Com a transformação digital e novas tecnologias como 5G e Internet das Coisas surgirão novas oportunidades para o mercado de telecomunicações aproveitar para adicionar valor à camada de infraestrutura, mas os players principais não necessariamente serão as grandes operadoras. Para tanto, será preciso não ser imóvel e arriscar para sair das regiões de alta renda no País. Essa é a visão compartilhada pelo superintendente de competição da Anatel, Abraão Balbino, em painel de abertura do Fórum de Operadoras Alternativas nesta segunda-feira, 26, em São Paulo.

“A gente tem que sair da caixinha e pensar que telecom não pode ser dumb pipe. A questão é quem vai se apropriar disso. Não acho que operadoras grandes e OTTs vão se apropriar, porque tem universo surgindo com demandas novas e com demandas de empacotamento”, afirma. Ele cita o caso da IoT, que ainda não teve uma “killer application”, nem também um empacotamento adequado.

Balbino enumera vertentes para o mercado se reinventar: consolidação horizontal ou vertical, ou mudança de modelos de negócio. Isso tendo em contexto que o que deverá conduzir todo o avanço na próxima década serão os serviços de TI e big data, IoT, conteúdo e serviços financeiros. No caso desta última vertente, especialmente, o superintendente da Anatel é enfático quanto à oportunidade, uma vez que o Brasil já tem capilaridade de rede e ecossistema móvel, demanda com 40 milhões de desbancarizados, e regulação favorável. “Não tem gargalos regulatórios ou zonas cinzentas, resolvemos isso com o Banco Central há mais de cinco anos”, declara.

Segundo ele, o mercado ainda não aproveitou a mobile wallet por uma mistura de “risco com preguiça”. “É um universo que não está no mainstream brasileiro, em São Paulo está todo mundo bancarizado, tem que ir para o lugar que é o ‘Quênia no Brasil'”, diz, referindo-se às regiões mais pobres. “E nenhuma operadora entra com essa cabeça, talvez vocês (operadoras alternativas) queiram entrar.” Balbino, que também é relator em um grupo de trabalho na União Internacional de Telecomunicações (UIT), declarou que vai aprovar uma nova recomendação em três semanas para países que queiram regular esse mercado.

Flexibilidade

É necessário, entende Balbino, que haja um ambiente regulatório que permita a inovação. Na visão dele, a regulação precisa ser “mais ‘principiológica’, menos normativa e mais focada em ex post – caso surjam problemas que demandam, melhor tratar depois.” Isso porque parte dos serviços financeiros teria regulação mais leve, apenas estabelecendo princípios de interoperabilidade e regras de compliance com o Banco Central. Ele ressalta que as regras não são impeditivas, mas há a questão do risco. “O que não teve ainda foi um agente com audácia de ser um first mover.” Balbino lembra que a Oi teria se planejado para isso, mas acabou tendo problemas com a própria situação financeira. “Ela ainda tem visão de que isso pode ser uma boa oportunidade”, declara.

Ainda há barreiras, entretanto. Balbino afirma que, para permitir a evolução das novas tecnologias do mercado, é preciso não tratar a legislação com um “ponto de vista ideológico muito a ferro e fogo”, especificamente falando sobre o Marco Civil e a defesa da neutralidade de rede.