Paraisópolis

Placa de endereço digital do Google (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

[Atualizado às 18h22 do dia 06/05/2022 com posicionamentos de marca Americanas S.A] Uma parceria entre Google, Americanas S.A, a startup de logística Favela Brasil Xpress e o bloco de líderes empreendedores G10 Favelas pretende oferecer endereços digitais aos 100 mil moradores da comunidade de Paraisópolis, a segunda maior comunidade de São Paulo. Durante a apresentação do projeto piloto nesta quinta-feira, 5, os representantes envolvidos afirmaram que serão 4 mil endereços mapeados até o final do primeiro semestre e 30 mil até o fim de 2022 – volume que corresponde ao número de moradores no bairro.

Na estratégia, o Google fornece a ferramenta aberta Plus Code, que gera códigos semelhantes ao código postal, mas pode ser usado no Google Maps e Waze. Munidos com os seus celulares, a equipe do Favela Brasil Xpress faz o mapeamento dos locais e instala adesivos provisórios. Na sequência, o Google confecciona as placas que são instaladas na casa dos moradores de Paraisópolis. Desse modo, o morador pode pedir entregas no site da Americanas.com usando seu endereço digital e a Favela Brasil Xpress levará os pedidos até a casa do consumidor.

Em conversa com jornalistas presentes, Alexandra Pereira da Silva, uma das primeiras moradoras de Paraisópolis a receber a placa, explicou que sem o endereço as compras são entregues na rua e não em sua casa. Logo, ela precisa carregar as entregas até sua residência, que fica em uma das vielas da comunidade. Com o endereço digital, ela espera receber os pedidos de delivery de comida que costuma fazer e uma TV, que comprou recentemente, em sua casa.

Outra pessoa que recebeu a placa de endereço digital foi a empreendedora Cláudia Regina de Silvério. Dona de uma padaria montada durante a pandemia, Silvério explicou que o plaqueamento ajudará a ampliar a oferta de produtos, além de poder pedir mais itens para consumo próprio e de sua família.

Inclusão social e financeira

Paraisópolis

Instalação de placa com endereço digital do Google (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Os executivos de Google, Americanas, Favela Xpress e G10 Favelas explicaram que o projeto em Paraisópolis tem cunho social ao incluir os moradores na jornada digital e financeira, mas também facilita a entrega de produtos aos moradores. Newton Neto, diretor de parceria globais do Google na região latino-americana, explicou que “esta é a primeira iniciativa do Plus Code em regiões urbanas na América Latina”. Antes, a companhia levou o sistema de endereço digital para unidades rurais no estado de São Paulo, com apoio da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.

Eduardo Fullen, diretor executivo de tecnologia e operação da Americanas, explicou que a tecnologia do Plus Code será “adicionada à plataforma de logística da empresa”, de modo que facilite a “roteirização das entregas”, do centro de distribuição até o app do entregador do Favela Express. Vale dizer, a Americanas é parceira há um ano da startup de logística que atende sete favelas em São Paulo e Rio de Janeiro, sendo que 80% dessas entregas são da varejista.

Com 750 mil pacotes entregues entre abril de 2021 e abril de 2022, a Favela Xpress tem seu próprio sistema de logística para atender os moradores das comunidades. Segundo Giva Pereira, CEO da startup, o Plus Code facilitará ainda mais o trabalho da logitech. Por sua vez, o presidente do G10 Favelas, Gilson Rodrigues, relatou a importância do projeto e seu potencial.

“Somos 17 milhões de brasileiros em favelas, sem acesso às tecnologias mais inovadoras, como blockchain e carteiras digitais. Temos uma iniciativa, o Favela Xpress, os 715 mil pacotes entregues em sete favelas, o que corresponde a R$ 450 milhões de receita”, disse ao relatar que o consumo nas comunidades é alto. “A empresa que ficar de fora sairá perdendo”, completou.

‘Delivery em qualquer lugar’

Paraisópolis

Cláudia Regina de Silvério e sua filha, durante instalação da placa (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Em conversa com Mobile Time, os executivos da Americanas explicaram que, embora tenha um papel social importante, a companhia também vê essa iniciativa como uma parte relevante do seu negócio, como relatou Bruna Saboia, gerente de sustentabilidade da Americanas: “Social e negócios estão interligados. De fato, a nossa estratégia de sustentabilidade está ligada à estratégia de crescimento da companhia. Nós queremos crescer no Brasil, então, nós precisamos considerar e crescer dentro da favela”, disse. “Essas entregas (do Favela Xpress) o cliente não recebia. Então, a Americanas passa a ter mais clientes, a fidelizá-los, até pela nossa marca estar dentro da favela. O morador passa a ver a nossa marca de outro jeito. Por isso, posso dizer que esse projeto está 100% alinhado ao nosso negócio. É o nosso core, o nosso business, entregar o produto na casa do cliente, com aquele mote: Tudo. A toda hora. Em qualquer lugar”, completou.

Saboia explicou que a ação em comunidades como a de Paraisópolis tem metas – não públicas – de expansão de “captação de novos clientes e vendas de produtos”. Mas lembrou também que o projeto com a Favela Xpress envolve inclusão, empregabilidade e capacitação: “Para nós, não faz sentido apenas vender produtos, por isso, sustentabilidade trabalha junto com negócios. É o tripé da sustentabilidade: econômico, financeiro e social. São pernas que precisam caminhar juntas”, disse ao explicar que o projeto se diferencia por atuar na prática.

André Biselli, gerente de operações da companhia, afirmou que o Favela Xpress fará as entregas mais leves – até 30 kg – e a Americanas seguirá com as entregas mais pesadas. Das entregas com a logitech, Biselli revelou que os produtos mais solicitados são livros, telefonia e eletroportáteis. O executivo explicou que também está nos planos trabalhar com mercados (groceries) para as comunidades, mas disse que, atualmente, o cliente das comunidades já tem acesso ao sortimento de produtos que está no site da Americanas.

“A diferença com a entrada do Plus Code tem dois pontos: o morador que não tem CEP conseguir colocar o endereço digital; epermitir uma operação mais inclusiva, com entregadores que não sejam da localidade, mas que possam achar a casa da pessoa pelo Plus Code. Ou seja, o diferencial é muito mais que o sortimento”.