Com a receita praticamente estável no último trimestre no Brasil, a estratégia da América Móvil no País está agora focada em melhorar o desempenho no serviço móvel pré-pago, especialmente em dados. Com isso, a companhia está atualmente reavaliando as parcerias com over-the-tops (OTTs) – Facebook/WhatsApp e Twitter – na oferta de zero-rating, segundo revelou o CEO do grupo mexicano, Daniel Hajj, em teleconferência para analistas e investidores nesta terça-feira, 2.

"Ainda precisamos consertar algumas coisas, mas em TV, banda larga, telefonia fixa e no pós-pago estamos indo bem, só precisamos consertar os dados no pré-pago", declarou Hajj, citando ainda as promoções de zero-rating como um dos itens em foco. "Estamos revisando o que fazer com redes sociais, ainda não sabemos, mas vamos rever qual será nossa estratégia no futuro", completa. Cabe, contudo, ressaltar que as teles diferenciam zero-rating de dados patrocinados. Zero-rating é quando o acesso a um app é oferecido de graça bancado pela operadora, como no caso de acesso a Facebook, WhatsApp e afins. Dados patrocinados é quando a empresa dona do app arca com esse custo no lugar do consumidor, como nos casos do Bradesco, Netshoes e Privalia (lançado nesta semana). A revisão de estratégia da Claro se limita às iniciativas de zero rating, não de dados patrocinados.

Segundo o CEO da América Móvil, as receitas do pré-pago em voz e SMS estão melhores do que as da competição no Brasil, enquanto a receita de interconexão está no mesmo patamar. Mas há problemas não apenas com a Internet móvel e o zero-rating, mas também com o SVA, com baixa coleta de receitas. "Hoje temos políticas diferentes, eles (os usuários) têm de pagar pelo serviço, então estamos reduzindo o SVA", diz.

O desempenho no segmento pode também estar ligado ao churn na base móvel. A companhia ganhou 41 mil acessos no pós-pago, mas afirma ter perdido conexões em pré. Segundo dados de maio da Anatel, a Claro perdeu no pré-pago 268,7 mil acessos em um mês (redução de 0,56%) e 7,983 milhões em 12 meses (queda de 14,34%). "Estamos focando muito no pós e estamos indo muito bem em nossa estratégia de combo com o cabo (da Net em banda larga e TV), há uma boa distribuição", afirmou o executivo.

Sinergia

Daniel Hajj justifica que a margem do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBTIDA) no País tenha reduzido em 4,5% anualmente por conta de variação no câmbio, com maior custo em reais, mas que há ainda trabalho forte nos custos e gastos da integração da companhia, com algumas contingências pendentes. Com isso, o executivo garante que a integração entre Claro, Embratel e Net ainda pode dar frutos. "Há mais ganhos de eficiência na rede, na TI, no lado da engenharia e no marketing", afirma. "Ainda há entre um e dois anos a ganhar com eficiência no Brasil", completa.

Pré-pago doméstico

O mercado pré-pago também tem sido uma preocupação na matriz mexicana. De acordo com o CEO da América Móvil, a competição tem se acirrado muito desde a reforma nas telecomunicações naquele país em 2014, provocando maior agressividade nos preços. "Vejo sendo natural que o preço de telecom seja reduzido por causa da tecnologia e competição, mas essa queda tem sido forte demais e acho que no futuro as condições vão mudar." Ele alega que, nos últimos seis meses, a operadora Telcel tem oferecido planos com voz e SMS ilimitados, além de dados, mas que a concorrência tem empurrado os preços. "No México o preço está muito, muito baixo comparado a outros países, está indo longe demais", reclama. "Mesmo os competidores que entraram em 2014 têm perdido dinheiro e EBTIDA, apesar de ganharem market share, já que têm baixa receita", avalia.

De acordo com Hajj, com valores mais acessíveis, o consumidor também usa mais. "A demanda por serviços de telecom tem sido muito forte no México, talvez seis vezes mais do que antes", afirma, sem oferecer a base da comparação. Entretanto, ele revelou que as receitas do pré-pago têm mostrado sinais de estabilidade "nas últimas duas ou três semanas, porque as pessoas que têm as ARPUs (receitas média por usuário) mais altas, e que queriam mudar, já mudaram".