A falta de uma aplicação que simbolize o 5G gerou debate entre executivos de operadoras e outros players do mercado que participaram do Digital Transformation Summit da Qualcomm Brazil 2023, nesta terça-feira, 15.

O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, afirmou que o Brasil “tem tudo” para criar casos de uso no 5G, e citou a rede com a versão mais avançada (5G standalone – SA) da tecnologia, a segunda maior do mundo, atrás apenas dos chineses. Mas para Baigorri “falta um killer app” para atrair consumidores e mais investimentos à tecnologia móvel.

Para o CEO da Claro, Paulo César Teixeira, a rede móvel é o real ‘killer app” da quinta geração. Segundo Teixeira, 15% dos handsets em sua base são 5G e já respondem por 25% do total do tráfego da rede da operadora: “Os clientes de quinta geração consomem 2,5 vezes mais dados se comparado com os outros”, completou o executivo.

Corrobora a visão do CEO da Claro a queda no preço dos dispositivos 5G, como explicou Reinaldo Sakis, diretor de pesquisa e consultoria no IDC América Latina. De acordo com o executivo, 25% dos celulares 5G estão com um preço abaixo de US$ 200 (menos de R$ 1 mil) globalmente. O preço médio global dos handsets 5G caiu de US$ 900 em 2021 para US$ 620 em 2022 e terminou o segundo trimestre de 2023 em US$ 423.

Por sua vez, Leonardo Capdeville, CTIO da TIM, acredita que não existirá apenas um killer app, mas uma “série de aplicações” que vão melhorar a vida do consumidor. Ainda assim, Capdeville enfatizou os dois pontos que as operadoras devem enxergar como killer app para o consumidor: qualidade e eficiência da rede.

Consumo

Já Carlos Azen, gerente de financiamento do BNDES, afirmou que o FWA pode ser um dos killer apps do 5G ou até “o” killer app da atual geração das redes celulares móveis. O banco estatal aposta na tecnologia que leva banda larga doméstica via redes móveis de quinta geração para chegar a escolas e regiões rurais que hoje têm pouca ou nenhuma conectividade.

Luiz Tonisi, vice-presidente da Qualcomm e presidente da Qualcomm América Latina, indicou duas aplicações que podem guiar o consumo no 5G:

– a IA Híbrida, o uso misto de aplicações de inteligência artificial como serviços de geração de imagem na nuvem e no dispositivo (chip);

– e o uso massivo do vídeo na sociedade, seja no consumidor (B2C) ou nas empresas (B2B).

Tonisi afirmou ainda que a discussão desta terça-feira tem como objetivo mostrar que é possível trazer a conectividade com casos de uso, algo que só será alcançado com uma porção de dispositivos e um forte ecossistema para criar as aplicações no 5G.

B2B

Embora o evento tenha apresentado casos de sucesso no B2B, como Juganu com luminárias elétricas, teste em Itaipu com cão-robô 5G, além de uma série de dispositivos como óculos de realidade estendida da Lenovo, Beenoculus e até um miniPC conectado, Capdeville afirmou que os casos de B2B no 5G decepcionaram até o momento.

Diferentemente do 5G B2C, que o CTIO da TIM vê como forte potencial de crescimento, com expectativa de superar 50% de tráfego da rede da operadora em três anos, Capdeville avalia que o ritmo lento da chegada dos dispositivos ao segmento corporativo é um ponto fraco para o mercado. Acredita que as aplicações de B2B ainda “não usam o máximo do potencial do 5G”.

Para Alex Salgado, CRO da Vivo, há uma adoção crescente no B2B com 5G, mas ele concorda que “não é tão grande” como o esperado. Salgado acredita que isso acontece por uma questão de poucos “business cases implementados”. Mas o executivo da operadora prevê que isso deve ganhar tração nos próximos anos.

Ainda assim, Capdeville entende que há uma janela de oportunidades para o Brasil avançar nos próximos três anos com redução de preço de equipamentos e trazendo mais desenvolvedores de startups que ajudem a criar os casos de uso; e, com isso, ajudar a reindustrialização do Brasil com tecnologias que melhorem a competitividade.

*Da esq. para dir: Reinaldo Sakis, IDC; Paulo César Teixeira, Claro; Leonardo Capdeville, TIM; Alex Salgado, Vivo; Fiore Mangone, Qualcomm (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)