A Anatel espera liberar o arcabouço para a utilização de conexão entre satélites e dispositivos móveis (D2D) ainda em 2024. Durante o Fórum de Operadoras Inovadoras 2024, evento organizado por Mobile Time e Teletime nesta terça-feira, 9, Rodrigo Gebrim, gerente de espectro da agência reguladora, confirmou o desejo de players do segmento de satélites para iniciar a operação comercial após a liberação regulatória.

Importante lembrar, o modelo de D2D desenhado pela Anatel espera que o operador satelital seja complementar à operadora móvel. “Por exemplo, uma operadora local pode fazer B2B, ao contratar uma empresa satélite para chegar mais longe e cobrir todo o País. Pode fazer redes privativas também”, disse Gebrim.

Com a legislação focada em satélites de baixa órbita (LEO), Starlink, Kuiper (Amazon), OneWeb e AST Mobile demonstraram o desejo em avançar com ofertas destinadas ao usuário final. E, em IoT, Echo Star, Omnispace e Sateliot já tiveram conversas iniciais com a agência.

Vale dizer, entre essas companhias, a AST Mobile garantiu uma aprovação para testar o D2D com a Claro via sandbox regulatório da Anatel. A prova já está em curso.

Utilização e desafios

Um exemplo de uso que o especialista acredita que pode ser viável é do D2D para o agronegócio, a depender das aplicações: “O ponto de vista é de oportunidade (para o agro). Como o acesso direto para IoT, como uma operadora regional para prover e vender serviços de IoT para o agro”.

“São modelos que podem ser complementares e concorrentes. Estamos falando de novas possibilidades. Esse cenário de montar infraestrutura terrestre no agro vai guiar novas possibilidades. Mas vai depender da aplicação. Como tratores e colheitadeiras que precisam de baixa latência, pode não dar certo para o satélite. Mas para formatos com sensores e monitoramento de campo há possibilidade”, explicou.

Contudo, Gebrim lembra que há três grandes desafios para o D2D:

  1. A cibersegurança, em especial a necessidade de conectar o cliente da base da operadora até o satélite e garantir o seu acesso sem risco;
  2. A integração, uma vez que a operadora não é a total controladora da tecnologia, mas precisa garantir que prestará todos os serviços a seu cliente;
  3. E um modelo econômico e viável para ambas as partes (operadora móvel e operadora de satélites)

Obrigações

Gebrim também abordou sobre a possibilidade do uso do D2D para cumprimento das obrigações do leilão do 5G, em especial da faixa de 700 MHz que teve o espectro devolvido pela Winity neste ano e atualmente está disponível como espectro secundário para PPPs que participaram do certame.

“Imagine se os compromissos da Winity pudessem ser feitos via satélite? O quanto isso reduziria o custo? Mas isso demanda trabalho de cobertura e de qualidade de serviço. Isso (qualidade e cobertura em D2D) será aceitável? Quais os parâmetros? Isso é um trabalho a ser feito com o setor de telecomunicações para o ponto ideal de uso da tecnologia”, completou, ao lembrar que o tema ainda está em estudo.

“O D2D pode servir como complementaridade para rodovias, nesse contrato. Em teoria, em locais onde o usuário não tiver cobertura terrestre, poderá comutar para o satélite. Essa é uma possibilidade para um futuro próximo. Mas é complementar, pois o usuário não vai trocar de plano de dados para ter conectividade nas rodovias”, completou.

O gerente da Anatel recordou que o avanço ocorreu apenas agora, devido a um item adicionado na agenda da WRC-23 para estudo para faixas abaixo de 2,7 GHz (FDD) e pelo uso complementar pelos satélites, embora esteja em framework desde 1998.

Imagem principal: Rodrigo Gebrim, gerente de espectro da Anatel (crédito: Elaine Ballog/Mobile Time)