A economia digital desenvolveu um modelo muito sui generis em que tudo é de graça, qualquer conteúdo, serviço, aplicativo. Mas será que isso é verdade? A nova moeda da Sociedade Digital são os dados dos indivíduos, meus, seus, de todos nós. Quanto será que isso vale afinal?

Seja no Brasil ou em outros países, a maior discussão atual é sobre proteção de dados pessoais. Será que para usar uma caixa postal ilimitada, compartilhar fotos ou mesmo chamar um taxi, será que tudo isso tem que ser ‘pago’ com dados? Deveria haver um limite de uso dos mesmos? Como fica a privacidade e a segurança?

Vivemos uma época em que não estamos apenas mudando a forma de fazer as coisas, antes de modo mecânico e analógico, no papel, para algo mais eletrônico e em mídias digitais, mas estamos também transformando a forma como as empresas monetizam os seus negócios.

Se há 20 anos seria feito um cálculo baseado em ativos da empresa (a maioria físicos), em múltiplos de EBITDA, hoje o valor das ações de uma empresa está diretamente relacionado ao cálculo de quanto vale a sua marca e os seus bancos de dados. Por isso, qualquer tendência protecionista quanto ao uso da informação dos usuários impacta diretamente o modelo de negócios da maioria das grandes empresas da era tecnológica. Quanto valeria o Google, o Facebook, o WhatsApp se não pudessem mais utilizar os dados que têm sobre seus clientes?

Nessa linha temos toda a nova indústria dos “apps”. Quase todo aplicativo quando vai ser instalado já pede, automaticamente, o acesso à geolocalização, à câmera, ao microfone (áudio) do dispositivo de seu usuário, mas por que?
Na era da “internet das coisas”, tudo que instalamos em nossos equipamentos passa a reunir informações sobre nós, mas, além disso, também as compartilha com o fornecedor do recurso. Isso quer dizer que os aplicativos estão o tempo inteiro contando algo a respeito de seus usuários.

O maior problema não é que os apps coletam dados das pessoas, mas sim que estão expostos a vírus, chamados “malwares”, que podem fazer vazar estas informações para quadrilhas especializadas em utilizar as informações para dar golpes, ou mesmo para vender no mercado paralelo da Deep Web. Diversos casos recentes apontam os riscos que os usuários estão expostos ao baixarem qualquer aplicativo só porque é de graça.

A ESET estima que 500 mil usuários baixaram dois apps maliciosos, Cowboy Adventure e Jump Chess, os quais já foram tirados do ar pelo Google. Recentemente a Google também retirou do ar aplicativos falsos de bancos brasileiros, bem como outro aplicativo falso que fingia ser o jogo Minecraft, e um que fingia ser um antivírus, mas era o próprio. Além destes golpes, criminosos acoplavam um código malicioso em 344 apps "de verdade“ da Apple Store, que diz que já removeu os mesmos. Ou seja, ter um celular ou um tablet sem um bom software de segurança é um grande risco.

A Lei do Marco Civil da Internet iniciou o tratamento mais específico sobre a proteção dos dados dos usuários destes serviços digitais, sendo válido e aplicável até a empresas que estejam fora do Brasil. Mas será que só isso é o suficiente para coibir abusos? Pelas regras em vigor, toda empresa precisa ter uma Política de Privacidade clara e objetiva publicada em qualquer que seja o meio que esteja se relacionando com seus clientes (seja site, mídia social ou aplicativo) e que precisa solicitar previamente a “ciência” e “concordância expressa” para o uso e guarda dos dados dos usuários. Sabemos que a maioria das pessoas dá “OK” sem ler o que dizem esas políticas. Mas o maior poder do consumidor está justamente no seu “click”, na sua escolha, em decidir usar serviços de empresas que sejam éticas e transparentes e que estejam comprometidas com a proteção de seus dados pessoais. A discussão vai longe: tramita o projeto de lei de Proteção de Dados Pessoais, referenciado na inciativa da União Européia, e que, para o mercado em geral, pode significar um grande impacto no resultado dos negócios.

Mas se as pessoas estão dispostas a pagar por serviços com seus próprios dados, claramente, qualquer regulamentação tem que respeitar a liberdade individual e a livre iniciativa privada, podendo sim determinar alguns limites para coibir excessos que possam causar danos ou prejuízos aos consumidores.

Portanto, você já baixou um aplicativo hoje? Leu os termos de uso? Sabe como ele está cuidando da privacidade e da segurança dos seus dados? Pois devia saber. Em quem confiar seus dados? Eis a grande questão para determinar quem ganha a corrida digital.