O que antes fazia parte imaginário coletivo, milhões de objetos de uso diário conectados, é hoje uma realidade com a Internet das Coisas (IoT). Essa revolução tecnológica já está presente em 48% das empresas em todo o mundo, segundo pesquisa da companhia Marsh. E a estimativa é de que esses números aumentem exponencialmente, chegando a movimentar US$ 132 bilhões somente no Brasil, até 2025.

Com o IoT se concretizando em larga escala, muitos mercados tendem a desaparecer ou modificar, como o de seguros de carros e de planos de saúde, apenas para citar alguns exemplos. Na Alemanha, onde já existe uma legislação específica para carros elétricos, a perspectiva é que até 2030 grande parte da frota seja autônoma. Mas como isso funcionaria no Brasil, um dos países em que mais se registra roubos de automóveis? O carro autônomo é controlado remotamente, não existe uma chave para ligar e nem volante para dirigir. Com isso, se implementado no País, a perspectiva é de que o índice de roubos caia e que não haja mais colisões.

Na área da medicina, máquinas que operam remotamente, consultas virtuais, dispositivos que controlam o estado do paciente e transmitem os dados para especialistas, estando eles em qualquer parte do mundo, já fazem parte da rotina hospitalar em muitos lugares e até mesmo no Brasil. Não é um cenário irreal pensar que as pessoas, por conta desses avanços, vão viver cada vez mais. Sendo assim, até mesmo a reforma da previdência brasileira, em discussão atualmente no Brasil, deveria ser repensada.

Contudo, tanto a digitalização das máquinas de uma forma geral, quanto o crescimento de soluções IoT, abriu caminho para uma guerra velada, muito mais mortífera do que qualquer outra que já existiu. Desde que o mundo é mundo, qualquer luta só tem êxito se for calcada no poder armamentista. Desde a pré-história há indícios de que foi assim. O uso de paus e pedras fez com que os mais fortes ganhassem território. Na idade antiga, legiões treinadas e armas brancas deram espaço para os mais organizados. Na idade média foi a vez dos mais resistentes com as suas fortificações e cercos. Canhões, navios e mosquetes ocuparam o cenário bélico na idade moderna. Na contemporaneidade foram tanques, aviões e contaminação química.

Aliada aos armamentos contemporâneos surgiu a inteligência computacional e é aqui que a coisa realmente complica. Isto porque a guerra cibernética acontece de forma silenciosa no ciberespaço e sendo arquitetada nos porões da Internet. Nos Estados Unidos, a guerra cibernética é considerada, hoje, a principal ameaça à segurança nacional, maior até mesmo que o poder bélico da China ou a ação de extremistas islâmicos. É levada tão a sério que o departamento de defesa norte-americano criou sua própria divisão de combate cibernético. No atual cenário, a conclusão óbvia é que as nações que investirem em segurança vão dominar as que não têm. Elas vão controlar os serviços básicos das outras nações como abastecimento de água, eletricidade, os sistemas militares e as que não têm, simplesmente, ficarão subordinadas.

Os fatos comprovam que não se trata de teoria da conspiração. Para certificar basta ler o noticiário diário. Vamos trazer à luz alguns episódios recentes: o comando cibernético do exército dos Estados Unidos lançou um ataque digital contra o sistema informático militar de disparo de mísseis do Irã, em retaliação à derrubada de um drone de vigilância norte-americano. Enquanto isto, no sul da Flórida (EUA), o Conselho Municipal da Riviera Beach, pequena cidade do condado de Palm Beach, acionava a seguradora para pagar o resgate de 65 bitcoins, cerca de R$ 2,3 milhões, valor exigido por hackers para cessar ataques cibernéticos contra prefeituras e órgãos municipais. Já a Rússia afirmou ter detectado tentativas “vindas do exterior” para invadir os sistemas de controle da infraestrutura do país, como as redes de transmissão de energia.

Note que não é apenas uma nação hegemônica que lidera essa cruzada cibernética. Todas são vítimas e algozes ao mesmo tempo. Porém, pode parecer uma realidade muito distante do Brasil, já que não há relatos de invasões em larga escala destruindo sistemas de infraestrutura crítica no País. Não mesmo? Um relatório “Fast Facts” da Trend Micro revela que o Brasil está entre os países com maior fragilidade a ataques de hackers. No levantamento, que considerou todos os ataques detectados pela companhia no mundo, o País aparece em segundo lugar no ranking de ramsomware, com 10,64% das ameaças globais. Ou seja, estamos há muito tempo na mira de invasores.

O pior é que não se sabe exatamente os interesses ou as forças que atuam por trás de cada crime cibernético. Trata-se de um inimigo oculto, que age como mercenário atendendo aos mais diversos e escusos interesses. São vários os cenários futuristas e muitos deles baseados em IoT, que estão se tornando realidade. E sem segurança cibernética ficaremos todos reféns das ameaças inerentes da evolução tecnológica. O fato é que as nações e as infraestrutura críticas precisam investir agora para não se tornarem escravas de algo que nem mesmo temos conhecimento completo do que se trata.