantes.

“Continuamos crescendo mês a mês desde março e outubro vamos bater recorde de vendas mensais”, afirmou.

Dynatrace

Também participou da mesa, Roberto Carvalho, diretor-presidente para a América do Sul da Dynatrace, empresa desenvolvedora de softwares e aplicativos inteligentes e responsável pelo monitoramento de meios de pagamento. Ao contrário dos outros painelistas, Carvalho pode oferecer à plateia uma visão geral do mercado em plena pandemia. Segundo o executivo, a Dynatrace notou uma forte procura das empresas por produtos com inteligência artificial. Muitas empresas já com os pés fincados no digital precisaram se adaptar para suportar a volumetria que o período demandou de seus canais digitais, e aquelas empresas que deveriam correr atrás acabaram precisando acelerar sua transformação digital. “Clientes nossos como bancos experimentaram uma grande volumetria, em especial nos aplicativos mobile. Neste caso, aqueles com uma cultura digital que estavam mais maduros e preparados, precisaram fazer ajustes finos para suportar o maior acesso, mas aqueles sem maturidade foi um perrengue para manter seus sistemas no ar”, comentou.

Pela alta demanda, as empresas notaram que é humanamente impossível enxergar todo o ambiente deles – aplicações, cloud, processos de transações de negócios, métricas – e a inteligência artificial provou ser uma aliada a questões mecânicas das companhias.

O executivo aponta como lição da pandemia a preocupação constante com a experiência do usuário. “Muitos falam em experiência do usuário, mas poucas se preocupam realmente com ela. Foi preciso mostrar performance na pandemia e sem ela, o cliente abandona o carrinho. A jornada do cliente nunca ganhou uma dimensão tão importante”, resumiu Carvalho.