O mercado de desenvolvimento de aplicativos para smartphones e tablets no Brasil está passando por uma fase muito parecida com a segunda fase da Internet, vivida no final dos anos 1990. Grandes empresas começam a entender que o mercado móvel veio para ficar, mas ainda não estão totalmente convencidas de que esses dispositivos serão o futuro da computação pessoal – sim, eles serão!

Assim, temos inúmeras companhias separando algum orçamento para investir em aplicativos móveis, mas sem muita ideia do que criar. O problema é que, ao contrário do que tínhamos com o início da Internet, quando infraestrutura e acesso eram extremamente limitados, hoje qualquer smartphone acessa à Internet e roda aplicativos em qualquer lugar. E o nível de qualidade dos sistemas e aplicativos nativos desses aparelhos cria uma realidade diferente na mente do usuário.

Durante a evolução da Internet, ter uma página com a logomarca da empresa bastava. Depois, ter alguns links com informações institucionais, um design mais bonito e algumas fotos eram o suficiente para manter a atenção de usuários ocasionais, já que aquilo não era realmente algo sério. No caso de aplicativos móveis, a evolução está ocorrendo de forma mais rápida e complexa. A fase do joguinho bobo com a logomarca da empresa passou, e um aplicativo precisa ser bom o bastante para ocupar um espaço na concorrida tela principal de seu smartphone ou tablet. Mas o que é um bom aplicativo? O que faz com que ele seja baixado por milhares de pessoas no mundo todo?

Em primeiro lugar, o app precisa envolver o usuário, ao mesmo tempo em que satisfaz sua necessidade imediata, ou seja, o motivo pelo qual ele abriu o aplicativo pela primeira vez. Para isso, é necessário entender a necessidade do usuário naquele momento, que pode ser diferente em outros períodos do dia ou em outras situações. Mais do que prover algo para o cliente, um bom aplicativo precisa prever o que o cliente quer, e ser proativo. Precisa estar preparado para o momento em que o usuário requisita algo.

Criar um bom aplicativo requer muito mais do que um cronograma, uma lista de requisitos e uma boa identidade visual. Requer comprometimento, investimento e principalmente muita atenção a quem se destina o aplicativo. Ao contrário da visão que muitas empresas têm com relação ao desenvolvimento de software, a criação de um bom aplicativo precisa estar aberta a mudanças durante o desenvolvimento e passa por processos de brainstorm, nos quais pessoas de diferentes áreas discutem ideias e sugestões.

Mas o elemento principal é que cada pessoa envolvida na criação do aplicativo seja um usuário, conheça o produto, deseje mudanças e se orgulhe do resultado final. E isso é uma mudança de paradigma grande no desenvolvimento de software, porque para que essa interação aconteça, o aplicativo precisa estar nas mãos de todos os envolvidos o mais cedo possível, permitindo que ele amadureça durante o desenvolvimento.

É preciso entender que um app não para na versão 1.0. É preciso evoluir, se adaptar a novas versões de sistemas e tecnologias, sendo alterado de acordo com a maneira que é utilizado pelos usuários.

Ao contrário do que acontece no mundo dos computadores pessoais (desktops e notebooks), o mercado de smartphones e tablets recebe atualizações muito mais constantes, e muito mais significativas. Menos de um ano após o lançamento da última versão do iOS, 93% dos aparelhos já estão com o novo sistema. Isso significa novos recursos que podem ser explorados, mudanças visuais e estruturais. E um bom aplicativo precisa tirar proveito disso, melhorando, evoluindo, encantando.

Um bom aplicativo também deve ser suportado por bons serviços. Ou seja, com raras exceções (aplicativos que funcionam sem se conectar à Internet e sem atualizações de conteúdo), um bom aplicativo depende de um conjunto de serviços em servidores de conteúdo para alimentá-lo com informações e para receber informações dele. Essa integração pode ser com serviços de redes sociais, cloud computing ou criados pela empresa em servidores próprios para prover conteúdo. Mas esses serviços precisam estar sempre disponíveis, ter performance e evoluir com o aplicativo. E isso pode significar um projeto de igual ou maior tamanho do que o próprio aplicativo, dependendo da necessidade de integração e do conteúdo. O mote aqui é que num mundo globalizado, com forte presença de mídias sociais e Internet disponível, em boa parte do tempo, nenhum aplicativo é uma ilha.

O usuário já se deu conta de que o centímetro quadrado virtual de seus aparelhos móveis é limitado e valioso, e para fazer parte desse espaço, um aplicativo tem que oferecer algo mais do que simplesmente uma carinha bonita e uma logomarca conhecida. É preciso investir tempo, esforço e comprometimento. É preciso entender o usuário, ser o usuário. E é preciso planejar evoluções constantes. Um bom aplicativo móvel pode ser a melhor forma de conexão com os clientes de uma empresa. E num futuro próximo, parte do segredo do seu sucesso.