Enquanto o próprio presidente da Anatel, Leonardo Euler, mantém a perspectiva de que o leilão de 5G deverá ocorrer ainda no primeiro semestre de 2020, há quem justifique que a liberação do espectro poderá atrasar esse prazo. O caso da Intel é de consenso com o regulador, especialmente por acreditar que as questões em relação à interferências da faixa de 3,5 GHz nos serviços de banda C satelital poderão ser resolvidas. Em entrevista ao Teletime, o diretor de políticas públicas da fornecedora, Emilio Loures, diz que a própria realização da licitação poderá ajudar na resolução do problema.

“A gente acha que tem que acontecer, idealmente no prazo do Leonardo Euler. O leilão é importante para forçar o estudo da TVRO”, declara. Ou seja, a ideia é que disponibilizar a faixa vai fazer com que as engrenagens, tanto do mercado quanto do regulador, comecem a rodar para resolver o problema.

Na visão de Loures, a gravidade colocada por alguns dos atores envolvidos em consultas públicas sobre o leilão é exagerada. Isso porque ele argumenta que o roll-out inicial da faixa de 3,5 GHz deve ficar restrito aos grandes centros urbanos, exatamente as áreas onde a recepção de TV aberta por satélite já não é tão utilizada por conta da chegada da TV digital. Além disso, o alcance da cobertura nessa frequência não é tão alto quanto na faixa de 700 MHz. Por isso, ele diz que “não haverá conflito imediato” nessa primeira etapa. “O bicho-papão nem foi tão grande”, avalia.

Ele faz um paralelo entre o futuro leilão de 5G e outras tentativas de disponibilizar a faixa. “Parar o leilão de WiMAX ou tirar do leilão de sobras não resolveu, e se não se usa a frequência, ela está há dez anos sendo perdida”. Não será o caso desta vez, acredita. “Eu acho que o 3,5 GHz vai se resolver.” Ele destaca que a faixa de 3,5 GHz é importante para o 5G por ser abaixo de 6 GHz, permitindo melhor propagação. Além disso, considera ser “o ideal” ter a banda contígua, para proporcionar o melhor serviço com a frequência.

Sem interferir no satélite

A questão técnica ainda tem outro argumento: a faixa de 3,5 GHz para o serviço móvel pessoal causa interferência na banda adjacente utilizada na captação da TV parabólica – enquanto o SMP usaria entre 3,4 e 3,6 GHz, as parabólicas captam mais do que a banda C, que vai de 3,6 até 4,2 GHz. “São antenas grandes trabalhando em faixas mais baixas [do que deveriam], com potências maior do que o serviço de satélite”. Além disso, tem o fato da própria natureza do TVRO: a transmissão por satélite deveria ser apenas para retransmissoras, mas o usuário final acaba sintonizando também, o que se trata de uma prática não regulamentada. Mesmo as caixinhas utilizadas para esse serviço, em grande parte, não são devidamente homologadas, argumenta o diretor da Intel.

Diante desse cenário, para Loures, as empresas de satélite e móveis como a Embratel e a própria Claro (ambas do mesmo grupo, América Móvil) ou radiodifusores têm posição reticente natural em relação à proposta de leilão da faixa, uma vez que naturalmente envolve o mercado deles. “É óbvio que as satelitais e móveis vão exagerar um pouco”, opina.

A sugestão dele para resolver a questão nas áreas em que, de fato, aconteçam interferências, é a de elaborar um projeto semelhante ao aplicado na limpeza da faixa de 700 MHz, com o uso de ao menos parte do saldo do leilão para a criação de um fundo gerenciado por uma empresa administradora como a EAD. Por outro lado, Loures não enxerga praticidade na migração do serviço satelital. “Passar para a banda Ku implica na mudanças de antenas”, declara.

Mais espectro

A Intel está de olho também na realização da Conferência Mundial de Radiocomunicação (WRC-19), da União Internacional de Telecomunicações (UIT) e que acontece entre outubro e novembro no Egito. Porém, apesar das implantações da faixa de 28 GHz para 5G em mercados importantes como Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, Loures entende que essa banda não deverá entrar na discussão do evento. “Em 2015 [na conferência anterior] já colocaram que ela não foi estudada na UIT, então não me parece razoável”, alega. “O 28 GHz não está cancelado para a aplicação móvel, e os EUA usam esse direito. A indústria está acompanhando como massa crítica.”

Em todo caso, a Intel tem trabalhado com rádio nessa faixa no mesmo equipamento que trabalha em outras frequências. “O que a gente fez foi ter a melhor solução possível com o 26 GHz, por que é de o mesmo rádio, mas em sintonia diferente”, explica. “Do nosso ponto de vista, é bom para economia de escala, e a harmonização da UIT é boa, pois cada segmento de rádio exige mais antenas, que ocupam mais espaço no terminal.”

A companhia atua não apenas no hardware no serviço móvel, mas no “contexto maior de dados”, com soluções em diversas frentes 5G, como carros autônomos, agricultura 4.0 e varejo. A estimativa da Intel é que, até 2023, 70% da receita seja baseada em dados (incluindo não só o 5G, mas também data center e processamento edge), contra o percentual de 50% atualmente.