A inteligência artificial está sendo usada e testada pela Globo em cinco grandes frentes, entre elas o conteúdo de ficção. No AI Content Lab, nos Estúdios Globo, a companhia testa e explora ao máximo a ferramenta. No início de dezembro, por exemplo, fizeram a avant première internamente de uma história construída e produzida integralmente por IA. Ao todo foram usadas mais de 35 diferentes ferramentas de inteligência artificial para a produção de 30 minutos.
A história – sobre uma garotinha que mora numa periferia de São Paulo que adoece e encontra dois gatinhos de rua e eles se tornam seus amigos – foi desenvolvida internamente há cerca de um ano atrás e não será apresentada para o grande público.
“Nas primeiras vezes, a gente não conseguia fazer uma garota tipicamente brasileira, da periferia da cidade de São Paulo. Ela parecia uma indiana. Não havia nada que a gente fizesse para conseguir fazer esta garota se parecer com uma brasileirinha”, comentou Raymundo Barros, CTO da Globo, durante o Voices 2025, evento promovido pela Globo, no Rio de Janeiro, nesta quarta-feira, 10.
Leonora Bardini, diretora executiva da TV Globo complementou: “E ainda tiveram essa ideia de colocar uma pintinha que cada hora rodava num canto diferente do gatinho”.
Com o processo de criação ao longo de um ano, a ideia era justamente entender a velocidade da evolução da tecnologia.
“Quando vemos os dois últimos minutos da série, a diferença [de qualidade] é brutal”, contou Barros. “A nossa garotinha vai se tornando realmente uma garotinha típica daquelas que encontramos nos bairros da cidade de São Paulo. Hoje, temos o domínio de todo esse processo criativo. Não vai ao ar e não vamos colocar humanos sintéticos num horizonte visível. Mas, por outro lado, essas ferramentas vêm sendo utilizadas no dia a dia das novelas”, resumiu o CTO.
A Globo já utiliza IA para algumas cenas em séries e novelas. Em uma delas, inseriu um bebê recém-nascido em uma caixa de papelão que é encontrado na rua. “Ninguém coloca hoje em dia um bebê numa caixa de papelão. Ele foi criado por IA e está tudo bem”, exemplificou.
“Tem uma aprendizagem que a gente vem integrando dentro do nosso ambiente de conteúdo em escala”, explicou Barros. Correção de cor, substituição de efeitos visuais feito com técnicas de computação gráfica por uso de inteligência artificial, foram alguns exemplos dados do uso da ferramenta.
Monetização com IA na Globo
Outra maneira de usar a IA foi voltado para a monetização com o lançamento do Globo Ads PME, em que um pequeno anunciante pode planejar a criação de uma publicidade com um chatbot intuitivo. A ideia é que o assistente realize uma campanha dentro de um dos ecossistemas Globo, seja ele vídeo ou display, com custo muito mais baixo.
Há também uso de IA para o relacionamento com o consumidor, como o push notification nos aplicativos da Globo. “Isso não dá para fazer usando técnicas de machine learning tradicionais. Você precisa ter um profundo conhecimento e fazer as inferências de forma automática para conseguir construir essas ofertas ultrapersonalizadas”, explicou o CTO.
No momento, o setor de tecnologia da companhia se concentra em tornar o Globoplay em “um para um”, ou seja, a aplicação personalizada para cada assinante. E, para completar, a Globo possui 50 agentes que, atualmente, transacionam processos corporativos tradicionais dentro da empresa. É possível detectar a presença dessas soluções em contabilidade, finanças, contas a pagar, contas a receber, jurídico, recursos humanos, além da parte de analytics, capaz de gerar insights.
“Temos uma decisão de sermos uma organização AI first, com os humanos no centro”, resumiu Barros.
Foto principal: Raymundo Barros, CTO e Leonora Bardini, diretora executiva da TV Globo. Foto: Fábio Cordeiro/divulgação
