Os benefícios do open finance não precisam ficar restritos ao setor financeiro. Empresas de outras verticais, ainda que não façam parte diretamente da estrutura do open finance, também podem tirar proveito dele, ganhando mais eficiência e competitividade, além de melhorar a jornada de seus clientes. É o que vem sendo promovido pela Teros, que desenvolveu uma plataforma de gestão de dados pronta para o chamado “open everything”, seja em setores regulados, como o financeiro, como naqueles não regulados. Hoje, dos 25 clientes da plataforma da Teros, metade é de fora do setor financeiro, incluindo verticais como educação, saúde, varejo, seguros e bens de consumo. E muitas delas se beneficiam do open finance a partir de acordos com instituições financeiras que fazem parte dele.

Juan Ferrés, fundador da Teros, cita como exemplo o processo de venda, matrícula e cobrança de uma universidade. Hoje, isso requer uma complexa jornada envolvendo diversos sistemas e várias pessoas dentro da instituição de ensino. Mas, se a universidade tiver contrato com um banco participante do open finance, pode utilizar a plataforma da Teros para simplificar o processo. O cadastro com os dados do responsável financeiro, por exemplo, pode ser preenchido automaticamente via open finance. Para tanto, é preciso enviar digitalmente ao consumidor um termo no qual solicita seu consentimento para compartilhar dados cadastrais do banco onde tiver uma conta corrente para o banco parceiro da universidade, e em seguida para esta última. Cabe lembrar que, pela LGPD, os dados pessoais pertencem às pessoas, não às empresas que lhes prestam serviços. Havendo consentimento do consumidor para essa transferência de informações de um banco para outro banco e depois para uma empresa fora do setor financeiro, neste caso, uma universidade, não há problema. A cobrança da matrícula e das mensalidades posteriores também pode ser feita de maneira automatizada, através da funcionalidade de iniciação de pagamento, pelo banco parceiro da universidade diretamente na conta corrente do responsável financeiro em qualquer instituição financeira participante do open finance. E toda a gestão dos dados, seguindo devidamente a LGPD e as regras previstas em contratos, é feita através de uma plataforma customizada pela Teros.

Rentabilização

Depois de muito trabalho na estruturação do open finance, está na hora de as instituições financeiras monetizarem em cima dele, opina Ferrés. “A estrutura do open finance está chegando a um ponto de maturidade importante. Até bem pouco tempo não se conseguia fazer negócios com ela. Agora chegou a hora de rentabilizar o mundo open”, afirma. “As empresas correram para cumprir as centenas de normativas regulatórias do open finance. Agora é que estão tirando a cabeça para fora do ponto de vista regulatório e começam a ter espaço para pensar em produtos e serviços com o open finance”, comenta.

Entretanto, o executivo alerta que é fundamental que a coleta dos dados esteja sendo feita informando corretamente o consumidor sobre a sua finalidade, caso contrário, o esforço foi em vão. “Cuidar do dado não é só ter o consentimento da sua coleta, mas ter o consentimento do que vai ser feito com o dado. Se você não avisou o que vai ser feito, o dado não serve para nada. Muita empresa tem consentimento genérico que vale pouco ou nada”, alerta.

Open insurance e open investment

Outros dois setores cuja abertura de dados por exigência regulatória soa promissora são o de seguros e o mercado de capitais. O primeiro, chamado de “open insurance”, contudo, encontra resistência por parte das seguradoras tradicionais. “É a mesma resistência que se via em 2018 do lado dos bancos. Na hora que as seguradoras entenderem que o open insurance na verdade tem mais potencial de ganho do que de perda, a situação muda. Vai ser uma abertura de canais e de produtos”, comenta. “Hoje não se consegue contratar um seguro de um dia porque o custo da transação é alto. Com open insurance o custo vai ser ridículo. Será possível vender seguros como nunca se imaginou antes”, argumenta.

A abertura do mercado de capitais, por sua vez, ainda é só uma ideia, compartilhada recentemente pelo presidente da CVM. Mas Ferrés enxerga bastante potencial, aproveitando o fato de que as corretoras de ações já contam com seus processos digitalizados. A adoção de um padrão para troca de informações deve tornar esse mercado ainda mais pujante e expandir as possibilidades de negócios.