A TIM pretende reduzir cada vez mais a oferta de aplicativos que não consomem a franquia de dados de seus clientes, o chamado zero rating. A tendência é que eles sejam substituídos por outros benefícios. O tema foi discutido durante conversa com a imprensa nesta quarta-feira, 7, sobre o balanço financeiro da empresa.

“A tendência é diminuir porque queremos uma justa remuneração da rede de dados. Mas não prejudicamos o cliente. O que temos feito ao longo dos trimestres é colocar mais opções, como streamings de vídeo, de áudio, parcerias estratégicas, antes de qualquer movimento”, explicou Fábio Avellar, CRO da operadora. O executivo explicou que não foi feito nada de relevante neste sentido, “os clientes continuam se beneficiando de alguns assets, mas, naturalmente, como tendência, sim, vamos reduzir, dada a remuneração da rede de dados”, completou.

De acordo com Alberto Griselli, CEO da TIM, os clientes não veem valor no zero rating – muitas vezes não se dão conta de que se trata de um benefício.

Mário Girasole, vice-presidente de assuntos regulatórios, institucionais e relações com a imprensa da operadora, lembrou que a ocupação da rede pelas OTTs (over-the-top) é um assunto que está intrinsecamente relacionado à discussão do fair share (como as operadoras chamam a remuneração pelo uso em larga escala da rede móvel para os seus negócios). “O zero rating é a outra face da moeda do fair share”, afirmou.

“Queremos reduzir o zero rating e isso tem a ver com o fair share. Você dá algo de graça, mas a percepção desse benefício é mais difícil para o cliente. Trata-se de uma correta alocação de capital”, completou.

O executivo deu como exemplo uma plataforma digital que resolve passar um jogo de futebol ao vivo. “Isso onera a rede e pode prejudicar o serviço que estamos ofertando a uma base maior de clientes. Todos os planos que estamos lançando são sem zero rating. Já fechamos a torneira. A gente vai remodelar os benefícios do cliente. Promover um benefício que possa ser perceptível e amigável”.

Para Girasole esse é um caminho inevitável, porém, não descarta a possibilidade de o zero rating voltar. “Se as OTTs se dispuserem a compensar financeiramente o tráfego que elas utilizam, podemos mudar de estratégia porque isso pode gerar uma outra linha de negócios”, explicou.

Outros serviços

Por outro lado, as ofertas de outros serviços para os clientes não param. O app Descomplica possui cerca de 400 mil clientes da operadora inscritos na plataforma. Já o app Tutti Saúde registra 120 mil downloads. E a iniciativa com o Grupo Cartão de Todos, iniciado em agosto de 2023, chegou a cinco estados do País no quarto trimestre (Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina).

A história do zero rating

Em movimento semelhante ao da TIM, a Claro informou na semana passada que está mudando sua política de acesso ilimitado para aplicativos de redes sociais também nos planos controle e pós-pagos neste ano, indicando um movimento conjunto das teles de encerramento do zero rating. A medida já está em vigor para novas contratações. A única exceção é o WhatsApp, que permanece com zero rating.

As mudanças demonstram o arrependimento por parte das teles de terem colocado tantos apps com franquia de dados ilimitada. O primeiro a levantar o assunto foi Renato Ciuchini, vice-presidente de estratégia e transformação da TIM, durante sua participação no MobiXD, em maio de 2022, evento organizado por Mobile Time. À época, o executivo afirmou que “as operadoras erraram com o zero rating”.

A mesma expressão foi dita um ano depois, dessa vez por José Felix, presidente da Claro: “Não tenho dúvida que o zero rating foi um erro, um equívoco. E, apesar de ter sido criado no passado, não há nada que não possa ser consertado”, opinou o executivo, já indicando o movimento da última sexta-feira, 2.

Especialistas também se posicionaram sobre o zero rating. Do ponto de vista do direito do consumidor, Camila Leite Contri, especialista em telecom e direitos digitais do Idec, disse em agosto do ano passado que, apesar de popular entre as operadoras, a prática estimula a concentração da grande massa de usuários em determinados serviços.

Em outubro de 2023, Tomas Fuchs, CEO da Datora, disse que as teles deveriam repensar seus contratos de zero rating com apps como WhatsApp, Facebook e afins. Em vez disso, esses apps deveriam pagar para que seus usuários os acessem de graça pelas redes móveis.

O Governo Federal também entrou na discussão e pediu ao Cade que faça um levantamento sobre os impactos dos planos oferecidos sem limites na franquia de dados para os usuários. O pedido é fruto do processo instaurado por entidades que integram a Coalizão Direitos na Rede (CDR) como Idec, Intervozes, Nupef e Iris.

A discussão do zero rating acabou se associando àquela em torno do fair share, ou network fee. As operadoras pedem que as grandes  plataformas digitais, responsáveis por um fluxo intenso de dados, contribuam financeiramente com as redes móveis. A TIM deixou clara sua posição nesta quarta-feira ao dizer que, sem monetização, não haverá mais zero rating.