As três leis de Asimov – ou três leis da robótica – introduziram uma visão do futuro entre máquinas e homens a partir da obra literária de “Eu, Robô”, de Isaac Asimov. No entanto, com o avanço da inteligência artificial no cotidiano das pessoas, o que era ficção começa a se tornar realidade. Pelo menos é o que explicou a especialista em direito digital Patrícia Peck: “As leis do Asimov nunca estiveram tão presentes no nosso cotidiano”.

Durante um evento nesta quarta-feira, 3, organizado por seu escritório de direito, o Peck Advogados, a advogada apresentou algumas novidades de seu trabalho de doutorado sobre IA. Peck explica que é preciso definir alguns padrões antes de as empresas entrarem nesta área, como ética, gestão de riscos, novas formas de contratos, tributação, procedimentos, ferramentas, conscientização da sociedade e as proteções à propriedade intelectual.

“Não existe risco bom ou ruim. O único problema é o risco invisível”, ressalta a especialista. De acordo com a advogada, os assistentes virtuais pessoais, ou como chama “assistente robotizado”, pode sugerir recomendações, mas não pode tomar a decisão pelo usuário, afinal, é ele quem decide. “Por outro lado, a responsabilidade da máquina precisa ser definida também. Ou seja, a IA vai gerar situações para serem pensadas”.

Ainda sobre questões regulatórias, Oliver Cunningham, sócio da KPMG, na área de serviços financeiros, disse que a regulação “sempre corre atrás da realidade de inovação”. Para ele, a inovação acontece “dentro de uma capacidade de errar”. No entanto, sua implementação “é muito difícil”. “Quanto mais complicado o espaço, mais complicado o custo de observância. É só com tecnologia que você consegue aumentar a qualidade do serviço. A gente fala muito de tecnologia, mas a primeira barreira é cultural”, completou Cunningham.

Também presente ao evento na região da Avenida Paulista, Cezar Taurion, presidente do Instituto de Inteligência Artificial Aplicada (i2a2), lembra que ainda há outros desafios que precisam ser discutidos, como a mudança de comportamento na sociedade e as alterações no ensino das escolas e universidades. Para ele, a IA é muito mais do que aparece “à primeira vista”. Com seu advento, é necessário “repensar tudo o que vai impactar”, começando pelos empregos.

“Tenho que repensar o modelo educacional. O advogado, o radiologista, o jornalista, não vão morrer, mas eles precisam se adaptar. As máquinas não vão substituir os humanos, vão substituir carreiras e criar novas profissões”, frisou Taurion. “A questão é o que fazer com as carreiras que estão desaparecendo. Cada vez mais, a automação vai assumir tarefas. São funções que estamos fazendo e que as máquinas fazem melhores que nós. E o nosso ensino não é formado nisso, precisamos repensar”.

Impactos e segurança

Por sua vez, Claudinei Elias, diretor geral da Nasdaq na América Latina, lembrou que a “tecnologia é agnóstica”. Ou seja, ela não é boa e nem ruim. Para ele, o que dá impacto à tecnologia, é “o uso que nós fazemos dela”. Por isso, enfatizou parte do discurso de Cunningham e de Taurion ao defender mudanças de comportamento e cultural na sociedade, em especial na área da educação.

Em relação à segurança das empresas neste novo mundo, Eduardo Cabral, especialista de vendas da Symantec na América Latina, lembrou que a entrada massiva de dados trará como desafios saber onde, qual origem e como são armazenados os dados que as empresas possuem. Para Cabral, é importante entender o fluxo de dados, um mapeamento de por onde entra, onde ele vem e como será processado. Inclusive os dados de clientes pessoais.

“Você precisa se questionar: Onde seus dados confidenciais vivem? Como são utilizados os dados? Como prevenir a perda da informação?”, explicou Cabral. “A partir do momento que responde essas informações, é importante fazer as seguintes ações: monitorar o uso dos dados e o acesso, identificar os verdadeiros proprietários e usuários, alertar para atividades de usuário anômalas e motivar os usuários a evitar incidentes”.