Conectividade não é tudo igual. E, para deixar isso claro em palavras, foi necessário cunhar novos termos. Assim surgiram os conceitos de “conectividade significativa” e “conectividade diferenciada”, que não são exatamente opostos, mas são bem diferentes, ao menos em seus propósitos.
O acesso à Internet é tão importante que durante a pandemia a lei brasileira foi alterada para que fosse considerado um serviço essencial, tal como água e luz. Isso significa uma série de prerrogativas e direitos para as empresas que prestam esse serviço e para os seus consumidores. Por exemplo, a operadora não pode interromper o serviço arbitrariamente – o corte só pode acontecer por inadimplência ou por razões técnicas.
É verdade que não atingimos a universalização do acesso à Internet, mas estamos bem próximos disso, graças à expansão da telefonia celular. Hoje, 90% dos brasileiros acessam a Internet, ainda que através de aplicativos em telefones celulares, informa a última edição da pesquisa TIC Domicílios.
Boa parte do avanço da penetração da Internet se deve à expansão da telefonia móvel no país: 60% da população brasileira acessa a Internet exclusivamente através de dispositivos móveis.
Essa quase universalização da conectividade significa que concluímos a digitalização da nossa população e que podemos agora saborear as benesses econômicas que eram prometidas quando isso acontecesse? A resposta é não.
Pesquisadores logo perceberam que não basta dar acesso à Internet. Esse acesso precisa ser de boa qualidade. Daí surgiu o conceito de “conectividade significativa”, que consiste em um serviço com uma velocidade mínima para acesso a serviços básicos, como a realização de uma videochamada, e que não seja intermitente. Ter conectividade significativa também inclui ter um plano de franquia de dados que sustente um mês inteiro de uso; possuir um dispositivo com capacidade e memória adequados para a utilização dos principais aplicativos; ter acesso a conteúdos relevantes; e ter letramento digital para desfrutar disso tudo.
O termo conectividade significativa surgiu em 2019, proposto pela Aliança por uma Internet Acessível (A4AI), foi adotado pela União Internacional das Telecomunicações (UIT) e já se faz presente em políticas públicas de governos e órgãos reguladores ao redor do mundo, inclusive no Brasil.
Por sua vez, do lado da indústria móvel, surge agora o conceito de “conectividade diferenciada”. Este consiste na possibilidade de oferecer um acesso de maior qualidade para determinadas finalidades, aproveitando principalmente o recurso de network slicing das redes 5G Standalone. Máquinas de POS, aplicativos de streaming de vídeo ao vivo ou simplesmente usuários que queiram ter um acesso prioritário à rede em locais de grande movimentação são exemplos da potencial demanda por conectividade diferenciada. Obviamente, esse acesso privilegiado tem um custo adicional. O conceito está explicado na mais recente edição do Ericsson Mobility Report. As operadoras fizeram investimentos pesados em redes 5G, e serviços de conectividade diferenciada são tidos como um caminho de elas obterem retorno sobre esse investimento.
Chegamos, portanto, à era das múltiplas conectividades. A significativa e a diferenciada são as duas primeiras. Não sei quais serão as próximas, mas é fundamental entendermos a definição, o propósito e os interesses por trás de cada uma.
A ilustração no alto foi produzida por Mobile Time com IA