O filme “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”, apesar de ter sido o mais premiado da história, decididamente, estará nos top-10 dos que eu mais detestei. Tentei assisti-lo, mas não consegui avançar muito porque tive muita dificuldade em entender os conceitos de multiversos e universos paralelos apresentados na trama. Mesmo depois de ler várias críticas e sinopses, continuei sem compreender a história. Além disso, admito que também nunca consegui explicar, de forma simples e concisa o Metaverso, um dos temas mais discutidos no ano passado. Apesar de ser apaixonado por criatividade e inovação, esses conceitos me pareceram ainda muito confusos e complicados. 

O filme “A.I. – Inteligência Artificial”, dirigido por Steven Spielberg em 2001, retrata um futuro distante em que a tecnologia humana evoluiu consideravelmente no campo da robótica e inteligência artificial, após catástrofes ecológicas causadas pelo degelo das calotas glaciais. A humanidade criou robôs androides que replicam a aparência de seres humanos e servem incondicionalmente a seus donos, atuando como “escravos” e com emoção. David é um menino-robô programado para amar sua dona, mãe de um menino que está em coma, congelado, aguardando que a ciência encontre uma cura para sua doença. Quando ele volta para casa, recuperado, é estabelecido um conflito insolúvel com o robô-Pinóquio. Spielberg conduz, com sua incrível habilidade, a sombria história de amor do androide, transmitindo empatia pelo sofrimento e súplica do personagem.

Tudo muda de figura, porém, quando começamos a falar da aplicação da IA em nosso dia a dia. John McCarthy, um matemático e pesquisador da área de ciências da computação, cunhou o termo “inteligência artificial” em 1956 e sempre defendeu que a IA deveria interagir com os seres humanos. Desde o seu lançamento em 30 de novembro de 2022, o ChatGPT, uma ferramenta de inteligência artificial com capacidade para lidar com um volume infinito de dados e gerar respostas criativas para perguntas de qualquer grau de complexidade (daí o conceito de “generativo”), superou mais de 200 milhões de usuários e conquistou a posição de “aplicativo de consumo com crescimento mais rápido da história”.

Bill Gates afirmou, em 21 de março, que a inteligência artificial é o maior avanço tecnológico das últimas décadas, comparando-o com a criação do computador pessoal. O que é ainda mais surpreendente agora é a aplicação prática no dia a dia, à medida que os sistemas de IA se tornam cada vez mais integrados às ferramentas e aplicativos que já usamos para trabalhar e viver. As soluções de IA vão além do site simplista desenvolvido pela OpenAI. Em poucos dias, foram anunciadas soluções impressionantes, como o Microsoft 365 Copilot (16 de março), que utiliza recursos inimagináveis de IA integrados às ferramentas do antigo Office. O Google lançou em 21 de março o Bard em alguns mercados, que mudará a forma como pesquisamos na rede. No mesmo dia, a Adobe lançou o Firefly, onde será possível gerar imagens criativas e personalizadas através de comandos de texto.

A carta aberta emitida em 22 de março pelo Future of Life Institute, uma organização que busca reduzir os riscos de grandes tecnologias para a humanidade, e endossada por nomes como Elon Musk e Steve Wozniak, soou um grande sinal de alerta. Os riscos mencionados incluem a disseminação de propaganda falsa e desinformação, a potencial obsolescência humana e a perda do controle da civilização diante do avanço das tecnologias.

Inicialmente, escolas públicas de Nova York decidiram banir o ChatGPT, a fim de evitar que alunos o utilizassem como uma espécie de “cola” para resolver problemas matemáticos e escrever textos. Na Itália, o bloqueio temporário do ChatGPT foi justificado pela alegação de que a plataforma viola a lei local de dados pessoais, principalmente após uma recente brecha de segurança que expôs parcialmente conversas e dados pessoais de usuários italianos.

Esses eventos desencadearam discussões sobre a regulamentação da inteligência artificial, com reuniões governamentais sendo convocadas para debater o assunto. Como em outras ocasiões no passado, a inovação é colocada em xeque e considerada perigosa para a humanidade. 

Os dados são considerados como um recurso valioso há bastante tempo. A indústria tem aprimorado cada vez mais o uso da tecnologia de dados para mapear oportunidades de negócio, direcionar suas estratégias e visualizar novas oportunidades que outros ainda não perceberam. Com a aplicação da inteligência artificial no cotidiano, a transformação é, sem dúvida, disruptiva.

A Inteligência Artificial apresenta oportunidades de apoio inovadoras na indústria de serviços financeiros e meios de pagamento, que poderão acelerar ainda mais a inclusão financeira e digital. Tudo isso graças aos avanços dos sofisticados algoritmos de aprendizado de máquina que são capazes de analisar grandes quantidades de dados, incluindo histórico de crédito, dados financeiros e informações pessoais. Com essa análise mais precisa, assertiva extremamente rápida, é possível determinar a elegibilidade do cliente a um determinado produto ou serviço financeiro, permitindo que mais pessoas tenham acesso a esses serviços e produtos. Isso poderá impulsionar o desenvolvimento econômico e social, aumentando a eficiência e a transparência no mercado financeiro.

Com a aplicação de algoritmos de inteligência artificial, será possível otimizar a detecção de fraudes em transações de pagamentos, identificando, em tempo real, padrões de uso fraudulentos e reduzindo perdas financeiras, além de aprimorar a segurança de pagamentos presenciais ou virtuais. A biometria comportamental, por exemplo, será ainda mais potencializada, com novos recursos, proporcionando uma melhor experiência para o cliente, diminuindo o atrito durante a transação e aumentando a confiança do consumidor em relação aos meios de pagamento.

Os modelos estatísticos atuais para tomada de decisão de crédito serão revisados e aprimorados para maior precisão e eficiência operacional, o que é crucial para oferecer microcréditos e aprovar transações de cartão de crédito de forma mais eficaz, levando em consideração não apenas o limite de crédito disponível ou histórico passado. Fintechs de crédito em massa, como a britânica Abound, estão utilizando uma tecnologia que combina dados de open banking e algoritmos de aprendizado de máquina para construir um melhor “credit score” para seus clientes e impulsionar seus negócios.

A indústria de meios de pagamento poderá ser transformada ainda mais, oferecendo insights valiosos para os emissores melhorarem sua estratégia de marketing e segmentação de clientes. Além disso, os clientes esperam ter acesso imediato a informações detalhadas sobre suas transações com pagamentos instantâneos, remessas internacionais e cartões de débito e crédito, permitindo uma melhor compreensão dos gastos e uma maior educação financeira. Com modelos de aprendizado de máquina amplos e profundos, é possível capturar uma ampla variedade de dados de transações, incluindo nomes e categorias de comerciantes, geolocalização, canais e métodos de pagamento, e tipos de carteira digital. Isso ajuda a reduzir disputas de clientes junto às instituições, prevenir fraudes e personalizar ofertas de acordo com o perfil do consumidor.

Os chatbots de atendimento ao cliente estão prestes a sofrer uma revolução que mudará a forma como interagimos com eles. Em vez dos menus engessados ou opções limitadas baseadas em árvores de decisão que frequentemente nos deixam frustrados, a nova geração de chatbots oferecerá diálogos altamente sofisticados capazes de entender e responder a qualquer solicitação, indo além do que é oferecido atualmente. Por meio da combinação de inteligência artificial com tecnologias avançadas de segurança, como biometria física e comportamental, esses chatbots proporcionarão uma experiência de atendimento ao cliente superior à que estamos acostumados. Em resumo, prepare-se para interações muito mais intuitivas e eficazes com os chatbots de amanhã.

Em 1968, Stanley Kubrick nos presenteou com uma obra-prima que transcendeu sua época: “2001: Uma Odisseia no Espaço”. Enquanto HAL 9000 controlava a nave Discovery One em sua missão a Júpiter, o público ficou impressionado com o poder da tecnologia, que agora chamamos de inteligência artificial. Mas o mais intrigante foi a humanização do computador que, em um momento de desespero, revelou medo e emoção. Como um verdadeiro ator, HAL nos cativou e nos fez questionar a natureza da consciência. Não é à toa que a cena final é uma das mais icônicas do cinema, provando que as máquinas podem ser tão humanas quanto nós, em termos de emoções e expressões. Kubrick nos deixou um legado atemporal que continua a inspirar cineastas e entusiastas da tecnologia até hoje.

A avaliação da inteligência humana pode ser feita por meio de diferentes abordagens, como a análise das diferenças individuais, aptidões específicas e habilidades cognitivas. No entanto, mais do que nas respostas, a verdadeira inteligência pode ser medida pela capacidade de formular perguntas pertinentes, precisas e relevantes, bem como pela habilidade de filtrar as informações obtidas a partir das respostas. Nada pode substituir a complexidade e poder do nosso cérebro humano. Precisamos continuar valorizando e cuidando desse tesouro, pois é insubstituível e incomparável!