A Elea Data Centers está em conversas para atrair mais hyperscalers para o Rio AI City, iniciativa que envolve prefeitura do Rio de Janeiro e empresas para a montagem de centro de dados voltados para computação em nuvem e inteligência artificial. Nesta quarta-feira, 5, Gustavo Pereira, diretor de tecnologia da empresa, afirmou que a companhia tem memorando de entendimento (MoU) e tratativas com alguns clientes.
Até o momento, o único MoU divulgado publicamente é com a Oracle. Mas a ideia é anunciar mais parceiros em breve. Durante apresentação no DCD Connect | Brasil 2025, o executivo explicou que a proposta é atrair esses players por meio do posicionamento estratégico do data center que está localizado no Parque Olímpico do Rio de Janeiro, assim como a possibilidade de atuar com treinamento e inferência de dados para inteligência artificial.
“Hoje, um grande hyperscale pode treinar a inteligência artificial dele na Sibéria (longe) e não tem necessidade de latência durante o processo de treinamento de uma inteligência artificial. Porém, quando você vai utilizar a inteligência artificial depois de treinada, ou seja, fazer a inferência, o hyperscale precisa ter baixa latência”, explicou.
“Se falarmos da interação máquina a máquina e uso em sistemas autônomos como carros autônomos, a latência baixa se torna extremamente importante. Portanto, o Rio AI City tem a capacidade de oferecer uma infraestrutura para ser usada em treinamento e em inferência de IA porque estamos próximos dos grandes centros urbanos e com disponibilidade energética”, completou.
Rio x SP
Ante São Paulo, Pereira explicou que a vantagem do Rio de Janeiro é que a carga de energia suporta mais consumo. O executivo credita isso ao legado construído para as Olimpíadas e Paralimpíadas do Rio em 2016: “Tem uma disponibilidade energética imediata interessante. E para GW existem subestações de alta potência tão próximas desse data center que podemos plugar diretamente na rede básica”, detalhou.
Também reforçou que o Rio de Janeiro tem novas linhas de energias que serão ativas em 2026, algo que não está no radar para São Paulo. E complementou dizendo que o fato de o Rio AI City estar próximo da Barra da Tijuca, bairro na Zona Sul da cidade, o coloca perto das Cable Landing Stations (CLS) e dos cabos submarinos, o que permite acesso à alta conectividade para processar dados e IA.
Rio AI City e seu cronograma
Atualmente, o projeto é dividido em quatro fases:
- RJ 01 com 10 MW de capacidade, o data center já está operacional e também foi herança dos Jogos Olímpicos pela necessidade de a Globo distribuir conteúdo;
- RJ 02 com 90 MW, em desenvolvimento;
- RJ 03 e 04 que virão depois e terão, somados, 170 MW de capacidade.
Com planejamento até 2030, o projeto mira capacidade de 1,5 GW até 2030, mas pode chegar até 3,2 GW em longo prazo. Essa capacidade está em vias de avaliação por meio dos reguladores locais, exceto 250 MW que já estão garantidos em contrato.
Com R$ 60 bilhões de investimento e geração de 10 mil empregos ao longo da próxima década, a ideia é que o Rio AI City seja ainda um hub de inovação, algo que a prefeitura tem atuado fortemente, como ao atrair mais empresas, criar um ecossistema de startups e atrair nômades digitais.
Água e energia
Pereira também abordou dois pontos que estão ganhando destaque com o avanço dos data centers no mercado brasileiro: o consumo de água e a falta de capacidade de energia.
Citando o caso de sua empresa, o executivo explicou que, de fato, as tecnologias antigas de evaporação consumiam bastante água. Mas agora, as companhias do setor caminham para usar o Liquid Cooling, um resfriamento líquido que não é uma água pura (é um líquido misturado) que opera em sistema fechado e não vaza, não evapora, não sai do sistema e sua reposição é ínfima.
Com isso, o diretor de tecnologia detalha que o consumo de água dos data centers para refrigeração não é abundante e que a maior parte da água ingerida será de infraestrutura acessória, como banheiros.
Estocando energia
Em energia, Pereira reforçou que o Brasil não tem problema de geração de energia, mas o problema do país é a transmissão e o desperdício. Deu como exemplo o relato de um colega do setor energia eólica e solar que atingiu capacidade máxima de produção no dia dos pais deste ano e precisou ser desconectado do grid de energia por falta de capacidade de escoamento de consumo.
“Fazemos muito isso no Brasil: jogamos energia fora. Porque a energia é gerada, mas não tem como ser consumida”, disse o executivo. Para o diretor da empresa de data center, o problema é que não existe um modelo operacional de armazenamento de energia em dimensões de GW.
“Existem alguns processos que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) está desenvolvendo para tentar viabilizar o estoque de energia. Mas na escala de gigawatts, isso ainda é um grande desafio. Então, nós acompanhamos muito de perto isso”, completou.
Imagem principal: Gustavo Pereira, diretor de tecnologia da Elea Data Center (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)
