O pêssego foi um excelente ingrediente para compor o plant-based de frango desenvolvido pela NotCo. E, quem diria, abacaxi e repolho formaram a dupla ideal para simular o gosto do leite de vaca para o NotMilk. As descobertas, inusitadas, aconteceram graças ao Giuseppe, inteligência artificial da foodtech, cuja vertical B2B chegou recentemente no Brasil e já atua em alguns países – como Estados Unidos, Canadá e Chile. Seu diferencial é ajudar empresas da indústria de alimentos a otimizar a criação de novos produtos ou alterar suas composições, reduzindo significativamente o tempo de formulação: enquanto uma empresa pode levar até dois anos e meio para o desenvolvimento de um novo alimento, com Giuseppe é possível chegar ao resultado em seis ou oito meses.
A IA tem a capacidade de analisar grandes volumes de dados – desde perfis sensoriais e combinações de ingredientes até restrições regulatórias – para gerar soluções que antes levariam anos para serem descobertas.

Produtos NotCo. Crédito: divulgação
“O processo de desenvolvimento de um produto é certeiro. Testa-se e vemos as consequências. É uma combinação fatorial de possibilidades e, humanamente, é impossível testar tudo”, conta em conversa com Mobile Time, Giulia Braghieri, a nova diretora sênior de desenvolvimento de novos negócios B2B da NotCo. “A indústria alimentícia precisa de agilidade e a IA traz isso, além de ser uma maneira de trazer criatividade e explorar novos ingredientes”.
Para testar Giuseppe, a NotCo desenvolveu seus próprios alimentos. Começaram com a NotMayo, cerca de nove anos atrás. Mas foi em 2019, às vésperas da pandemia de Covid-19, que a empresa acelerou e escalou. Durante a pandemia, o processo foi mais intenso e, atualmente, a startup possui dez categorias de produto e expandiu para 14 países, entre eles Estados Unidos, além de ter fomentado sua vertical B2B com Giuseppe.
“O B2B é agnóstico de categoria, mas voltado para a sustentabilidade. Ou seja, não são desenvolvidos somente produtos veganos. E Giuseppe se adapta. Atualmente, 90% dos pedidos de empresas não são plant-based”, explica Braghieri.
As empresas da indústria de alimentos procuram a NotCo por dois motivos, basicamente: encontrar ingredientes que possam substituir itens de seus alimentos ou começar do zero um produto, fazendo todo o projeto, do conceito, passando pela formulação até a entrega.

Giulia Braghieri, nova diretora sênior de Desenvolvimento de Novos Negócios B2B da NotCo. Crédito: divulgação
“É uma plataforma de IA modular que vai de ponta a ponta. Ele entende os espaços em branco, elabora o conceito do produto e sua formulação. Nela, aprendemos que abacaxi misturado com repolho dá algumas notas de sabor de leite de vaca”, explica a executiva.
Entre os motivos para encontrar ingredientes que possam substituir outros estão safras ruins, preços altos – como o que acontece com ovos, cacau, arroz e laranja –, mas também por conta de regulações. É o caso dos Estados Unidos, em que a FDA deu o prazo de até 2027 para que as empresas removam corantes alimentares artificiais dos alimentos.
“Parece longe, mas 2027 está logo aí, mas a nossa tecnologia é muito rápida e consegue trazer soluções mais inovadoras”, conta.
Não à toa, a NotCo prevê que de três a cinco anos a vertical B2B ultrapasse a B2C nos negócios. E, para isso, a empresa trabalha para que Giuseppe ganhe uma camada mais amigável de UX e, com isso, melhorar sua usabilidade.
Exemplos de alimentos produzidos pela NotCo Tech com Giuseppe
Entre seus clientes estão a Craft e sua marca mais famosa, a Heinz. A missão de Giuseppe era tirar açúcar de sucos e molhos. “Já estamos nas etapas finais e em seis meses conseguimos fazer o que a indústria leva 2 anos e meio. A assertividade da IA é impressionante”, comenta a executiva da NotCo.
Com a Mars, fabricantes de doces e chocolates, Giuseppe ajudou a pensar em outros sabores de gomas.
Uma vinícola também procurou a NotCo para mudar sua imagem entre os jovens – que não bebem vinho por achar ser uma bebida de ‘velhos’. A missão da IA era diferente: como mudar a percepção deste público sobre o vinho.
E, para a própria NotCo, houve a produção do NotChocolate, produto desenvolvido em resposta às restrições regulatórias na Europa que limitam a exposição de produtos com alto teor de açúcar, gordura e sal em áreas de impulso, como pontos de checkout. Para isso, a empresa desenvolveu um alimento com escore nutricional abaixo de três no HFSS, essencial para a comercialização nesses espaços, sem açúcar, mas com aparência similar ao chocolate.
Outro produto desenvolvido com Giuseppe foi o No-Pee Lollipop, pirulito hidratante com eletrólitos e sem açúcar, pensado para festivais e para aqueles que não querem fazer várias idas ao banheiro.
Há ainda: um snack para humanos e pets; a Stay-Awake Popcorn, pipoca com cafeína e taurina (aminoácido envolvido em diversas funções, como o funcionamento do sistema nervoso central, a saúde do coração, a visão e a imunidade) para longas sessões de cinema; e o Not Chocolate Brownie, uma versão do brownie, sem cacau e ovos, idealizada como resposta ao aumento no preço desses ingredientes.