A forma como fazemos buscas na Internet está mudando. Trocaremos as palavras-chave por perguntas. E em vez de recebermos de volta uma lista de links, teremos uma resposta em texto conciso e objetivo. Isso acarretará transformações profundas na web e nos nossos hábitos digitais.

Fazer uma busca na Internet requer conhecimento e técnica. Ao longo dos últimos 25 anos, aprimoramos pouco a pouco essa habilidade. É preciso escolher com sabedoria as palavras-chave, e distinguir a qualidade das fontes entre os milhares de resultados recebidos, afinal, nem sempre os primeiros links são os melhores ou os mais confiáveis. Precisamos entrar em várias páginas para consultar seu conteúdo, até chegarmos à resposta que queremos.

Da mesma forma que os internautas aprenderam a buscar na Internet, os provedores de conteúdo digital desenvolveram técnicas para tornar os seus sites mais facilmente encontráveis pelas ferramentas de busca. Criou-se toda uma ciência por trás disso, batizada de Search Engine Optimization (SEO). Trata-se de recomendações para aumentar as chances de um texto ser bem ranqueado na busca do Google. Isso inclui desde regras óbvias para qualquer um com bom senso, como ser um texto original e com informações exclusivas, até recomendações que podem piorar a fluidez e a beleza do texto, como a repetição de palavras e a obrigatoriedade de incluir certas palavras-chave no título. Em vez de embelezar os textos, o SEO muitas vezes os deixa mais feios e ruins de ler (para seres humanos), embora mais claros e encontráveis pelos robôs do Google. O SEO provocou intensas discussões dentro das redações e virou o terror de muitos jornalistas, especialmente os da velha guarda (como eu). 

Para piorar, as tais melhores práticas de SEO estão constantemente mudando, acompanhando as alterações do algoritmo de busca do Google. A sensação, para muitos jornalistas, é a de que em vez de trabalharmos para agradar os nossos leitores estamos trabalhando para agradar os robôs de busca.

Mas agora o cenário está prestes a mudar radicalmente, por causa da busca com inteligência artificial generativa. O internauta não precisa mais quebrar a cabeça para escolher as melhores palavras-chave em uma busca. Basta perguntar o que deseja. E em vez de receber de volta uma pilha de links para analisar um por um, recebe a resposta devidamente estruturada, em um texto curto e objetivo, com começo, meio e fim, acompanhado dos devidos links para as fontes da informação, caso queira verificá-las. É muito mais prático e rápido. Desde que assinei o ChatGP4 tenho feito buscas com muito mais frequência dentro dele do que do Google. É extremamente útil para a verificação de notícias recentes, por exemplo.

Mas como o ChatGPT 4 escreve cada resposta? É verdade que continua havendo uma busca na web, no caso dele, usando o Bing, da Microsoft, em vez do Google. Mas, depois, para a redação da resposta, como ele escolhe de quais fontes puxar quais informações? Por que prefere certas fontes e não outras? Não vai demorar muito para se iniciar uma engenharia reversa. E no lugar do SEO vai aparecer algo como um Chat Engine Optimization, ou CEO.

Para ser sincero, não acho que o SEO vai desaparecer. Nem mesmo a busca por palavras-chave. Na verdade haverá uma combinação dos dois tipos de busca (por pergunta natural e por palavra-chave, dependendo do caso). E provedores de conteúdo digital vão precisar seguir regras de SEO e de CEO (ou seja lá qual for a sigla que inventarão). E nós jornalistas vamos precisar nos adequar, ao menos enquanto não formos nós mesmos substituídos por robôs, quando finalmente poderemos deixar todas essas questões para os algoritmos discutirem entre si.