As operadoras têm um ativo valiosíssimo dentro da estrutura do PIX, o serviço de pagamentos instantâneos desenhado pelo Banco Central que será lançado oficialmente em novembro. Trata-se do controle sobre o provisionamento da numeração telefônica. Mas talvez as teles ainda não tenham atinado para isso… Explico a seguir.

O PIX vai permitir transferências instantâneas de dinheiro, sem custo para usuários finais, de forma simples, a qualquer hora e a qualquer dia da semana, entre contas bancárias ou de pagamento. Na prática, o PIX vai substituir não só as transferências que hoje são feitas em TED e DOC, pois estas são caras e complicadas, mas também boa parte das microtransações feitas em dinheiro vivo entre as pessoas, pois vai ser mais fácil e seguro mandar um PIX pelo smartphone do que abrir a carteira.

Para usar o PIX, o brasileiro vai precisar associar sua conta bancária ou de pagamento a uma ou mais chaves de endereçamento. As chaves de endereçamento são formas de identificá-lo. O Banco Central optou por trabalhar com três principais: CPF, email e número telefônico. Uma conta pode ser associada a mais de uma chave. Mas cada chave só pode estar associada a uma conta. E a chave mais valiosa é o número telefônico, pois é ele que está cadastrado nas agendas de contatos dos smartphones dos brasileiros. Eu não sei nem CPF da minha mãe, quanto mais o CPF de um amigo. Nem mesmo os emails  sei decorado e muitos não estão sequer gravados no meu celular. Mas tenho os telefones de todos armazenados na minha agenda de contatos no smartphone. Ou seja, se eu precisar mandar dinheiro por PIX para algum parente ou amigo, a transferência será feita para a conta que o destinatário tiver associado ao seu número telefônico.

A TIM lançou este ano a ideia de unir as operadoras em torno de um produto de carteira digital para pré-pagos, cujo saldo poderia ser usado para pagamentos variados. A proposta, aliás, foi anunciada pela primeira vez em uma live do Mobile Time, em maio. Não há nada de concreto ainda, mas se as operadoras criarem esse serviço e o integrarem com o PIX será um gol de placa. Imagine a cada nova linha pré-paga criada o usuário receber também uma conta de pagamento desse serviço já associada diretamente ao seu número recém-provisionado pela operadora? Claro que o usuário pode a qualquer momento trocar a conta associada ao seu número telefônico, mas as teles levam vantagem por saírem na frente e proverem a primeira experiência daquela pessoa com o PIX.

Até agora, quando se fala do papel das operadoras no PIX, é apontado somente a possibilidade de pagamento de contas com um QR Code, em lugar do boleto bancário. Mas a verdade é que a participação das teles pode ser muito mais profunda, se de fato aproveitarem a vantagem competitiva de controlar o provisionamento de números telefônicos. Até agora, contudo, a proposta da TIM ainda não evoluiu e nenhuma operadora pediu para fazer parte do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI). As operadoras têm a faca e o queijo na mão para serem protagonistas no PIX… mas falta lançarem um serviço financeiro.