O mercado latino-americano de telecomunicações está passando por problemas e desafios com margens curtas e dificuldades de crescimento, exceto as três grandes operadoras brasileiras. De acordo com levantamento feito pela Omdia em parceria com a Futurecom, os principais indicadores deste cenário são:
- Receita total;
- Margem EBITDA;
- A receita média por usuário (ARPU) móvel;
- A adoção do 5G.
Receita
Em faturamento de serviços de telecom (móvel, fixa, voz, OTT de vídeo e pay TV), o estudo revela que a América Latina registrou US$ 113 bilhões em 2024, um aumento de 2% ante US$ 108 bilhões ante o mesmo período um ano antes.
Segundo Ari Aguiar, gerente sênior de service providers Americas da Omdia, o Brasil responde por US$ 27 bilhões, um crescimento de 0,7% em dólares e 10% em reais. México aparece na sequência com aproximadamente US$ 23 bilhões e uma alta de 1,7%, e Colômbia teve algo próximo de US$ 6 bilhões em um incremento de 12,5%.
ARPU
No Brasil, ao considerar a rede móvel, o resultado positivo acontece, principalmente, pelas três grandes operadoras (Claro, Vivo e TIM) terem consolidado o mercado e por estarem em busca de uma “trajetória de recuperação”, ante uma repressão nos preços por muito tempo. Também colabora o fato de o ARPU (por moeda local) ter crescido acima da inflação, uma tendência que começou em 2022 devido à concentração (leia-se saída e divisão do espólio da Oi Móvel), foco em migração de clientes do pré-pago para o pós-pago e redução de descontos e promoções.
Em outros países da América Latina, o ARPU cresce abaixo da inflação. Aguiar também aponta que o tíquete médio por usuário chileno é maior que o brasileiro, mas o país passa por forte competição e queda nas receitas das operadoras, o que pode afetar a sua sustentabilidade financeira. Apesar disso, os preços praticados no Brasil são similares e estão alinhados com os valores praticados dos outros países da América Latina. A Colômbia também se destaca por adotar uma estratégia similar à brasileira de migração de clientes do pré-pago para o pós-pago.
EBITDA
Na margem EBITDA, o analista da Omdia indicou que as operadoras latino-americanas têm um jogo de escala. Ou seja, quanto mais usuários maior é a margem EBITDA. O problema é que as operadoras que não estão no topo da cadeia, acabam sofrendo com margens mais baixas. Deu como exemplo que as telcos que possuem abaixo de 30% de market share também têm EBITDA abaixo de 30%, algo que acontece principalmente no México, Peru e Chile.
Novamente, o Brasil aparece como um ponto fora da curva: “O Brasil é uma exceção também de novo nesse caso. Por quê? Aqui, as três principais têm uma margem operacional bem razoável, acima de 45%. É um setor que conseguiu se estruturar para estar saudável financeiramente”, explicou.
5G

Ari Aguiar, da Omdia, e o nível histórico de adoção de tecnologias celulares na América Latina entre 1994 e 2024 (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)
O estudo também trouxe uma avaliação sobre o avanço do 5G na América Latina. A adoção na região é baixa, desigual e com isso está atrás do restante do mundo, exceto se comparado com a África. Considerando dados do primeiro semestre de 2025, a penetração da quinta geração no Brasil é de 21%, México é de 16%, o que equivale a 80% de todas as conexões da região latino-americana – apesar de responderem por 50% do total de acesso.
Chile tem penetração mais alta que os outros países, 28%, mas isso ocorre por ser um país com uma população menor. Por esse mesmo motivo, as operadoras chilenas já cobrem 90% da população com o 5G contra 65% do Brasil.
Outro fator que colabora para o mercado latino-americano ficar atrás do restante do mundo são os leilões de frequência de alguns países que foram feitos recentemente. Um exemplo é a Argentina que realizou o certame no final de 2023, três anos após o Brasil. Como resultado, o país portenho tem apenas 1 mil sites 5G contra 50 mil do Brasil.
Também apontou que o ritmo de adoção do 5G na região começou rápido, mas hoje é mais lento que o 4G: “O 5G é a primeira tecnologia que não vai crescer mais rápido do que a anterior. A gente não pode falar que é um fracasso. É um crescimento bom, mas está mais abaixo do LTE”, disse.
A partir dos resultados no 5G local, o gerente da Omdia afirmou que as empresas de telecomunicações ainda não estão monetizando com as redes 5G. Mas o cenário demonstra uma pequena evolução com instalação de 5G-Advanced por algumas operadoras, o lançamento do primeiro handset 5G abaixo de R$ 1 mil e a chegada de novos fabricantes de celulares chineses que trazem mais competitividade, mas ainda não impactaram as vendas.
Ainda assim, a expectativa é que a América Latina alcance 931 milhões de conexões até 2030, sendo 592 milhões delas no 5G. Com isso, a rede de quinta geração móvel deve ultrapassar o 4G apenas a partir de 2029. Por sua vez, o Brasil chegará a 231 milhões de conexões neste mesmo período, 40% do total do mercado latino-americano.
Consolidação, inovação e investimentos
Com este cenário, o executivo acredita que o cenário é de possível consolidação na América Latina, uma vez que os players têm tamanho relevante no mercado, mas não tem conseguido resultados satisfatórios: “Um exemplo é a Telefônica. Na América Latina, a empresa vai ficar apenas no Brasil. Já vendeu cinco ou seis operações, as que sobraram também ela vai tentar vender, mas não é a única. Existem outras empresas que ou estão vendendo suas operações ou tentando fazer uma fusão com outras”, disse.
“Isso tem uma série de questões regulatórias, pois muitas autoridades de competição querem evitar uma concentração de mercado. Mas o que falamos é: ‘se você não tiver um mercado sustentável que consiga investir, talvez seja melhor realmente permitir uma concentração”, completou.
Para o Brasil, a lição que fica com os resultados é que as operadoras construíram uma “janela de oportunidade”, se recuperando após anos de disputas e resultados ruins em suas operações móveis e conseguiram estruturar suas operações. Agora, o momento é aproveitar esse momento de fôlego financeiro para inovar e arriscar em novos negócios (vide inteligência artificial, cloud, cibersegurança), pois apesar do cenário positivo, a receita total ainda é baixa. Também afirmou que as empresas devem apostar mais em serviços 5G.
“Nós vimos mais construção de redes 5G que inovação de serviço. As operadoras buscaram seguir mais metas de construção. Agora que estão começando a avançar inovações, como 5G-Advanced e cloud gaming, mas é limitado. Sem muitos riscos”, desenhou o cenário. “O momento de acelerar é agora. A receita do setor cresceu pouco, apenas 0,7%. Em investimentos, entre 2024 e 2026, o setor teve queda. As operadoras estão em um momento de reajuste financeiro e precisam trazer novos serviços para trazer a receita. Só ajuste do controle de custos e de investimentos não terá vida longa. Precisam estar preparados para o próximo passo que é inovação para atrair novas receitas”.
Tirando as três grandes, a lição para as ISPs é que elas podem replicar a estratégia de MVNOs brasileiras e avançar em outros países da região.
Imagem principal: Ari Aguiar, gerente sênior de service providers Americas da Omdia (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)