O Mobile World Congress (MWC 2023), maior evento da indústria móvel no mundo, aconteceu nesta semana, em Barcelona, reunindo dezenas de milhares de representantes de operadoras, fabricantes de infraestrutura e de dispositivos móveis, provedores de soluções, analistas etc, sob a organização da GSMA. Após quatro dias de painéis, palestras e oito pavilhões de estandes, é possível identificar quais as principais tendências e bandeiras políticas da indústria móvel em 2023. Mobile Time lista abaixo um resumo delas.

6G, a rede que sente – As especificações para a sexta geração (6G) de telefonia celular ainda não foram definidas, mas as possibilidades já estão sendo desenhadas e apareceram nos estandes e nas falas de vários especialistas presentes na feira deste ano. A expectativa é de que o 6G alcance faixas de frequência na casa de 1 THz e velocidades próximas a 1 Tbps, além de usar inteligência artificial de forma nativa para se autoconfigurar e ser mais eficiente no uso de energia. Mas a principal novidade do 6G será a capacidade da rede de “sentir”. Cada antena será como um radar, tornando possível captar gestos e movimentos das pessoas ao redor, além de possibilitar a localização tridimensional de objetos com precisão de centímetros. Fala-se que o 6G vai viabilizar aplicações de réplicas digitais (ou “digital twins”) com comandos em tempo real, por exemplo. E a operadora japonesa NTT DoCoMo aposta na transmissão de toques e movimentos, tornando possível que uma pessoa sinta o tato de outra à distância.

Open gateway – As operadoras móveis decidiram abrir suas redes para desenvolvedores por meio de APIs padronizadas, em um projeto liderado pela GSMA e batizado como Open Gateway. Foram anunciadas as primeiras oito APIs e a participação inicial de 21 operadoras, incluindo América Móvil, Telefônica e TIM. A ideia é que isso seja uma nova fonte de receita para as teles, ao mesmo tempo em que vai fomentar a inovação com o uso de recursos das redes de telecom.

Convergência entre satélites e celulares – Os satélites e os celulares nunca estiveram tão próximos. Começam a surgir experiências de integração do 5G com as chamadas redes não terrestres (NTN), o que consiste, objetivamente, na conexão via satélite. Já havia uma integração entre as duas tecnologias, mas se limitava ao uso do satélite para backhaul de torres celulares instaladas em locais remotos, onde a fibra não chega. Agora se trata de uma conexão direta entre celulares e satélites de baixa órbita. Fabricantes de chipsets, como Qualcomm e Mediatek, anunciaram recentemente a produção de modelos capazes de estabelecer essa comunicação direta. Por sua vez, a norte-americana Lynk desenvolveu uma solução agnóstica que permite que qualquer celular se comunique diretamente com um satélite. Foi perceptível também o aumento da presença de empresas de satélites na feira, como a SES.

Redes privativas móveis – Essa é a nova fronteira a ser explorada por operadoras e fabricantes de equipamentos. Indústrias dos mais variados setores estão começando a experimentar a montagem de redes privativas móveis, especialmente para cobertura outdoor, mas também em amplos ambientes internos, para se livrarem dos fios e terem boa qualidade de movimentação para veículos guiados automaticamente (AVGs, na sigla em inglês). Integradores, fabricantes de equipamentos Wi-Fi e hyperscalers também disputam esse mercado e ainda não está claro quem vai liderá-lo, nem qual será o modelo de negócios predominante.

Usage gap e custo da infraestrutura – O MWC trouxe de volta duas bandeiras antigas do setor de telecomunicações e que estão interligadas: a falta de conectividade de quase metade da população mundial e a falta de participação das big techs no investimento em redes. Os dois temas foram abordados no painel de abertura e em outros ao longo do evento. Existem hoje 3,6 bilhões de pessoas sem acesso à Internet móvel no mundo, sendo que 3,2 bilhões delas vivem em áreas com cobertura móvel. Ou seja, é, em geral, gente que não pode pagar pelo serviço e/ou pelo handset. Para chamar a atenção para o problema, a GSMA espalhou a hashtag #usagegap pelas paredes da feira. Paralelamente, as teles reclamam que as big techs se beneficiam da evolução das redes de telecom, mas não contribuem com esse pesado custo, que fica todo nas mãos das operadoras. A reclamação é antiga, mas dessa vez começa a encontrar eco nos meios políticos e regulatórios europeus. Um sinal disso foi a presença de Thierry Breton, comissário para o mercado interno da Comissão Europeia, no painel de abertura. “Qual infraestrutura a Europa precisa para liderar a transformação digital? Como garantimos que esse investimento seja mobilizado de forma eficiente? Nossa regulação está adequada para isso? Essas são questões fundamentais”, ponderou. Só de ele ter aceitado o convite e ter demonstrado abertura para discutir o tema já é uma vitória para as operadoras.