O direito se encontra em amplas mudanças diante dos avanços da inteligência artificial (IA). Considerado uma das áreas mais afetadas pela tecnologia, a tendência é que muitos processos passem a ser feitos por IA, desde que com supervisão. É aí que deve entrar o diferencial humano. Ao menos é o que acreditam especialistas jurídicos, que participaram de debate realizado na manhã desta sexta-feira, 31, na Faculdade Getulio Vargas (FGV), em São Paulo.
“Por um lado, você tem a inteligência artificial direcionada para a massificação como uma ferramenta que pode automatizar as decisões, mas, de outro, a gente tem uma sociedade que demanda soluções mais ajustadas caso a caso, de acordo com as particularidades e peculiaridades das disputas”, afirmou José Mauro Machado, sócio do Pinheiro Neto Advogados, destacando que a centralidade desse processo é totalmente pautada no humano.
Isso é respaldado pelo diretor da FGV, Oscar Vilhena, que acredita que há funções humanas insubstituíveis, sendo um ponto de diferenciação. Um exemplo disso é o que acontece na startup Legal Insights. “Adotamos bastante cautela quanto ao uso de IA, com um olhar crítico, para que, se necessário, adequemos para o nosso uso ou para o de um cliente”, explicou Allana Martins, head de comunidade da empresa.
Um outro exemplo é experimentado na área jurídica do Banco do Brasil (BB). Segundo Alexandre Alexandre Gonçalves Corrêa Frizoni, gerente de soluções jurídicas do banco, a tecnologia é usada especialmente em tarefas mais simples, como revisões ou pesquisas especializadas.
Na visão de Machado, o avanço da IA criará muitas profissões e novos debates. “O advogado terá uma posição fundamental, podendo oferecer suporte na definição de política de uso nas empresas ou corrigir vieses, por exemplo”, apontou. Ligia Augusto, sócia de corporate services da Ernest Young (EY), disse que “o jurídico tem um papel de agente duplo: ao tempo em que é usuário da ferramenta, precisa olhar atentamente os riscos”, alertou. Por isso, enfatizou que o letramento precisa não só ser estruturado, mas recorrente.

