De acordo com o noticiário South China Morning Post a Huawei vem desenvolvendo há sete anos um sistema operacional. Em 2012, executivos da empresa se reuniram para debater o crescente sucesso do OS de smartphone Android, do Google, em todo o mundo – software usado em seus próprios aparelhos. A preocupação subjacente era que a dependência do Android poderia tornar a empresa vulnerável a uma proibição dos EUA no futuro.

O sigilo do trabalho do grupo era total. Apenas pessoas autorizadas podiam circular e telefones celulares pessoais não eram permitidos e tinham que ser guardados em um armário externo. Separados em uma zona dentro da Huawei, a equipe começou a desenvolver um sistema operacional.

O Huawei OS é baseado em um microkernel (arquitetura de núcleo de um OS cujas funcionalidades são rodadas fora do núcleo) que é leve e pode reagir rapidamente a ajustes, de acordo com as fontes ouvidas pelo South China Morning Post. Os engenheiros da Huawei no projeto do OS também estudaram a fundo o Android e o iOS da Apple para aprender com eles.

“O sistema operacional da Huawei provavelmente chegará ao mercado neste outono e, no máximo, na primavera do próximo ano”, disse o diretor executivo e CEO da área de consumer BG Richard Yu Chengdong em uma discussão no WeChat. Embora a captura de tela da conversa tenha sido amplamente divulgada na mídia chinesa, a Huawei se recusou a confirmar as informações.

O tema do OS da Huawei surgiu nos noticiários em março deste ano, quando Richard Yu disse a uma publicação alemã que a empresa desenvolveu seu próprio sistema operacional para smartphones e computadores, que poderia ser usado nos dois dispositivos caso os sistemas atuais (Android e Windows, da Microsoft) deixassem de ser fornecidos pelos EUA.

Análise

Quando a Huawei iniciou seu projeto de desenvolver um sistema operacional, em 2012, ela tinha apenas 5% de participação no mercado global. Agora, o jogo mudou. A chinesa passou a Apple e é o segundo maior fornecedor de smartphones do mundo depois de vender um total de 206 milhões de celulares em 2018, de acordo com dados da IDC, com quase metade desse número indo para mercados estrangeiros.

Um dos maiores desafios técnicos para o sistema operacional da Huawei é sua compatibilidade com o Android. Como Google e Apple dominam 99,9% do mercado de smartphones, a Huawei não pode se dar ao luxo de falhar. Um sistema operacional na China talvez seja bem aceito, mas a outra metade de seu mercado, ou seja, o resto do mundo, talvez não esteja aberto a aceitar um novo OS.

A compatibilidade com o Android permitiria que um telefone Huawei com seu próprio sistema operacional baixasse e executasse aplicativos Android sem problemas. Ter uma camada de compatibilidade bem-sucedida com o Android também significaria que os desenvolvedores de aplicativos em todo o mundo não precisariam desenvolver um código extra para o sistema operacional da Huawei.

Da mesma forma, se o sistema operacional da Huawei não puder executar aplicativos para Android, a falta de um ecossistema de suporte próprio continuará sendo uma dor de cabeça para a empresa chinesa.

Relembre a novela

As declarações de Yu chegaram no momento em que os EUA começaram a aumentar a pressão sobre a participação da Huawei em lançamentos globais de redes 5G, alertando seus aliados de que o equipamento da empresa chinesa representaria um risco à segurança nacional.

A maior fornecedora mundial de equipamentos para redes de telecomunicações enfrenta uma série de acusações dos EUA, incluindo a de que a empresa roubou segredos comerciais, violou sanções econômicas e ocultou seus negócios com o Irã por meio de uma subsidiária não oficial.

A Huawei nega repetidamente e veementemente essas alegações, acusando os EUA de falta de provas.

A questão do sistema operacional teve uma urgência extra depois que o governo dos EUA colocou, em meados de maio, a Huawei e suas afiliadas em uma lista negra comercial que restringe a empresa de comprar serviços e peças de empresas norte-americanas sem aprovação.

O Google e a Microsoft, cujos softwares Android e Windows, dos quais a Huawei depende em grande parte em seus smartphones, tablets e laptops, suspenderam a Huawei e a proibiram, até segunda ordem, de usar seus sistemas em novos dispositivos.

Com apenas um adiamento de 90 dias do governo dos EUA até que os suprimentos sejam completamente bloqueados, a empresa chinesa finalmente teve que descortinar seus planos secretos de um sistema operacional alternativo.