Um dos maiores desafios no ambiente digital é o desenvolvimento e a manutenção de sistemas de identificação e autenticação de usuários que sejam simples, baratos e seguros. Muitas empresas criam isso por conta própria, mas, do ponto de vista do consumidor final, é cansativo ter que preencher um novo cadastro a cada serviço contratado – isso sem falar na gestão de múltiplas senhas. Um caminho para resolver esse problema é a construção de uma identidade digital que possa ser reutilizada de forma simples e segura em vários serviços e sem ferir a privacidade do usuário. A Mastercard decidiu apostar nesse caminho, aproveitando a força da sua marca e sua experiência no setor de pagamentos com cartão. A empresa lançou na Austrália uma solução de identidade digital que agora começa a ser testada no Brasil. Sua expectativa é emitir essa identidade para dezenas de milhões de brasileiros dentro de cinco anos.

“Enxergamos uma oportunidade de criar um ecossistema de identidade digital. Estamos conectando partes e colocando a nossa força de marca e nossa reconhecida confiança para construir esse ecossistema”, diz Leonardo Linares, vice-presidente sênior de produtos e soluções da Mastercard Brasil, em conversa com Mobile Time. A iniciativa faz parte de um empenho global da companhia em diversificar suas receitas, para além do setor de pagamentos com cartão.

Leonardo Linares, vice-presidente sênior de produtos e soluções da Mastercard Brasil.

Construção do ecossistema

O serviço criado pela Mastercard se chama ID e conta com uma logomarca que será usada no mundo inteiro, para ser facilmente reconhecida pelo consumidor final (veja abaixo).

A proposta da Mastercard é construir em cada país um ecossistema de empresas em torno do ID. De um lado haverá os chamados “provedores de identidade”, empresas encarregadas em emitir a identidade digital para o consumidor final dentro de padrões e regras do ID, definidos pela Mastercard. A ideia é ter até seis provedores de identidade por país. Na Austrália o primeiro é a operadora móvel Optus. No Brasil, os dois primeiros são IDPBR e Idwall – este último já superou a marca de 1 milhão de identidades emitidas, com seu serviço MeuID. Outros dois estão em negociação e serão adicionados em breve.

Outro elo nessa cadeia são as empresas que vão utilizar o ID para onboarding e autenticação de seus clientes. Através de um SDK fornecido pela Mastercard, elas poderão incluir em seus apps essa solução de identidade digital. Essas empresas, que a Mastercard chama de “relying parties”, definirão quais dados precisam do usuário em cada processo que requisitar identificação. E pagarão um valor por cada transação de identificação realizada. Ao se integrarem ao ID, automaticamente elas tornam possível que qualquer pessoa cadastrada em um provedor de identidade parceiro (Idwall, IDPBR etc) possa assinar seus serviços de forma mais rápida e simplificada, sem precisar preencher um novo cadastro.

Por fim, o ecossistema contará com revendedores da solução ID. Eles serão responsáveis pela busca dos “relying parties”, ou seja, empresas interessadas em usar essa solução. 

A receita pelo uso do serviço de identidade digital será compartilhada entre Mastercard, provedor de identidade e revendedor.

É possível traçar um paralelo entre o ecossistema que a Mastercard pretende construir em torno do ID e aquele de pagamentos com cartão. Os provedores de identidade operam como os emissores de cartões de crédito (bancos, fintechs etc). Os revendedores seriam as credenciadoras. E as relying parties, os varejistas.

Ponto de vista do consumidor

Para usar o ID, o consumidor precisará primeiro criar uma identidade digital com um dos provedores certificados, como idwall e IDPBR. Isso pode ser feito dentro dos apps desses provedores (como o MeuID, da idwall) ou de maneira transparente em um app de uma “relying party”. 

Para emitir essa identidade digital, o consumidor precisará fornecer uma série de dados biográficos e biométricos que serão verificados e validados pelo provedor de identidade com fontes próprias e externas.

A vantagem para o usuário final é que uma vez feito esse cadastro, sua identidade digital servirá para acessar quaisquer outros serviços digitais que se conectarem à plataforma ID. A disponibilidade será reconhecida pela exibição da logo do ID dentro dos apps das empresas conectadas à plataforma.

No onboarding em um novo serviço, o usuário clicará no ícone do ID, depois selecionará o provedor que emitiu sua identidade e, em seguida, fará sua autenticação por biometria facial. O consumidor é previamente informado sobre quais dos seus dados pessoais exatamente serão coletados ou verificados pelo novo serviço que está assinando.

Casos de uso

Na Austrália, um dos casos de uso do ID é para a venda de bebidas alcoólicas via e-commerce. O varejo digital consegue verificar com o ID se o consumidor é maior de idade. E essa pode ser a única informação requisitada ao provedor de identidade, minimizando, portanto, o acesso a outros dados pessoais desnecessários para essa operação de venda.

Para o Brasil, a Mastercard vislumbra diversos outros casos de uso, como o controle de acesso a edifícios corporativos; uso de gratuidade no transporte coletivo; entrada de estudantes com meia entrada em eventos; acesso a portais universitários; utilização de planos de saúde etc. A tecnologia está em teste neste momento com três parceiros: o Centro Universitário Santo Agostinho, no Piauí; a startup Amigo Edu; e o complexo de hotéis Brasil 21, em Brasília.

“O Brasil é um dos países que adota mais rapidamente tecnologias novas no mundo e aqui há grande necessidade de verificação de identidade, para evitar fraudes. Além disso, é um mercado de grande escala e que conta com um arcabouço legal que nos permite tratar os dados pessoais dentro de padrões estabelecidos”, explica Linhares, justificando a escolha do Brasil como um dos mercados prioritários para o lançamento do ID.

Mobi-ID

A Mastercard participará da 5ª edição do Mobi-ID, seminário sobre o mercado de identificação e autenticação digitais que acontecerá dia 19 de outubro, no WTC, em São Paulo, com organização do Mobile Time. Seu vice-presidente de produtos de identidade digital na América Latina e Caribe, Marcelo Bellini, estará no painel de abertura para debater sobre tendências desse mercado ao lado de Célio Ribeiro, diretor-presidente do InterID e Abrid; Gabriela Onofre, sócia e vice-presidente de comunicação e marketing da Unico; Pedro Alves, head de estratégia de identificação da Valid; e Rafael Figueiredo, CEO e cofundador da D4Sign. A programação completa e mais informações estão disponíveis em www.mobi-id.com.br