Imagem inspirada em Carlo Acutis, gerada por Inteligência Artificial (Midjourney)

O processo de canonização de Carlo Acutis tem sido comentado nas redes sociais e ganhado destaque nos portais de notícias. Afinal, a Igreja Católica Apostólica Romana validou o segundo milagre atribuído ao beato, que nasceu em Londres, em 1991, e morreu em 2006, em Monza, aos 15 anos de idade.

Extremamente devoto, o garoto tinha um trabalho de evangelização pela internet, fruto de sua habilidade com computação, o que deu projeção ao seu ministério. Acutis desenvolveu uma mostra digital sobre milagres eucarísticos no mundo e, mesmo antes do lançamento do iPhone em 2007, deixou diferentes registros de vídeos e fotografias, o que lhe confere o título informal de “ciberapóstolo”.

Por tudo isso, Acutis já é considerado por muitos o “padroeiro da internet” e sua fama se consolida, no melhor estilo “meio e mensagem”, através da plataforma digital. Mesmo sendo da geração da internet 1.0 (ou, como dizem os dinossauros digitais, “quando tudo era mato”), sua popularidade se consolidou de forma digital 2.0, nas redes sociais e nas telas de celulares.

Em menos de duas décadas desde a repentina morte do adolescente, sua memória é celebrada no mundo todo através da web, em threads do twitter, vídeos no Youtube, imagens em inteligência artificial, capinhas de smartphone e até um aplicativo temático para celulares, desenvolvido aqui no Brasil. 

O beato millenial (em breve santo) é, portanto, um sacrossanto reflexo da sociedade da informação. A devoção a ele é estabelecida na escala e ubiquidade global da internet, com dois milagres reconhecidos pelo Vaticano, um no Brasil e outro na Costa Rica. Na expectativa da canonização, fieis e curiosos – munidos de seus celulares – visitam a tumba onde o corpo preservado de Acutis está exposto, em Assis, na Itália (que, é claro, tem transmissão permanente pelo Youtube).

Por tudo isso, o carismático jovem tem se tornado um elo protagonista de re-ligação entre a Igreja Católica e uma nova geração de fiéis, culturalmente imersa na web através de seus celulares.Um artigo do VaticanNews define Acutis como modelo de um jovem contemporâneo que, em vida, foi uma criança comum, bem humorada, que torcia para o Milan e que era ativamente conectado à internet. Mesmo vivendo uma vida típica de sua geração, tinha o coração e mente voltados para Deus.

Eu que não sou católico fico tocado com o sorriso puro e a trajetória do garoto (e também sensibilizado com a força e fé de seus pais). O brilho virtual do “santo influencer”, portanto, se estabelece como uma relevante dimensão de uma instituição milenar que, cada vez mais, tem sido impactada pela legitimidade da vida digital. 

O caso de Carlo Acutis mostra também o quão potente e rápido pode ser o processo de popularização de um santo (a mensagem) que, à revelia dos processos institucionais, já foi canonizado nas telas dos celulares (o meio). Sobretudo revela que esse nosso mundo altamente conectado e tecnológico continua – para o bem e para o mal – demasiadamente humano.