O eixo Rio-São Paulo concentra 78% das 350 fintechs que fazem parte da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs). Nada mais natural: é ali onde estão boa parte dos investidores, das principais aceleradoras e das sedes das grandes empresas do setor financeiro nacional. Porém, outras 80 empresas, que representam 22% do total de associadas, estão espalhadas pelo resto do País. Mobile Time conversou com representantes de algumas delas para entender as vantagens e desvantagens de uma fintech estar sediada fora do eixo Rio-São Paulo.

Felipe Souto, sócio da BTO Partners

“Atualmente, infraestrutura não é um problema. Temos Internet, usamos servidores em cloud, e, aqui, temos uma mão de obra boa, mais barata e qualificada. E, claro, temos praia”, brinca Felipe Souto, sócio da BTO Partners, de Salvador (BA). A holding é gestora de recursos que investe em mercado imobiliário, setor de energia e também em startups. Dentro dessa área, os sócios vão lançar, em breve, a plataforma de crowdfunding imobiliário chamada Bloxs.

A empresa anterior de Souto, uma distribuidora de títulos imobiliários, cresceu e foi vendida ao grupo italiano Azimut. Por conta dessa venda, Souto precisou se mudar para São Paulo. Quando a venda foi concluída, o empresário não pensou duas vezes e voltou para Salvador. “Nosso DNA, nossa origem, sempre foi aqui no Nordeste”. E, ao voltar, montou com seu sócio a BTO, sigla para Back to Origins (De volta às origens, na tradução livre).

Qualidade de vida

Já para a Espresso – plataforma que agiliza a prestação de contas de despesas de funcionários de uma empresa em viagens –, estar em Uberlândia (MG) significa estar numa cidade universitária, com bons profissionais recém-formados, com custos mais em conta, ecossistema de startups fomentado e qualidade de vida para seus sócios.

O diretor de marketing e vendas, Fábio Antunes, de apenas 26 anos, viveu toda sua vida em São Paulo, está há cerca de um ano na cidade do triângulo mineiro, e não troca a tranquilidade por nada nesse mundo. “Para mim, é uma mudança permanente. Se fosse uma cidade muito pequena, talvez tivesse problemas em me adaptar, mas Uberlândia é uma cidade grande”. Com mais de 650 mil habitantes, a cidade ganhou recentemente o Uberhub, programa de apoio a empresas iniciantes com a missão de fomentar o ecossistema da região. “As empresas daqui são parceiras, se comunicam. Há uma organização entre os empreendedores”, resume Antunes.

Da esquerda para a direita: Nicolai Linharest, diretor de tecnologia, Guilherme Tângari, diretor executivo, e Fábio Antunes, diretor de marketing e vendas

A Espresso começou a atuar em 2015. Os sócios participaram do projeto de aceleração da ACE, receberam investimento da aceleradora, assim como outro aporte da ordem de R$ 600 mil de um pool de investidores. Hoje, os três sócios contam com seis funcionários e têm um crescimento de 30% ao mês na base de clientes. Atualmente, a solução de prestação de contas entre funcionários e empresas conta com 140 clientes corporativos e o modelo de negócios se baseia em mensalidade de acordo com a quantidade de usuários ativos. Sua solução conta com um app para que o funcionário adicione suas despesas e comprovantes, e uma plataforma web para o controle do gestor.

Investimento externo x crescimento orgânico

Se infraestrutura não é mais uma questão, e quanto ao acesso a investidores e programas de aceleração? Bom, para essa pergunta não existe consenso.

Para Tiago Comério, um dos sócios da Easyme, empresa responsável pelo sistema de controle financeiro Meu Dinheiro, de Vila Velha (ES), a distância em relação a potenciais investidores não faz diferença. “Tivemos um crescimento orgânico de 100% do capital para os sócios no primeiro ano de funcionamento. Nosso crescimento é pelo boca a boca. Não procuramos por aceleradoras, nem anjos e nos orgulhamos um pouco disso. Competimos de igual para igual com nossos concorrentes sem precisar estar em São Paulo ou de investidores. Não estou fechado a aportes, mas ele tem que valer a pena. Não queremos inchar e depois quebrar. Nosso objetivo é o lucro e já estamos lucrando e ainda conseguimos dividi-lo entre nossos funcionários”, resume Comério.

O Meu Dinheiro (Android, iOS) é uma fintech de gerenciamento financeiro de toda a sorte de investimentos que começou em 2011 com três sócios e um investimento de R$ 20 mil. Ano passado cresceram 60%  e possuem 230 mil usuários cadastrados, com clientes baseados no Japão, países africanos entre outras regiões do mundo.

Mas há o outro lado da moeda. Para Álvaro Leal, sócio na Pague Bem Brasil, do Recife (PE), uma das desvantagens de se estar longe de São Paulo ou Rio de Janeiro é a distância de aceleradoras de grande porte e dos eventos da sua área. “Recife tem o Porto Digital, considerado um dos principais parques tecnológicos do País. E conta ainda com o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar). Nós fomos da primeira turma do programa de qualificação para quem estava ainda na fase de ideação do negócio, no Porto Digital. Em seguida, participamos da incubação, com nosso MVP. Recife é uma cidade com muitas opções, mas estamos num nível que devemos ir além”, explica Leal. Não à toa ele e sua sócia viajam com frequência para São Paulo.

A Pague Bem Brasil possui solução cloud e site responsivo para “se tornar a Reclame Aqui das cobranças” entre empresas e entre empresas e pessoas físicas.

O outro lado da balança

Quem desistiu de viajar e optou por montar uma base em São Paulo foi a EasyCrédito. Nascida em Goiânia (GO), a empresa é um marketplace de crédito e possui em seu portfólio mais de 40 empresas que oferecem opções de empréstimo pessoal, cartão de crédito, empréstimo consignado, cartão pré-pago. Conta com cinco sócios e 20 funcionários. Depois de passarem pelo Campus São Paulo, do Google, viram a importância para o seu negócio de ter um pé em São Paulo. “Nossa matriz é em Goiânia e assim será por um bom tempo. Aqui, temos a tecnologia que precisamos, nossos funcionários estão aqui, e os custos são bem mais baixos do que em São Paulo. Mas ter um pé lá é bom para o marketing, é importante estarmos perto de nossos clientes”, explica Bárbara Moreira Silva Ramos CAO da empresa.

A turma do EasyCrédito, no dia do DemoDay, no Campus São Paulo, no Google