O transporte coletivo de Florianópolis voltou a operar na quarta-feira, 17, porém, com o reforço de um dispositivo nos ônibus para fazer o rastreamento de contatos de Covid-19. O Smart Tracking é um QR Code que pode ser escaneado por quem entra no veículo. Em seguida, a pessoa deve preencher um curto questionário com as seguintes perguntas: se teve contato nas duas últimas semanas com alguém contaminado; se alguém da família desenvolveu a doença, se está com sintomas; CPF, e-mail e telefone; além de dar o consentimento no envio dessas informações. O Smart Tracking foi desenvolvido pela Smart Tour Brasil, startup de Santa Catarina voltada para soluções de Internet das Coisas na área de turismo.

De acordo com a prefeitura, em uma semana foram realizados 36.207 cadastros. Este pode ser feito assim que o celular aponta para o código QR ou, para evitar filas e aglomerações, pode ser realizado previamente em um site da startup. Ao todo, até agora, foram feitos mais de 102 mil check-ins no transporte local e outros 13,55 mil check-ins nos ônibus intermunicipais. Vale reforçar que este não é o número de pessoas, uma vez que o indivíduo pode fazer o check-in em mais de um ônibus que utiliza durante o dia. Para se ter uma ideia, em um dia de funcionamento da solução, 93% das pessoas que andaram de ônibus na cidade fizeram o check-in com o código QR e, desde o início, há uma média de 80% de uso.

“Precisávamos entre 50-60% de média de uso para que o rastreamento fosse eficiente”, explica a CEO da Smart Tour Brasil, Jucelha Carvalho.

Jucelha Carvalho é CEO da Smart Tour Brasil

A solução de rastreamento também está disponível em cerca de 500 estabelecimentos de Florianópolis e em outras cidades, como Gramado/RS, onde está em outros 1 mil espaços, como shoppings, supermercados, academias, igrejas, entre outros. “Estamos presentes em mais de 5 mil estabelecimentos em diferentes partes do mundo”, conta Carvalho.

Isso porque, em meados de março, quando a equipe começou a pensar numa solução para o pós-pandemia, a empresa analisou alguns cases que apareciam em países como China e Coreia do Sul. Resolveram, então, descartar soluções que envolvessem Bluetooth ou GPS, para fugir de polêmicas como privacidade (GPS) e possíveis falsos alertas (Bluetooth). “Queríamos uma solução que fosse simples na ponta, ou seja, fácil para o usuário mexer. E o QR Code é só você apontar sua câmera para o adesivo. Não precisa de aplicativo, nem de geolocalização e não precisa de uma adesão tão grande quanto os apps já desenvolvidos”. Vale dizer que o Smart Tracking nasceu em conformidade com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR), a legislação sobre privacidade europeia.

A Smart Tour submeteu a ferramenta ao Healing Solutions for Tourism Challenge, concurso proposto pela Organização Mundial do Turismo (UNWTO na sigla em inglês), e ficou entre os dez finalistas na categoria “cura para pessoas” (healing for people). O desafio recebeu mais de 1,1 mil aplicações de 120 países. Depois, a solução foi apresentada pela ONU para 150 chefes de estado. “Estamos em negociação com dezenas de outros países, incluindo todos os da América do Sul, mas também europeus e africanos”, conta Carvalho. Ao todo, a plataforma registrou 500 mil check-ins em seu banco de dados e, de acordo com a CEO, o Smart Tracking está operando, de maneira isolada, em estabelecimentos de diferentes cidades de países como França, Portugal, Itália e África do Sul.

“Há uma resistência grande por parte das pessoas em usar um aplicativo porque acham que vai fazer o rastreamento, vai liberar suas informações para o governo, por exemplo. E essa é uma dúvida mundial. Isso não vai acontecer no nosso caso. Não somos um app e não estamos instalados no smartphone. Não temos outros dados além daqueles informados com consentimento pelo usuário”, resume.

Detalhes do funcionamento

Apesar de sua pronta usabilidade, o Smart Tracking ainda está em fase de ajustes, de validação, “embora a gente já saiba que ele é escalável e de fácil uso”, complementa.

Para usar a ferramenta de rastreamento de contato, os estabelecimentos se cadastram na plataforma e emitem um QR Code exclusivo. Eles imprimem e colocam à vista do público. Quando alguém entra e faz o check-in, seus dados caem em um banco de dados universal, ou seja, de todos que usam o Smart Tracking, e é anonimizado. No caso da prefeitura de Florianópolis, que usa em seus ônibus, cada veículo tem o seu próprio QR Code.

As autoridades de saúde realizam um rastreio de locais e pessoas com quem os pacientes que testaram positivo para a Covid-19 tiveram contato até os 15 dias anteriores ao diagnóstico. Assim, os estabelecimento e os usuários que também fizeram check-in nesses ambientes nesse período recebem um e-mail ou um SMS de alerta.

Na última ponta tem as secretarias de saúde, que têm o monitoramento das pessoas testadas positivas. Pela secretaria, é inserida na plataforma os dados do doente (e-mail, telefone ou CPF) para fazer o rastreamento dos locais onde esteve e das pessoas com quem teve contato. O sistema avisa automaticamente, de forma totalmente anônima, ao estabelecimento que no dia X, no horário Y, passou no estabelecimento comercial um cliente testado positivo para Covid-19. O mesmo acontece com as pessoas que circulavam pelo mesmo lugar na mesma hora. Depois disso, as orientações vão de acordo com cada secretaria de saúde.

“As secretarias fazem a consulta, mas não sabem quem são essas pessoas ou os estabelecimentos, que estão em forma de IDs. A única coisa que conseguem visualizar é o município”, completa.

B2G e B2B

A ferramenta é gratuita para estabelecimentos comerciais e usuários e é vendida para as secretarias de saúde. Atualmente, a Smart Tour Brasil adaptou a solução para o mundo corporativo. O Smart Tracking Corporation pode ser usado dentro de indústrias e fábricas onde tenham muitas pessoas e onde estão sendo feitos testes em massa. “Como muitos estão fazendo teste em massa, o rastreamento com a ferramenta é possível para fazer o isolamento seletivo e evitar os surtos. Já podemos comercializar”, completa.