Roberto Parizotti/Fotos Publicas

Manifestação dos motocicletas em São Paulo nesta quarta-feira, 1

A manifestação da greve de motociclistas de delivery teve ao menos 5 mil participantes em São Paulo. Realizada na manhã desta quarta-feira, 1, o movimento passou pelas principais vias da capital paulista, como Marginal Tietê, Avenida Rebouças, Avenida Paulista e Avenida Águas Espraidas. A informação foi compartilhada com Mobile Time pelo SindimotoSP, o sindicato da categoria.

Outra via importante da cidade, a Rua da Consolação, na região central da cidade, foi fechada no começo da manhã pela CET para a passagem dos manifestantes. Ainda na região metropolitana de São Paulo, houve paralisação em trechos da rodovia Dutra. A manifestação saiu do Brooklin, região das Águas Espraiadas para a Barra Funda, onde fica o 2º Tribunal do Trabalho.

Procurada por esta publicação, a Secretaria de Segurança Pública reiterou que os atos ocorreram com normalidade e sem acidentes. A CET e a Secretaria Municipal de Transportes também foram procuradas para falar do impacto da movimentação, mas não retornaram.

Fora de São Paulo, Espírito Santo, Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco também registraram manifestações em suas capitais. As mais fortes, segundo imagens das redes sociais, foram em Belo Horizonte e Recife.

Com a campanha #brequedosapps, a greve também movimentou as redes sociais. De acordo com um levantamento da Stilingue, plataforma de inteligência artificial (IA), nas últimas 24 horas foram contabilizadas 12.447 publicações, divididas em 3.756 na terça e 8.691, nesta quarta. Vale destacar que no Instagram a tag teve 9,1 mil menções, com citações de apoiadores, grevistas e comerciantes.

Empresas x entregadores

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As companhias de apps foram procuradas novamente para explicar como estavam suas operações e eventuais posicionamentos sobre a greve. A Uber informou que a greve não afetou 100% dos entregadores e que operação do app “segue normal” com apoio dos motoristas. A companhia não quis informar se houve queda na quantidade de entregas em comparação com um dia normal.

A 99 diz que há normalidade em sua operação de delivery, o 99Food. E, assim como reportou na última segunda-feira, 29, a empresa lembrou que adotou uma série de medidas para apoiar os entregadores, como: o envio de EPIs para evitar contágio com o novo coronavírus, não suspensão ou desativação arbitrária de seus associados, oferta de seguro de acidentes e criação de um fundo de suporte aos parceiros composto de US$ 10 milhões usados para ajudar aqueles que contraírem o vírus.

“Os entregadores parceiros têm visibilidade sobre seus ganhos por pedido no aplicativo. Embora a empresa tenha registrado aumento no número de cadastros de entregadores parceiros durante a pandemia, não houve alteração na forma como os valores das entregas destes profissionais são calculados e repassados”, disse a 99 em nota. “A 99Food está empenhada em promover um ambiente com oportunidades de maiores ganhos aos entregadores parceiros através de mais pedidos, taxas mais baixas em comparação com os concorrentes e rotas mais inteligentes, tornando suas viagens mais eficientes”.

O iFood também replicou a nota reproduzida por esta publicação na última segunda-feira, ao dizer que aplica: taxa mínima de entrega, distribuição de EPIs, oferece seguro de roubo, acidentes e vida, esclarece que a desativação não é feita por robôs e que não usa ranking de pontuação. Além disso, a empresa informou que a operação está normal, acompanha a greve desde a manhã e que “acionou um plano para manter as operações em funcionamento”, mas não esclareceu quais são essas ações.

Vale lembrar que desde terça-feira circulam imagens de SMS do iFood para os entregadores nas redes sociais. No texto, a companhia oferece R$ 30 por hora rodada para motoboys que trabalharem no dia da greve.

E a ABO2O, associação que representa as empresas que atuam neste segmento, disse que os apps têm oferecido kits de higienização durante a pandemia e que não houve redução nas taxas de remuneração. E lembra que os motofretistas são livres para entrar ou desligar os apps, e reitera que os estes não fazem corte arbitrário dos motociclistas.

Importante dizer que ABO2O, iFood e 99 afirmaram que compreendem o direto à greve e liberdade de expressão de seus associados.

James, Loggi e Rappi não responderam à reportagem.

Contraponto

Em publicação na sua página pessoal no Twitter, o líder do movimento Entregadores Antifascistas e um dos principais defensores da greve e da categoria, Paulo Lima (Galo), publicou uma série de tweets rebatendo a nota do iFood. Algumas das suas críticas são:

– A empresa possui apenas um centro de higienização em São Paulo, mas atua em 600 cidades;

– Investiu R$ 14 milhões em ações de apoio para os entregadores, mas tem valoração de mais de US$ 1 bilhão;

– O fundo para apoiar entregadores que contraíram a Covid-19 cobre apenas 1,4% dos associados, por um mês;

– Pesquisa recente da UFPR que relata uma queda de renda para 60% dos entregadores durante a pandemia, com média semanal de R$ 260 para um terço deles;

– A parceria de seguro saúde dura apenas três meses e não cobre urgências, como acidente de moto;

Paulo Lima e os líderes do SindimotoSP foram procurados por Mobile Time, mas não responderam até a publicação desta reportagem.

Restaurantes

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Na outra ponta da greve, Mobile Time procurou uma série de restaurantes, bares e vendas comerciais de bairro para entender como elas atuaram durante a greve. As respostas mais comuns foram a contratação de profissionais por conta própria – para atender a demanda do dia -, além de reclamações sobre o modelo de negócios dos apps.

Em São Paulo, cidade epicentro da greve, o Old Bar e Gastronomia contou que se preparou para este cenário com a contratação de entregadores próprios. Eles aceitam entregas pelos apps, mas a logística é feita internamente, sem os entregadores da plataforma. Ainda assim, explicam que não desligaram o app durante a greve, mas ele automaticamente diminuiu o volume de pedidos.

O Lujain Restaurante Árabe fala que a operação segue normal pelo iFood, único app com o qual trabalha, uma vez que também não usa os entregadores das plataformas, mas seus próprios frentistas.

Por sua vez, Edson André, sócio proprietário do restaurante Seu Quintal Comedoria, aderiu à greve em apoio aos manifestantes e por medo que afetasse sua atuação: “Desligamos os apps, pois entendemos que não funcionaria de qualquer jeito. E mesmo se funcionasse, daria mais dor de cabeça para resolver cada pedido que não foi, cada motoboy que não chegou. Desligamos, e como estamos em uma expectativa da retomada (do serviço de salão) na segunda-feira, 6, nós tiramos o dia para fazer uma limpeza robusta, ajustar posições e definir um plano para essa retomada e chegar semana que vem com força total”.

“A gente apoia a iniciativa da greve. É legítima a reivindicação. Por mais que atrapalhe a gente, eles são uma parte muito importante desse mecanismo. Por isso, é necessário que recebam melhores remunerações, sejam tratados com mais humanidade. E a gente vem passando por tanta coisa que é o momento de retornar, que estamos nos enchendo de esperança, e não dá para reclamar, não. A gente apoia fazendo do nosso lado aquilo que nos cabe”, completou André.

Por sua vez, o Empório Steak na Brasa, também apoia a paralisação, mas segue com o app ligado. Até o final da tarde, não havia realizado nenhuma entrega via iFood, o app que utiliza. O estabelecimento explicou que não deve ter muito impacto em suas atividades, pois de cada dez entregas que realiza, apenas uma é pelo app.

O restaurante árabe Kaliz disse que não teve problemas, pois a logística é própria. E o Empório Bea informou que recebeu ciclistas e motoristas de carros para retirar as entregas.

Em outra cidade, Curitiba, o Empanadas Don Hugo, aderiu à logística com entregador próprio no mês passado e para o serviço de apps terá retirada no balcão. Relatou que os motoboys que trabalham consigo e com os apps não aderiram à greve. A equipe do restaurante lembrou que nesta quarta-feira é o primeiro dia de operação sem atendimento em salão na capital paranaense, devido às novas regras de distanciamento social na cidade. Mas ressaltou que os motofretistas têm direito de fazer a greve.

Ainda vale notar que vários restaurantes famosos publicaram em suas redes sociais como atuariam nesta quarta-feira.