Às vésperas de lançar as novas versões de seu app para Android e iOS, que contarão com catálogo mais amplo e melhor adequação do streaming à qualidade da banda do usuário, a CEO da NetMovies, Claudia Woods, conversou por telefone com MOBILE TIME sobre a estratégia da empresa em mobilidade.

Mobile Time – Como os dispositivos móveis estão transformando o hábito de assistir filmes do brasileiro? Qual é o impacto disso no assinante da NetMovies?

Claudia Woods – Falamos sobre múltiplas telas há pelo menos cinco anos.  As pessoas agora assistem TV com um tablet na mão. Com o crescimento de dispositivos móveis vemos isso acontecer cada vez mais. O assinante entende que pode assistir na TV, no PC e no celular. É uma mudança brutal em relação às opções de entretenimento. Na prática há dois perfis de assinante: o que está focado em uma única forma de acesso e aquele que troca de aparelhos e lugares onde assist. Estar no mobile não é opcional. Mas entendemos como uma semente lá para frente. De qualquer forma, preciso ressaltar que 80% do nosso negócio ainda vem de DVD e Blu-ray e isso vai continuar por no mínimo mais 3 anos.

A entrega e a devolução de DVDs gera um custo para a NetMovies. A empresa pretende incentivar a migração para o conteúdo digital como forma de reduzir esse custo?

O digital também tem um custo de distribuição que se você for comparar é bem parecido com o custo de entrega de um filme físico. No digital precisamos pagar pelo armazenamento, pela plataforma do player, pelo uso do DRM etc. No fim das contas, o custo de distribuição digital é parecido com o de entrega física. Hoje, nossa operação com DVD e Blu-ray subsidia a digital em 100%. Todos os nossos assinantes têm acesso ao catálogo digital sem custo adicional. E existe a questão do conteúdo: as janelas de liberação dos estúdios para vídeo sob demanda (VOD) é de até dois anos depois do cinema. Isso é frustrante, mas faz parte do modelo de monetização dos estúdios. Se eu migrar para o streaming, vou deixar de ter títulos como "Os vingadores", "Batman" e "Homem Aranha", que hoje tenho na janela de locação. Lançamentos e filmes alternativos estão no catálogo de DVD e Blu-ray. O que está no meio caminho aparece no streaming. E o perfil de uso é bem distinto. O DVD é mais para momentos planejados, como uma viagem em um fim de semana, enquanto o streaming é quando não se tem nada melhor pra ver na TV. Ou seja: o digital vai continuar atuando de forma complementar durante muito tempo.

A NetMovies tem um catálogo de 35 mil títulos em DVD. Quantos deles estão disponíveis em formato digital?

5 mil. Se considerarmos episódios de séries, chega a 6 mil.

Quantos assinantes a NetMovies tem hoje e quantos deles acessam através de dispositivos móveis?

Não divulgamos o número de assinantes O que posso dizer é que houve um crescimento de 12,2% nos acessos móveis no terceiro trimestre em comparação com o segundo trimestre. Se considerarmos apenas aparelhos Android, esse crescimento foi de 56%, puxado principalmente pela Samsung.

A NetMovies está desenvolvendo um player novo para dispositivos móveis?

Nosso player antigo trabalhava com três níveis de qualidade (alta, média e baixa) de acordo com a banda do assinante. O player novo vai ter cerca de 20 níveis diferentes, justamente visando conseguir um equilíbrio melhor entre buffering e qualidade da imagem. Acostumamos mal o assinante com o Blu-ray: quando ele assiste no celular acha horrível. Há, portanto, um desafio grande quanto à velocidade da banda. Talvez no 4G melhore. Até o final de novembro teremos um player novo para Android e para iOS. Outra novidade é que tínhamos uma limitação de conteúdo no mobile em função de DRMs específicos exigidos por alguns estúdios. Como não estávamos adequados, o acervo no PC era diferente daquele disponível em dispositivos móveis. Agora os catálogos serão 100% iguais. 

Há planos de um app para Windows Phone?

O Windows Phone está na lista. A previsão é para o primeiro trimestre do ano que vem. 

E como está o uso de tablets?

Começamos a viver esse fenômeno dos tablets com a pulverização dos pontos de Wi-Fi. Tablet é muito visto em casa, como uma segunda tela. E agora está aparecendo em outros espaços urbanos: invadiu os restaurantes e os shoppings. Estive em Nova Iorque e não ativei meu plano de dados: usei Wi-Fi em toda parte e não passei sufoco. A Starbucks fica lotada porque tem Wi-Fi de graça.

Qual a sua avaliação da competição no mercado de distribuição digital de vídeo no Brasil?

Hoje todo mundo é meu concorrente. Está todo mundo plantando uma sementinha: se digital virar a bola da vez, quer estar pronto. Nós lideramos o mercado de locadora, que financeiramente ainda é um excelente negócio. Mas estamos batalhando para ter o maior número de conteúdos e o maior número devices integrados na mesma plataforma e com o mesmo login. Queremos ter tudo na forma mais simples possível e com o maior número de pontos de contato possível. É um mercado muito competitivo e que vai demorar a dar dinheiro.

Alguns dos seus concorrentes fazem parte de grandes grupos multinacionais. Isso lhes dá uma vantagem financeira?

A NetMovies tem por trás o maior fundo de venture capital para Internet do Brasil, o mesmo que está com a Netshoes e o Decolar.com. E o orçamento dessas multinacionais não é ilimitado.

Como espera que seja a atuação móvel da NetMovies daqui a um ano?

Veremos um crescimento no Rio de Janeiro e em São Paulo na frequência de uso do streaming. E talvez também em Porto Alegre, Brasília e Belo Horizonte. Para os demais estados, essa mudança de comportamento deve vir somente no final de 2014.