Os últimos seis meses no mundo da Inteligência Artificial parecem uma série de suspense corporativo, cujo último movimento é aquele capítulo final que tenta te prender para assistir a próxima temporada.

Por cerca de dois anos, a OpenAI reinou quase que sozinha no campo de batalha dos LLMs de alta performance. A Anthropic surgiu como a primeira desafiante séria, logo seguida pelo gigante Google, que entrou na briga para reclamar seu espaço. Durante todo esse tempo, a Meta assistia de longe, batendo os modelos de seus concorrentes apenas em alguns benchmarks específicos (lembrando que a Meta tem mantido seu modelo “topo de linha” como open source, diferentemente de todos os principais concorrentes).

Mas Zuckerberg decidiu que o tempo de observar havia acabado. Sua ofensiva foi intensa e começou em duas frentes: talento e dados.

Começando com a Meta fazendo ofertas astronômicas, de até US$100 milhões de bônus, para os pesquisadores e executivos mais importantes da OpenAI, Apple, Google DeepMind e Anthropic, e efetivamente levando vários destes talentos embora.

A prática foi duramente criticada pelos concorrentes como Sam Altman (OpenAI) e Dario Amodei (Anthropic), que consideram injusto inflacionar salários pontualmente e perigoso para a cultura das empresas. Segundo relatos da OpenAI, a debandada de funcionários para Meta trouxe inquietação interna e fez a empresa revisar pacotes de remuneração.

Em uma tentativa de projetar calma e controlar a narrativa, Sam Altman disse ao podcast ‘Uncapped’ que a tática não funcionava: “Eles (Meta) começaram a fazer ofertas gigantes para muita gente do nosso time. Tipo bônus de assinatura de $100 milhões, ou mais de compensação anual. Até agora, nenhum dos nossos melhores decidiu aceitar”. Contudo, o que ele esqueceu de mencionar foi a meia dúzia de pesquisadores de alto calibre que já haviam trocado de camisa.

Já Dario Amodei, da Anthropic, tentou transformar o ataque em um grito de guerra cultural, defendendo a ‘missão’ de sua empresa contra o poder do dinheiro da Meta: “Foi um momento de união da empresa: não cedemos, porque confiamos que as pessoas estão na Anthropic porque acreditam na missão” (em comentário feito para a revista Fortune).

Mas o verdadeiro golpe veio com um movimento que não mirava apenas os talentos, mas a própria fundação sobre a qual todos os modelos de IA são construídos: os dados. Zuckerberg comprou 49% da Scale AI por impressionantes 14,8 bilhões de dólares.

Para quem não conhece este nome, a Scale AI é especializada em preparação, rotulagem e curadoria de dados utilizados no treinamento dos modelos de IA e atende os principais players deste mercado, como a própria Meta, Google, OpenAI etc.

A reação dos concorrentes foi imediata. O Google era o maior cliente da Scale AI e rapidamente anunciou corte de relações após o negócio. O plano era pagar à Scale cerca de $200 milhões em 2025 por dados rotulados para treinar sistemas como Gemini. A OpenAI e xAI também revisitaram seus projetos com Scale AI por preocupação de proximidade com Meta, buscando alternativas neutras no mercado.

Até agora, tem prevalecido a “lei de escala” em IA, que, em poucas palavras, significa que quanto mais parâmetros um modelo de linguagem possui (e, portanto, foi treinado com mais dados), mais capaz e inteligente ele tende a se tornar. E é justamente aqui que a Scale AI entra. Porém, alguns pesquisadores estão dizendo que este cenário está mudando aos poucos, e os avanços de performance destes modelos estão vindo também de arquiteturas e técnicas de inferência mais inteligentes, não apenas do aumento de tamanho.

Isso deixa no ar a pergunta de 14,8 bilhões de dólares: a aposta colossal de Zuckerberg na ‘lei da escala’ é um golpe de mestre atrasado, que garantirá a coroa da IA para a Meta? Ou ele acaba de investir uma fortuna no mapa da guerra de ontem, enquanto seus rivais já desenham o campo de batalha de amanhã?

A próxima temporada será anunciada em breve!

 

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