Diferentes soluções de pagamento móvel surgiram nos últimos anos, levando o smartphone a fazer às vezes de cartão de crédito. Muitas delas, contudo, dependem de o celular do consumidor estar conectado à Internet. Outras requerem que tanto o smartphone quanto a máquina de POS trabalhem com a tecnologia NFC, o que também é um limitador. Pensando nisso, a Matera, empresa brasileira especializada no desenvolvimento de sistemas bancários, criou uma solução de pagamento móvel totalmente offline, que dispensa conexão à Internet, Bluetooth, NFC ou qualquer outro meio de comunicação por radiofrequência entre os dispositivos do consumidor e do lojista.

Através de um app instalado no smartphone, o usuário gera um QR code único a cada transação, que informa o valor do pagamento, a assinatura digital do consumidor e suas credenciais bancárias. Esse QR code é lido por um scanner ou pela câmera de um smartphone do estabelecimento comercial, que envia os dados para o servidor da Matera. Este, por sua vez, verifica se há saldo naquela conta antes de validar a transação. O sistema do lojista precisa estar conectado à Internet, mas o smartphone do comprador, não. Para este, basta estar ligado e com a tela funcionando.

“As pessoas estão cada vez mais usando o celular para fazer tudo, mas só vão deixar o cartão de crédito em casa quando houver uma solução pelo celular 100% robusta e confiável.  O 3G e o 4G nem sempre funcionam. Entrar na rede Wi-Fi de um estádio de futebol pode ser difícil. Enfim, há várias situações no dia a dia em que uma solução online pode não funcionar”, argumenta o diretor de inovação e novos negócios da Matera, Alexandre de Souza Pinto. “Na nossa solução o celular precisa apenas da tela e da bateria. Inclusive já fizemos testes com telas quebradas e o pagamento funcionou”, acrescenta.

O executivo compara a solução desenvolvida a um cheque, só que digital e mais seguro. E tem a vantagem de o lojista verificar em tempo real se há saldo para o pagamento, através dos servidores da Matera que se comunicam com aqueles da instituição financeira responsável pela conta.

A princípio a solução usa QR codes, mas poderia transferir os dados por áudio ou outros meios offline, diz o diretor da Matera. A solução já teve seu pedido de patente realizado no Brasil e nos EUA.

O modelo de negócios é o de software como serviço. É cobrada uma taxa fixa por conta ativa.

Fintechs e Varejo

A primeira cliente da Matera para essa solução é a BePay, uma fintech de pagamentos móveis. Além de outras fintechs, a Matera está de olho em redes varejistas. A ideia é ser um meio de pagamento embutido em apps de varejistas para as compras em suas lojas. A proposta é aproveitar a tendência de criação de contas pré-pagas por parte de varejistas, vide o bem-sucedido programa de fidelização do Starbucks. Souza Pinto acredita que redes do varejo seguirão um caminho parecido no Brasil, agora que a regulamentação do Banco Central permite esse tipo de serviço financeiro. Neste caso, inicialmente a ferramenta de pagamento seria usada apenas para compras dentro das lojas de um mesmo grupo, mas nada impede que sejam firmadas parcerias entre diferentes redes varejistas para que os clientes de uma possam usar seus créditos em outra e vice-versa.

Um grupo econômico que atua em várias verticais deverá lançar uma versão beta com a solução da Matera em fevereiro. E uma rede de departamentos planeja o mesmo para este semestre, informa o executivo.

Vale destacar o histórico de atuação da Matera no setor bancário. Mais de 70 instituições financeiras reguladas pelo Banco Central utilizam sistemas da Matera, incluindo algumas fintechs, como Nubank e MercadoPago. Seu portfólio de produtos é compreendido por mais de 40 diferentes sistemas que abrangem todo o backoffice de uma operação bancária.