Cacique Raoni Metuktire, líder Kayapó é parceiro do projeto. Ele segura a placa para ser inserida no maquinário

Uma pequena placa contendo um código aberto, combinado com um software, pode servir de ferramenta para ajudar a combater o desmatamento em reservas da Floresta Amazônica. O Código da Consciência faz um cruzamento de informações, combinando mapas georreferenciados das áreas protegidas, com o sistema de GPS existente em veículos pesados (sejam elas tratores, caminhões, carros etc). Com isso, consegue detectar quando esse maquinário entra em uma área de preservação, e, a partir dessa informação, emitir um sinal de aviso para o fabricante, por exemplo.

O Código da Consciência usa mapas georreferenciados das áreas protegidas do mundo, reunidos pelo World Database on Protected Areas (WDPA), um banco de dados atualizado todos os meses por ONGs, comunidades e governos – e que possui API aberta.

A solução foi pensada por institutos, associações e empresas parceiras de diversos setores, entre eles o Instituto Raoni e o estúdio criativo AKQA, que ajudou a desenvolver o projeto. E, de acordo com Diego Machado diretor de criação da AKQA, a solução é simples e barata.

A placa pode ser adaptada de acordo com as necessidades de cada fabricante, e funciona tanto em máquinas com GPS como sem. É tudo uma questão de adaptação, disse Machado. “É uma solução barata. E não queremos ganhar dinheiro com ela. A base do código está pronta. A gente entrega esse material, gratuitamente, presta assessoria para que isso saia de fábrica, ou seja, para que o maquinário vá para o campo já com a nossa solução”. O chip, em grande escala pode custar em torno de US$ 5.

O rastreamento das máquinas funciona via satélite. E, de acordo com as necessidades, é possível que ela envie uma notificação via SMS, por exemplo, para a fabricante do maquinário, caso ele esteja próximo a uma área de preservação. “A vantagem do SMS é que ele não precisa de sinal de Internet, o que para essas regiões seria complicado”, explicou Machado. Como uma medida extrema, o dispositivo pode até mesmo enviar uma informação para o maquinário de modo que ele pare por completo e não avance mais em direção à área de preservação.

“A gente pode não conseguir parar as pessoas, mas a gente consegue parar as máquinas”, resumiu.

Além das próprias fabricantes de veículos pesados, o grupo também está abordando empresas que ficam na outra ponta da cadeia, mas que também estão envolvidas com a causa. Ou seja, são aquelas que precisam de madeira para fazer móveis ou de extratos para fazer sabonetes ou perfumes. A proposta é pressionar essas companhias para que elas exijam de seus fornecedores o uso desse dispositivo. Porém, ainda não se fechou nenhum acordo, houve apenas em conversas, por enquanto.

Como implementar?

Para o Instituto Raoni e seus parceiros, esses maquinários já deveriam sair com essa placa instalada. Por isso, a ideia agora é bater nas portas das principais fabricantes de equipamentos de construção para explicar como funciona a solução e abordar a importância de se comprometer com a preservação ambiental.

A equipe também está em contato com grandes empresas que tenham atividades econômicas relacionadas à Amazônia (como empresas de cosméticos), para que elas também passem a exigir de seus fornecedores e parceiros que eles instalem o Código da Consciência nas máquinas que já estão em operação na região.

O próximo passo será transformar essa iniciativa em lei federal no Brasil, mas também em outros países, especialmente naqueles que mais sofrem com a destruição de suas florestas, como Papua Nova Guiné, Indonésia, Congo e Austrália.