O tráfego de dados é a menina dos olhos das operadoras móveis. O acesso à Internet móvel cresce mês a mês no País, gerando cada vez mais receita para as teles e levando-as a aumentarem suas franquias de dados e a investirem em suas redes. Mas e quanto à voz? Qual é a tendência no Brasil quanto ao uso da telefonia celular para voz? O senso comum diz que os consumidores estariam trocando voz por dados. E isso é verdade em grande medida, sem dúvida. Mas dois fatores impactaram no sentido inverso no ano passado: 1) a consolidação dos chips, por conta da oferta de preço unificado para chamadas para quaisquer operadoras, levando o usuário pré-pago a concentrar seu consumo de minutos em um único SIMcard em vez de dividir em dois ou mais; 2) o lançamento de planos de voz ilimitado para pós-pagos e pré-pagos por diversas operadoras. Por conta desses dois motivos, as operadoras têm registrado uma volta do crescimento do MOU (minutos de uso), como é chamada no mercado a média de minutos de chamadas realizadas por cada assinante.

A virada é muito clara quando analisados os números da TIM. Em 2016, o MOU da operadora seguia uma tendência de queda, diminuindo desde o primeiro até o quarto trimestre: 119 minutos (1T16), 118 minutos (2T16), 116 minutos (3T16) e 113 minutos (4T16). Em 2017, ao contrário, o MOU da TIM subiu ao longo do ano: 107 minutos (1T17), 107 minutos (2T17), 111 minutos (3T17) e 115 minutos (4T17). É verdade que ainda não voltou ao mesmo patamar do começo de 2016, mas pelo menos parou de cair, ou, mais do que isso, voltou a subir.

Na Vivo, também foi registrado um aumento gradual do MOU ao longo de 2017, corroborando com o que foi observado na TIM: 157,2 minutos (1T17), 158,1 minutos (2T17), 160,4 minutos (3T17) e 165,7 minutos (4T17). Cabe ressaltar que na Vivo não havia sido verificada uma queda contínua em 2016, mas sim subidas e descidas: 151,2 minutos (1T16), 160,3 minutos (2T16), 158,9 minutos (3T16) e 169,3 minutos (4T16).

No caso da Claro, não é possível fazer a mesma comparação nos dois anos porque a operadora alterou a sua metodologia de cálculo do MOU no quarto trimestre de 2017. Antes, ela incluía as linhas de comunicação entre máquinas (M2M) no cálculo, o que reduzia seu MOU. No quarto trimestre de 2017, passou a desconsiderar as linhas M2M. Pegando somente o balanço desse último trimestre de 2017, com a nova metodologia, nota-se que o MOU cresceu 7,3% em um ano, passando de 96 minutos para 103 minutos entre o quarto trimestre de 2016 e o mesmo período de 2017.

A Oi é a única operadora que não divulga os números absolutos de MOU em seu balanço. Mas a operadora informou a Mobile Time que seu MOU de dezembro foi 14% maior que o de setembro, que por sua vez foi 5% maior que o de junho, o que também valida a tese de que está havendo um aumento do uso de minutos nas redes móveis.

Vale cruzar essas informações com as descobertas da mais recente pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria móvel no Brasil. O relatório aponta que 63% dos usuários ativos mensais (MAUs, na sigla em inglês) do WhatsApp realizam chamadas de voz pelo aplicativo. Contudo, a proporção destes que usam o serviço todo dia ou quase todo dia caiu dez pontos percentuais em seis meses, entre julho de 2017 e janeiro de 2018, na comparação entre as duas últimas edições da mesma pesquisa, passando de 57% para 47%. Além disso, 53% dos usuários de chamadas de voz pelo WhatsApp afirmam que realizam mais ligações pela operadora móvel do que pelo aplicativo. Isso representa uma virada, porque na edição anterior a maioria (52%) afirmava que realizava mais chamadas pelo WhatsApp que pela rede da sua operadora. A pesquisa entrevistou em janeiro 2.007 brasileiros que têm celular. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Análise

A tendência de unificação de chips naturalmente afetaria o MOU. Se antes o usuário pré-pago dividia suas ligações entre duas ou mais operadoras, agora concentra em uma só. Em 2017 houve uma redução de 7,6 milhões de linhas móveis em serviço no Brasil. Ao mesmo tempo, os planos de voz ilimitada representam um atrativo econômico para os consumidores: enquanto as chamadas de voz pelo WhatsApp consomem seus planos de dados, aquelas feitas pela rede da operadora não gastam nada por serem ilimitadas. Por fim, cabe lembrar que os aparelhos celulares são configurados para priorizar as chamadas recebidas pela rede móvel. Se o usuário está falando pelo WhatsApp ou Skype, a ligação é interrompida quando entra uma chamada pela rede móvel.