As negociações de venda Oi Móvel para a Vivo e TIM deve durar meses pois tem muitos detalhes a serem acertados. Fontes do mercado ouvidas por Mobile Time acreditam que, uma vez concretizada a transação financeira, a operadora carioca deixaria o segmento mobile apenas em 2021.

A previsão dos especialistas é baseada em definições técnicas, regulação, negociação comercial, além do parâmetro da última aquisição do setor, a da Nextel pela America Móvil: o anúncio da compra da Nextel foi realizado em março do ano passado, mas a  anuência da compra pela Anatel foi dada seis meses depois, em setembro.

Para Luciano Saboia, gerente de pesquisa e consultoria de TIC da IDC Brasil, a parte de infraestrutura e a capacidade técnica é o principal entrave da operação. Em especial, ele vê dificuldades por não haver uma definição clara do que está em jogo.

“Os três fatos relevantes saírem quase simultaneamente mostra que tem uma negociação em curso ou até avançada. Mas acredito que teremos um longo período de negociações comerciais. Redes móveis, espectro, clientes, redes, antenas e equipamentos, ainda não sabemos se estão incluídos nas conversas”, diz Saboia. “A complexidade técnica é muito maior nesta operação. É preciso definir infraestrutura compartilhada, prédios, centrais telefônicas, apoio dos times de engenharia, complexidade de TI e, por último, o tombamento da base de clientes”.

Por sua vez, Ari Lopes, analista da Ovum na América Latina, acredita que outra barreira pode ser a própria Oi. Em sua visão, diferentemente do cenário do começo de 2019 quando a companhia estava com altos gastos na operação, a Oi agora tem mais espaço para manobra. Especialmente pelas recentes vendas de ativos.

“Se a operação fosse em 2019, a Oi talvez aceitasse qualquer proposta pelo negócio móvel. Hoje, ela tem um colchão ali. Vai receber R$ 1 bilhão da venda da Oi Angola e R$ 2,5 bi de debentures”, explica Lopes. “Mas há questões em aberto: hoje, a Oi não tem nenhuma vantagem competitiva no mercado móvel; ela é quarta no market share móvel brasileiro; a participação dela no 4G é menor que a das outras; o portfólio de frequências é muito focado em espectro acima de 1 GHz, e isso traz dificuldade para cobertura indoor, por exemplo. E a operação móvel exige muito investimento. No 5G, por exemplo, o espectro custa, tem mais investimento na rede e o ganho é incerto”.

Contudo, Lopes afirma que a grande questão para a Oi aceitar a proposta é se o montante seria capaz de sustentar e expandir o serviço de banda larga fixa da empresa. Além disso, há o problema da recuperação judicial e de parte de seus credores, que podem requerer o pagamento de suas dívidas com o dinheiro da transação. Ainda assim, ele acredita que a venda do negócio é uma boa alternativa para a empresa.

“Pelo preço certo, eu acredito que vale vender. Pois ela tem área para investir pelo Brasil, é um player grande consolidado, e pode pegar um share em fibra. E ela vem convertendo a quantidade de investimento de fibra em clientes. Em móvel, eu não vejo isso. É muito mais nebuloso”, afirma o especialista. “Mas não precisa vender para a primeira oferta, pois tem esse colchão com a venda de Angola e os debêntures”.

Parceria TIM-Vivo

Olhando para o outro lado da negociação, Luis Sales, analista da Guide Investimentos, acredita que a saúde financeira de TIM e Vivo possibilita às operadoras comprarem sua rival, sem problemas financeiros: “Elas estão bem. Vivo tem caixa. E TIM tem espaço para tomar dívidas, inclusive anunciou recentemente que deve investir de forma robusta no País. Acredito que eles devem buscar algum financiamento para fazer a compra. Podem buscar com bancos ou via mercados de capitais. Mas eles têm bastante espaço para financiamento”.

Por sua vez, Lopes lembra que as duas compradoras vêm se preparando para este cenário. Dois exemplos citados pelo analista são: o fato de que a Vivo colocou à venda sua operação na América Latina, exceto no Brasil; e a TIM reduziu bastante o quadro de funcionários e fez cortes de custos agressivos. Ainda assim, explica que há mais urgência para TIM comprar a Oi: “Para a TIM é mais urgente a aquisição, do que para a Vivo. O problema dela não é o móvel, mas o fixo, que é pequeno. Ela precisa ganhar escala de algum modo, pois não conseguiu comprar a Nextel”, analisa. “Como um todo, os players estão ajustando custos e buscando escala. Mas não participar desse momento de consolidação é danoso. No passado, eu imaginava só a TIM (na proposta de compra), mas o bid talvez seja grande demais para eles”.

Fatiamento e regulação

Outro tema debatido nas conversas foi como seria o fatiamento da Oi Móvel por Vivo e TIM. Lopes e Saboia acreditam em um cenário de divisão por região imposto pelos reguladores, Cade e Anatel. Com isso, a TIM ficaria com o espólio onde é mais fraca, na região sudeste, enquanto Vivo ganharia mais espaço no sul do País. Contudo, eles indicam que essa definição depende do papel do regulador.

“Vejo Anatel e Cade preocupados com competição e com a saúde dos negócios. Eles têm ciência do momento financeiro, precisam cuidar de um mercado saudável, mas consolidação é natural em telecom. É um business com capex agressivo, necessidade de escala e que não tem margens para muito custo. Além disso, o mercado continuaria bem competitivo com três players”, disse o analista da IDC.

Outra questão a ser resolvida pelos reguladores seria a divisão do espectro e das redes, como ressaltou Lopes, da Ovum: “Anatel e Cade vão analisar com cuidado e devem colocar alguns remédios. Tem a questão do espectro. E você deixa o cenário com apenas três operadoras. TIM e Vivo já compartilham rede no Brasil, eles vão fatiar a Oi Móvel entre elas. Com isso, você tem um cenário com duas redes. Podemos ter uma infraestrutura TIM e Vivo de um lado, Claro com Nextel no outro, além de MVNOs e outras menores. Por outro lado, não tem muita novidade. O caminho é de consolidação em um setor que não cresce. Perdeu mais de 40 milhões de linhas nos últimos anos. Quatro redes competindo por um mercado que não cresce. É um momento de analisar se é viável ou não”.

Pelo lado financeiro, Sales, da Guide, afirmou que existe a possibilidade dos reguladores barrarem a transação, mas é bem remota. Recordou que, apesar dos boatos do passado, há poucos players realmente dispostos a comprar uma operadora móvel no País; e acredita que Anatel e Cade não devem trazer muitas barreiras para não Oi não passar pelo mesmo problema que a Avianca, uma companhia que entrou em processo de recuperação judicial – como a Oi –, mas não recebeu propostas viáveis de compra.