“Para garantir minha receita, preciso de conexões móveis confiáveis, com excelente cobertura e com uma boa velocidade de navegação garantida.” Essa afirmação poderia ter vindo de um CTO ou de um gerente de TI de alguma grande empresa. Ela veio, no entanto, de um taxista que me levou até uma reunião, há algumas semanas. Boa parte de suas corridas (algo em torno de 30%, segundo ele) são provenientes do uso de um aplicativo que faz a intermediação de taxistas e usuários cadastrados. Então, ele depende de um bom serviço de conectividade para seus negócios. O tempo que leva para um pedido de corrida aparecer em seu aplicativo e o seu tempo de resposta para aceitá-la fazem a diferença entre conseguir o cliente ou ficar rodando mais alguns quilômetros sem fazer dinheiro.

Por muito tempo, Internet e web foram quase que sinônimos. O papel da web foi fundamental, uma vez que ela deu tangibilidade a algo que parecia muito abstrato. Muitas empresas e diferentes modelos de negócio surgiram sobre ela, gerando um volume muito grande de dados, receita, empregos e investimentos em infraestrutura. A web foi, certamente, a primeira base sobre a qual rodaram os primeiros grandes apps existentes. Hoje, no entanto, pode-se dizer que tudo isso foi apenas a ponta de um gigantesco iceberg.

A Internet vai muito além da web. Seu papel mais fundamental é o de prover conectividade fim-a-fim, onde quer que estejam as partes – e não importando se é um computador, um tablet, um smartphone ou um sensor. Cada vez mais, a Internet se consolida como um serviço essencial, assim como a eletricidade e a água. Amparada por redes de fibras ópticas cada vez mais capilares, por tecnologias que tornam cada vez mais eficientes o uso dos meios de transmissão, por coberturas cada vez melhores de redes móveis, a Internet está aumentando a sua presença na vida de toda a população. Ela foi a grande viabilizadora da transformação pela qual o o mundo vem passando nos últimos anos – que impactou a forma como as pessoas vivem, fazem negócios, se comunicam e se relacionam.

Estamos, neste momento, no início de uma próxima grande onda. Estudos recentes apontam que, até 2020, teremos mais de 50 bilhões de dispositivos conectados à Internet. É um crescimento exponencial de um fenômeno que já percebemos hoje: a Internet das Coisas. Essa estimativa leva em consideração uma tendência, cada vez maior, de embarcar inteligência e conectividade aos dispositivos que, tradicionalmente, funcionariam off-line. Desde eletrodomésticos de uso comum, como geladeiras e cafeteiras, até dispositivos para fins bem específicos, com aplicações na agricultura, indústria automobilística, entre outros.

Do ponto de vista de negócios, um estudo publicado pelo Gartner em dezembro de 2013 dá uma ideia do potencial dessa nova onda: “Os fornecedores de produtos e serviços da Internet das Coisas vão gerar uma receita incremental que excederá US$ 300 bilhões, em sua maioria em serviços, em 2020. Isso resultará em US$ 1,9 trilhão de valor agregado na economia global por meio de vendas em diferentes mercados finais”. Todos esses números refletem a criatividade e o poder da força da comunidade. A Apple Store e a Google Play Store são grandes exemplos disso.

Essa explosão de dispositivos, espalhados por todos os lugares, gerando informações o tempo todo, dão as pistas dos desafios que as provedoras de serviços de telecomunicações vão enfrentar nos próximos anos. Como lidar com essa enxurrada de informações? Como lidar com o volume de dados cada vez maior, sendo mais criativos na hora de fazer seus investimentos? Como tornar suas redes mais otimizadas, com um time to market mais agressivo? Como monetizar o uso da própria rede por aplicações cada vez mais famintas por banda? Qual será o novo plano de endereçamentos capaz de lidar com essa quantidade enorme de dispositivos?

Já há movimentos na indústria que servirão de ferramentas para as provedoras encararem esses novos desafios. Estamos falando de IPv6, SDN, NFV, SON, Big Data, Business Inteligence. A cultura da inovação deverá permear, cada vez mais, áreas tradicionais das operadoras, como as de Engenharia e Operações de Redes. Países em desenvolvimento, como o Brasil e outros tantos da América Latina, possuem um desafio adicional: cobrir a lacuna de cobertura existente em suas infraestruturas de telecomunicações.

Voltando ao taxista do começo desse texto, é muito provável que ele não seja capaz de especificar os parâmetros técnicos que sua conexão demanda, como largura de banda, jitter, latência. Mas com base em sua experiência, ele é capaz de descrever o que precisa. Caberá, às provedoras, traduzir essas necessidades práticas para o que a sua rede deverá prover. Naquele dia, fui surpreendido por um taxista. Não se assuste, no entanto, se ouvir afirmações deste tipo vindas de um médico, jardineiro, advogado ou entregador de pizza. Eles podem estar usando aplicações que nem imaginamos que um dia pudessem existir.