Imagine ter um amigo que te conhece tão bem a ponto de saber seu orçamento, o tipo de celular que você usa, suas cores favoritas e até que você corre todo sábado de manhã. Agora, imagine que esse amigo está disponível 24 horas por dia, pronto para te ajudar a escolher o melhor par de tênis, um novo fone de ouvido ou aquele presente de última hora.
Esse amigo invisível existe. Hoje, para 52% (Dado do Relatório Varejo 2025, pesquisa produzida anualmente pela Adyen) dos consumidores brasileiros, a IA já funciona como um personal shopper digital, ajudando a navegar em um mar de opções e transformando a experiência de compra em algo mais rápido, personalizado e, muitas vezes, mais prazeroso. Para compras recorrentes ou de menor valor agregado, a automatização de decisões simples libera tempo do consumidor para escolhas mais complexas ou estratégicas.
Aqui temos dois cenários: o primeiro, com agentes embarcados como copilotos de compras desenvolvidos pelos varejistas; e o segundo com sistemas de IA terceiros que se utilizam de universos mais amplos de informações para auxiliar o consumidor.
Um amigo que filtra produtos para mim
Quem nunca se perdeu diante de centenas de opções em um site ou marketplace? Foi o que aconteceu comigo recentemente, quando procurei fones de ouvido bluetooth. Me deparei com uma lista interminável de modelos, preços e marcas. E se, em vez disso, um agente virtual do marketplace em que mais compro me mostrasse as três melhores opções, dentro do meu orçamento, e até com sugestões de modelos um pouco acima ou abaixo do meu limite, explicando as diferenças?
E se o sistema ainda considerar que meu celular comprado meses atrás é da marca X, e recomendar fones que tenham melhor compatibilidade? Ou, sabendo meu estilo de vida, priorizar modelos esportivos? Esse é o lado fascinante da IA: ajudar as pessoas a economizar tempo, evitar sobrecarga mental e tornar as compras mais assertivas. Um alívio no meio de uma rotina cada vez mais acelerada.
Essa experiência digital tende a ser ainda mais valorizada pelas gerações mais jovens, como a Z e a Alpha, que já nasceram conectadas e esperam interações rápidas, hiperpersonalizadas e integradas aos seus interesses. Para elas, é quase natural que um assistente virtual entenda seus gostos e antecipe suas necessidades, mas também é esse público que costuma estar mais atento às questões de privacidade e uso de dados.
Bastidores complexos para uma solução “simples”
Por trás dessa experiência personalizada, há bastidores complexos. A IA funciona com base em um grande volume de dados. São hábitos de consumo, histórico de compras, buscas feitas online, cliques em anúncios, interações em redes sociais. Tudo isso alimenta sistemas que aprendem a prever o que você pode querer comprar. O desafio é que, na maioria das vezes, não sabemos exatamente quais dados estão sendo usados, nem como os algoritmos decidem o que nos mostrar primeiro. As empresas privadas que criam essas ferramentas nem sempre são transparentes sobre suas fontes ou critérios de ranqueamento.
Talvez nunca sejamos capazes de saber tudo. Mas é importante ter em mente que, assim como nas redes sociais, há o risco de vieses, publicidade disfarçada e decisões baseadas em dados incompletos ou enviesados.
Para os varejistas que querem estar listados no topo dos resultados apresentados pela IA, há um trabalho intencional a ser feito. Apesar de não sabermos com precisão como influenciar as recomendações, boas práticas se aplicam: monitorar a saúde de marca, manter presença em sites confiáveis, incentivar avaliações reais de consumidores, proteger a reputação em múltiplos canais e garantir transparência e segurança no uso de dados sensíveis.
Para nós, consumidores, fica o convite a sermos curiosos e exigentes. Aproveitar as facilidades que a IA oferece, mas sem entregar o controle de bandeja. Questionar as primeiras sugestões, entender como os sistemas funcionam e não ter medo de buscar outras fontes. Porque, no fim das contas, esse personal shopper invisível pode ser útil, mas a decisão final, felizmente, ainda é nossa.
