Há 20 anos, em 2005, o CGI.br (Comitê Gestor da Internet do Brasil) se preparava para apurar os dados da primeira edição de uma série histórica de levantamentos que acompanharam a trajetória de crescimento do acesso à conexão no Brasil, a Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação – TIC Domicílios e TIC Empresas. Exatamente naquele ano nascia o Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), como um departamento do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR).
A primeira pesquisa foi realizada entre agosto e setembro de 2005, e publicada em 2006, ainda sem o nome do Cetic.br, que só passaria a assinar as edições seguintes, embora a essência do Centro já estivesse impressa no documento, pelas observações feitas pela equipe do CGI.br em artigos que acompanharam os resultados.
O diretor-presidente do NIC.br, Demi Getschko, destacava como o uso do domínio “.br” estava crescendo, passando de 851 no início de 1996 para 866.9 mil dez anos depois. Àquela altura, o Núcleo conseguia identificar quantos “hosts” (ou computadores) estavam conectados aos endereços distribuídos com o domínio brasileiro, identificando um total de 4,3 milhões em 2005. Contudo, embora o “.br” fosse a ampla maioria dos endereços registrados à época, ainda não era o todo.
Foi neste contexto que representantes do CGI.br apontaram na publicação que a iniciativa do Comitê de produzir indicadores de “presença / penetração das tecnologias de informação e comunicação (TICs) no Brasil preenche uma lacuna crucial” daquela época, “já que nenhuma outra instituição pública ou privada vinha dando a devida importância ao tema”.
“Até então, pesquisadores, praticantes de projetos, empreendedores e entidades governamentais tinham que se basear em estatísticas internacionais, em geral estimativas imprecisas, defasadas e incompletas, ou em dados nacionais sem o detalhamento e atualidade proporcionados por esses novos indicadores”, apontaram na publicação os então integrantes do CGI.br Carlos Afonso, representante do terceiro setor, e Luiz Fernando Soares, representante da comunidade científica e tecnológica.
A partir dos dados, o Comitê buscava chamar atenção para “a gravidade das injustiças e disparidades sociais, econômicas e regionais”, que começavam a ser reveladas em levantamentos da Anatel e do IBGE quanto ao acesso aos serviços de telecomunicações. Os dados daquele ano apontavam que havia mais de 2,4 mil municípios sem sinal de telefonia celular e, coincidentemente, o mesmo quantitativo sem internet, o que em termos de habitantes estaria em torno de 20 milhões de brasileiros.
Então veio a TIC Domicílios, seguindo padrão metodológico internacional da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e da Eurostat (Instituto de Estatísticas da Comissão Europeia), para que os valores pudessem ser comparados com os dados de fora do país. Os questionários proporcionaram recortes do acesso por região, idade, dispositivo e renda, além de problemas de segurança cibernética percebidos pelos usuários, habilidades digitais e intenção de aquisição de equipamentos de TICs.
A TIC Empresas, por sua vez, aprofundou informações sobre o uso de computadores por cada setor econômico, replicando a preocupação com a segurança cibernética e incluindo levantamento sobre comércio eletrônico – revelando que apenas 37% das instituições que já possuíam acesso à internet vendiam serviços pela rede, por exemplo – além de avaliar o acesso a serviços de governo eletrônico, o que refletiu disparidades regionais e entre grandes e pequenas empresas.

Dados do Cetic.br subsidiaram debates no I Fórum da Internet no Brasil, evento do CGI.br, em 2011| Foto: Divulgação/CGI.br
Aquele diagnóstico era apenas o início. A consolidação do Cetic.br, assinando a pesquisa referente ao ano de 2006, veio justificada como uma resposta ao “desafio de produzir e analisar indicadores capazes de aferir o crescimento e uso da rede”. Consta, ainda, que a medida foi influenciada por uma colaboração com o Observatório para a Sociedade da Informação na América Latina e Caribe (OSILAC) da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe das Nações Unidas (CEPAL), que vinha atuando no desenvolvimento dos indicadores chave das TICs, aprovados na Cúpula Mundial da Sociedade da Informação (CMSI), que havia ocorrido no ano anterior.
Ao longo dos anos, o levantamento incorporou novos cadernos, que acompanharam as demandas de políticas públicas. Em 2010 foi realizada a primeira TIC Educação, detalhando onde, como e quantos estudantes têm acesso à internet.
A partir de 2013, houve a inclusão de dados mais detalhados, e o Centro foi pioneiro em revelar que levantar o número de alunos conectados não é o suficiente, pois a qualidade da conexão é determinante. Com essa preocupação, a Cetic.br mostrou que mais da metade das instituições públicas tinham conexão de apenas 2 Mbps.

Lançamento da TIC Empresas e TIC Educação 2011 | Foto: Divulgação/NIC.br
Atualmente, levar conectividade significativa a toda a rede pública de ensino básico se tornou uma política de Estado, com meta que se repete em diferentes governos. O levantamento do Cetic.br é citado como fonte em diversos diagnósticos que fizeram parte da tomada de decisão, no âmbito do Poder Executivo e Legislativo.
Cetic.br incrementa suas pesquisas
Entre as mais recentes novidades está ainda a TIC Kids Online, que também se tornou referência ao revelar que o acesso a plataformas digitais ocorre cada vez mais cedo entre crianças e adolescentes, se tornando dados comuns nos debates sobre regulação e controle parental.
Nesta semana, em cerimônia que comemorou os 20 anos do Cetic.br, foram anunciados novos desafios pela frente, alinhados aos principais temas da tecnologia: inteligência artificial e data centers.

Diretor-Presidente do NIC.br, Demi Getschko, em cerimônia de comemoração dos 20 anos do Cetic.br, em São Paulo. Foto: Reprodução/NIC.br
Getschko, considerado “pai da internet no Brasil”, e que esteve na criação do Centro, marcou presença, destacando que o trabalho é reflexo de uma estrutura multissetorial – a qual o NIC.br e com isso, o Cetic.br, estão inseridos, por meio do CGI.br.
“Continuamos confiando nas medições que o Cetic.br tem feito e esperamos que continue assim por muito tempo. […] Confio no apoio geral de que o modelo brasileiro de governança de internet, esse dual político-técnico, continue sólido e funcionando pelos próximos anos”, concluiu Getschko.