Vivemos uma era de transformação midiática sem precedentes, comparável apenas à invenção da imprensa. O antigo modelo, centralizado e controlado por poucos, foi desmantelado pela internet, que prometia democratizar a informação, mas acabou criando um cenário caótico. Plataformas como Google, Facebook e Twitter se tornaram os novos templos, mas com uma diferença crucial: em vez de poucos guardiões, agora todos têm voz — e, paradoxalmente, o ruído se tornou ensurdecedor. Vivemos em uma cacofonia digital.
O volume de opiniões, notícias e entretenimento é tão grande que, muitas vezes, a qualidade se perde em meio à quantidade. O algoritmo, que deveria ser o editor imparcial, acaba privilegiando o engajamento a qualquer custo, alimentando polarização, superficialidade e, não raro, desinformação. A promessa de um ecossistema mais plural acabou, em muitos casos, concentrando ainda mais poder nas mãos de quem controla as plataformas.
Mas há sinais de esperança em novos modelos onde a curadoria e senso de comunidade importam mais que algoritmos. Neste ecossistema, plataformas como Substack, Patreon e Twitch permitem que criadores estabeleçam relações diretas e de confiança com suas audiências. O público deixa de ser apenas um número e passa a ser uma comunidade, sustentando financeiramente o trabalho de quem realmente valoriza. O resultado é uma mídia mais autônoma, resiliente e plural, onde a diversidade de vozes prospera sem depender dos humores dos algoritmos.
O segredo desse novo modelo está na curadoria. Ao contrário do feed infinito das redes sociais, onde tudo se mistura, os novos modelos valorizam a escolha consciente: o leitor decide a quem dar atenção, tempo e dinheiro. Essa curadoria, feita tanto por criadores quanto por consumidores, é uma poderosa ferramenta para filtrar o ruído, elevar o nível do debate e fortalecer relações de confiança. Em vez de buscar audiência e joinhas a qualquer preço, os criadores podem se dedicar a produzir conteúdos mais profundos, relevantes e duradouros.
No entanto, à medida que mais pessoas migram para esses ambientes curados e sustentáveis, fica a questão: o que acontece com as redes sociais tradicionais? Se as vozes mais relevantes e engajadas buscam refúgio em plataformas independentes, as redes correm o risco de se tornarem depósitos de conteúdo superficial, desinformação e ruído — um terreno fértil para a desordem informacional. O tigrinho agradece.
O convite, portanto, é claro: cada assinatura, cada compartilhamento e cada minuto de atenção dedicado a um criador independente é um voto pela qualidade e pela construção de uma cultura digital mais saudável. É uma chance de retomar o controle do nosso tempo e da nossa atenção, cultivando relações mais autênticas e produtivas.
Mas fica a provocação: se a curadoria é o antídoto para o caos, e se cada vez mais pessoas adotam esse caminho, estaremos condenando as redes sociais a um futuro de irrelevância e ruído? Ou ainda há espaço para que elas se reinventem e voltem a ser espaços de encontro, troca e aprendizado? E o risco de se tornarem câmaras de eco de radicais só aumenta, o que pode nos trazer riscos ainda maiores à democracia e em como nos identificamos como sociedade e povo. As eleições de 2026 já estão quase aí e vamos novamente vivenciar esta montanha russa de emoções, turbinados pela velocidade deste século XXI.