Não faltam exemplos na história da telefonia celular brasileira de projetos que requeriam a união entre as teles, mas que não foram para frente, em geral por divergências de modelo comercial. Foi o caso do MMS, que nunca se popularizou no Brasil, por exemplo. Houve também muitas ideias que foram discutidas mas nem chegaram a sair do papel pelo mesmo motivo, como ofertas conjuntas de mobile advertising e de uma carteira digital única para as três grandes operadoras. Por que agora daria certo com as APIs antifraude do Open Gateway? Durante o Mobi-ID, evento organizado por Mobile Time na última quarta-feira, 7, em São Paulo, representantes das três grandes operadoras brasileiras que fazem parte desse projeto, Claro, TIM e Vivo, listaram ao menos oito motivos para acreditar que desta vez será diferente.

1- A liderança da GSMA conduzindo o projeto em nível global;

2- O pujante ecossistema digital brasileiro, que vai demandar acesso às APIs antifraude;

3- A facilidade de criação de APIs em redes 5G;

4- A padronização mundial e abertura das APIs do Open Gateway;

5- O aprendizado com os erros do passado;

6- Experiências recentes de colaboração entre as teles brasileiras, como durante a pandemia, para coleta de dados sobre isolamento social, e na partilha da compra da Oi Móvel;

7- A competição acirrada do mercado brasileiro, com três grandes operadoras disputando de igual para igual, obriga a união entre elas para que um projeto como o Open Gateway tenha sucesso. Isso explicaria também a liderança brasileira nessa iniciativa, enquanto outros países mais desenvolvidos estão avançando mais vagarosamente na união entre as teles para lançamento das APIs.

8- O aval das respectivas matrizes, que são signatárias do projeto a nível mundial.

Para Diego Aguiar, diretor de IoT e big data da Vivo, os erros do passado trouxeram o aprendizado necessário para evitar que uma iniciativa em conjunto tenha problemas no futuro. 

Leonardo Siqueira, diretor de data monetization da TIM, destacou o fato de a iniciativa da GSMA ser padronizada e aberta, o que deixa mais fácil para o mercado adotar. Foi ele também quem elogiou a maturidade do ecossistema digital brasileiro.

Ageu Dantas, head de data analytics na Claro, explicou que diferentemente das ações que deram errado no passado, o Open Gateway não é uma iniciativa local, mas global que foi adotada primeiro pelas matrizes das três grandes empresas de telecom.

5G e redes privativas

Um capítulo adicional apresentado por Siqueira, da TIM, é o 5G. Além da rede de quinta geração ampliar a capacidade tecnológica do Open Gateway, a evolução das redes celulares possibilita captar mais dados e explorar novos modelos de negócios, em especial se conectar junto a dispositivos de Internet das Coisas (IoT).

“Open gateway junto com IoT pode ser o primeiro grande caso de monetização para as operadoras no 5G”, disse o executivo da TIM. “E o 5G nos permite oferecer serviços de maneira mais escalável, apropriada e global com as APIs. Hoje, não capturamos isso ainda com hyperscalers globais, por exemplo”, disse.

Vale lembrar, os hyperscalers, como AWS, Microsoft e Google, são um dos canais de comercialização das APIs do Open Gateway. Os outros dois são os integradores (vide Infobip) e as próprias operadoras em venda direta com seus grandes clientes.

Aguiar, da Vivo, acredita que a rede 5G traz mais opções técnicas, como maior concentração de conexões, baixa latência e alta velocidade de acesso. Também afirmou que é uma rede mais fácil de se tratar com APIs, uma vez que ela é preparada para funcionar em camadas. E acredita que também será possível avançar em modelos de negócio para redes privativas.

“Vimos o crescimento vertiginoso de redes privativas no Brasil [vide o Mapa do Ecossistema de Redes Celulares Privativas produzido por Mobile Time neste ano]. Será que esses players de redes privativas poderão expor isso em APIs através do Open Gateway? De alguma forma, a APIficação da rede é uma complementaridade do 5G que até então não era falada e foge do senso comum”, disse o diretor da Vivo.