A relação entre bancos e operadoras pode ficar muito mais próxima com o 5G. Pelo menos este foi o tema defendido por representantes da indústria de telecomunicações no Ciab Febraban 2019, evento que começou nesta terça-feira, 11, em São Paulo. Na visão dos executivos, o 5G trará a oportunidade de escalar sob demanda o uso da rede, como acontece com os serviços de armazenamento na nuvem.

“O 5G é uma oportunidade para que as operadoras se tornem mais ágeis e flexíveis. Elas poderão ser inovadoras ao ponto que não teremos mais a diferença entre as operadoras de telecomunicações e as empresas que prestam serviço na nuvem”, disse Rodrigo Uchoa, diretor de negócios para transformação digital na Cisco.

Ainda assim, Uchoa lembra que há desafios em 5G. Principalmente em regulação, infraestrutura e modelo de negócios. Embora a quinta geração da Internet móvel traga a possibilidade de as operadoras abrirem suas plataformas para terceiros, o executivo crê que é preciso repensar a infraestrutura.

O executivo da Cisco cita, como exemplo, o fato que para a rede 5G será necessário aumentar em dez vezes o tamanho de cell sites: “Teremos que distribuir data centers pelas cidades. Imagine São Paulo, hoje com 6,8 mil sites, como vamos chegar a 70 mil? Por isso que o 5G é processo longo que demanda discussão”, afirmou o diretor.

Por sua vez, Luiz Fernando Bourdot, diretor de inovação tecnológica da Claro, lembrou que há desafios regulatórios também. Como o fato que hoje, os chips SIMCard para Internet das Coisas devem ter número telefônico, algo que pode inviabilizar muitos negócios que deveriam ter apenas tráfego de dados, sem voz. Recordou também que ainda não há um modelo definido para o leilão de 3,5 GHz do 5G.

Benesses do 5G

Em contrapartida, o diretor da Claro demonstrou que há potenciais imediatos para a quinta geração da Internet móvel. Com velocidades próximas de 1,5 Gbps de downlink, redução de latência para abaixo de 10 m/s e o atendimento a uma rede ampla com dez vezes mais dispositivos que o 4G, o executivo da Claro vê no 5G a oportunidade para o uso mais amplo de: assistentes digitais, corretagem rápida, IoT massivo, dispositivos vestíveis para pagamentos, novos meios de pagamentos e processamento de transações em tempo real.

Bourdot ainda explicou como pode funcionar o fatiamento da rede para bancos: “Na infraestrutura de rede 5G, existe a possibilidade de se dividir a rede (network slicing, do original em inglês). Esse fatiamento pode ser feito para se adequar aos serviços dos bancos. Uma vez fatiada, essa rede terá uma camada de orquestração que pode trabalhar de forma dinâmica para se adequar à necessidade dos clientes”.

Marcia Ogawa, sócia-diretora da divisão de tecnologia, mídia e telecomunicações da Deloitte no Brasil, frisou que o 5G pode ser um movimento conjunto de bancos e operadoras. Juntos, os dois setores podem atuar para criar negócios e para combater futuros avanços de OTTs e fintechs. Ogawa crê principalmente em negócios baseados no compartilhamento de dados.

“As operadoras podem entrar com a infraestrutura. E os bancos entram com o conhecimento sobre seu cliente. Além disso, existem zonas cinzentas que podem ter colaboração dos dois lados”, disse a executiva. “Esse é o momento para que os bancos comecem a pensar em construir suas aplicações para o 5G”.