A exigência de adoção do release 16 no 5G, incluída na proposta de leilão de novas frequências, vai atrasar e encarecer a implementação das redes de quinta geração no Brasil, alerta Marcelo Motta, diretor global de cibersegurança da Huawei, em entrevista transmitida ao vivo no canal do Mobile Time no YouTube, nesta sexta-feira, 5. 

O release 16 demanda a adoção de um novo core de rede, exclusivo para essa tecnologia, em uma rede “standalone” (5G SA), assim chamada justamente por conseguir operar de forma independente das redes legadas. Esse core precisa ser integrado com todos os demais sistemas de uma operadora, como OSS, BSS e serviços de valor adicionado. “São integrações complexas que demandam tempo e investimento”, disse Motta. 

O executivo ressaltou que há poucas redes 5G SA no mundo hoje. As operadoras que adotaram esse padrão costumam trabalhar com redes híbridas, combinando uma arquitetura standalone com outra nonstandalone (5G NSA). É assim na China, por exemplo, onde as operadoras estão implementando “ilhas” com cobertura de 5G SA nos locais onde há demanda por aplicações de baixíssima latência e grande quantidade de conexões IoT simultâneas, que são os grandes benefícios do release 16. Enquanto isso, para atendimento do grande público com banda larga móvel de alta velocidade, as teles chinesas têm utilizado redes 5G NSA, que podem usar o core legado de 4G.

A menor escala das redes 5G SA gera também um impacto no preço dos equipamentos, mais caros que aqueles para 5G NSA, que está mais popularizado, explicou.

“Não tenho dúvidas de que mercado vai evoluir na direção do 5G SA. Mas será que deveria ser imposto pela regulação ou deixar para o mercado decidir entre as opções existentes, com cada operadora avaliando sua estratégia para criar a rede mais compatível para os serviços que oferece?”, ponderou.

Rede privativa

A respeito da exigência de que a fornecedora de uma rede privativa para o governo federal seja uma empresa que observe “padrões de governança corporativa compatíveis com os exigidos no mercado acionário brasileiro”, conforme determinado em portaria publicada pelo MCom na semana passada, Motta não exclui a participação da Huawei, a priori.

“O que significa essa cláusula? O que ela afeta? O que vai ser exigido? Precisamos entender melhor. Somos empresa privada, não somos listados em bolsa, mas temos governança corporativa transparente. Temos todas as informações disponíveis e abertas. Nossos relatórios são auditados anualmente pela KPMG. Será que é suficiente? Qual fornecedor consegue atender isso? Não tem nenhum fornecedor listado no País. Quais critérios vão ser utilizados? Dentro da Bovespa há várias categorizações. É uma cláusula que precisa ser mais bem explicada”, comentou.

Na entrevista, o diretor global da Huawei falou também sobre as acusações de que a Huawei não seria segura; a proibição imposta pelo governo norte-americano; e o posicionamento da empresa sobre OpenRan. Assista a entrevista completa no canal do Mobile Time no YouTube.

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