| Publicada no Teletime | Por ficarem cerca de uma semana por mês sem sinal de Internet, as classes CDE acabam tendo restrições, sobretudo quando têm o acesso limitado apenas aos aplicativos que não descontam da franquia (zero-rating). E isso muda o comportamento e o consumo do acesso, especialmente de usuários negros e mais vulneráveis, conforme mostra pesquisa do Idec e do Instituto Locomotiva.

Essa restrição de Internet leva à prática de “autoprivação” para evitar o consumo total do pacote, citado por 63% dos entrevistados. Quando se fala em planos pré-pagos, a autoprivação chega a 74%, e o percentual atinge 77% das classes DE. Para 37% dos usuários, entre três ou quatro condutas eram adotadas para evitar o gasto, índice considerado elevado pelo Idec.

“Entre os que possuem maior nível de autoprivação estão os usuários das classes DE, internautas negros e negras, em geral mais jovens, menos escolarizados e que possuem planos pré-pagos”, diz o relatório. A disparidade racial fica evidente quando se aponta que 41% dos consumidores negros afirmam ter medo de gastar todo o pacote, contra 31% dos não negros. Ficar com o acesso restrito a WhatsApp e Facebook também é realidade mais frequente entre os pretos e pardos (42%) do que os não negros (38%).

Idec

Conforme aponta o Idec, o zero-rating acaba sendo danoso à experiência dos usuários mais vulneráveis. “Apesar da situação parecer mais confortável, ela acaba por prender usuários em aplicativos determinados e implicando um enviesamento no uso da Internet – o que, inclusive, é proibido pelo Marco Civil da Internet, que determina a garantia de neutralidade de rede.”

Nesta semana, o conselheiro da Anatel Carlos Baigorri afirmou que a neutralidade seria uma “solução sem problema“, inclusive citando a decisão do Cade a respeito do zero-rating, que na época concluiu não haver ilegalidade da prática. A pesquisa do Idec coloca: “Os aplicativos que mais são beneficiados são justamente os que são mais baixados e utilizados, majoritariamente aqueles do grupo Facebook. Para boa parte da população, a Internet se resume a esses poucos aplicativos.”

Idec