O celular pesava 84 gramas. (Crédito: divulgação)

Nos anos 2000, os celulares ainda estavam se popularizando. Novas tecnologia surgiam a cada ano e ainda não existia um design geral consolidado, como os smartphones atuais. A cada lançamento, os fabricantes experimentavam com novos formatos e recursos, tentando emplacar modelos ousados. Uma das marcas que mais apostava em designs excêntricos era a finlandesa Nokia. Em 2004, a fabricante anunciou o Nokia 7280, que não parecia com nada disponível na época. Seu formato totêmico lembrava os reprodutores de MP3, que se popularizaram quando o compartilhamento de arquivos digitais de música se tornou comum. 

A câmera era revelada pelo mecanismo slider. (Crédito: divulgação)

Seu design era tão disruptivo que nem teclado possuía. Toda navegação no celular era feita por um botão redondo, chamado Navi-Spinner, com um círculo rotativo, similar à Click Wheel, do iPod. Ao contrário da tecnologia touch da Apple, seu giro era mecânico. Para fazer ligações e escrever mensagens era preciso navegar linearmente entre os números e as letras rotacionando o Navi-Spinner, algo um tanto trabalhoso. A Nokia tentou facilitar a vida dos usuários usando um modelo preditivo de texto, com sugestões de letras, além de um sistema rudimentar de comando por voz para acessar algumas funções. Para ligar para uma pessoa, por exemplo, era preciso gravar um comando correspondente.

Sua tela, de 3 cm por 1,5 cm, era desenvolvida para navegação na horizontal. (Crédito: divulgação)

O 7280 também era conhecido por “lipstick phone”, ou “celular batom” em inglês. Por fora, ele tinha acabamento brilhante, adornado com linhas brancas e prateadas, além de pequenos retalhos de um tecido preto que lembrava camurça. Por dentro, um mecanismo slider revelava a cor vermelha, como um batom. O deslizar também servia para atender e encerrar ligações. O 7280 tinha suporte GSM e GPRS, com a acesso à rede 2G e rádio FM. Além de chamadas e SMS, podia enviar e receber MMS. Apesar do design compacto, com apenas 84 gramas, tinha uma câmera VGA de 0,3 MP, que era revelada pelo mecanismo slider.

Pelas limitações do design, recursos de entretenimento não eram o seu forte. Não havia games e nem entrada para fone de ouvido. Junto ao celular, a Nokia lançou o Wireless Image Headset, que combinava com o dispositivo. Ele podia ser utilizado via Bluetooth e apresentava uma pequena tela de 128 por 128 pixels, que mostrava quem estava chamando, permitia fazer ligações, navegar nos contatos e mostrar fotos. O tamanho do display do celular dificultava a navegação na Internet, porém ele podia ser usado como modem para outros dispositivos, como notebooks e palmtops. Entre outros recursos, o aparelho tinha um gravador de voz e ligações, assim como alarme, notas, calendário, lista e um reprodutor de vídeos.

O design do Wireless Image Headset combinava com o 7280, ao qual podia ser integrado. (Crédito: divulgação)

O design ousado era por uma razão: o 7280 fazia parte da Fashion Collection, da Nokia, que se traduz para “coleção de moda”. Não à toa, quando a pequena tela, de 3 cm por 1,5 cm, estava desligada, se transformava em um espelho. A linha, apresentada em um evento em Xangai, na China, foi descrita como “inspirada no glamour e elegância da luxuosa década de 1920”, combinando “o estilo art déco do velho mundo com um toque moderno”. A Nokia afirmava que “influências de estilo, como fluxo e movimento, cor, geometria, detalhamento e gráficos foram a inspiração e a energia criativa por trás da coleção”.

O Nokia 7280, em específico, foi apontado pela fabricante como “elegante e sexy”. Sua “sofisticação e estilo” tornava o “dispositivo tanto uma obra de arte, quanto uma peça avançada de tecnologia”. Referindo-se ao aparelho como “o telefone fantasia para fashionistas”, a Nokia sugeria que ele seria “perfeito para ir a coquetéis”, pois foi “desenvolvido para atrair a atenção e se tornar o assunto de conversas em qualquer festa de alto glamour”. Além disso, garantia aos futuros proprietários que poderiam manter o dispositivo seguro graças à sua “alça chique e bolsa de transporte”, ambos acessórios que vinham junto na caixa.

O comercial da coleção foi dirigido pelo famoso fotógrafo e diretor David LaChapelle. Há três tomadas de cenas, exibindo cada um dos três celulares que foram lançados na Fashion Collection: o 7280, 7260 e 7270. Com certeza, o celular batom era de longe aquele com design mais excêntrico. Considerado um dos melhores produtos do ano pela Fortune Magazine, em 2004, também foi aclamado pelo júri da premiação de design de produtos iF, em 2005. O sucesso foi tanto que o celular nas mãos de celebridades e também em videoclipes, como da música “Beep”, das Pussycat Dolls, e “Say I”, de Christian Mulian.